“A Polícia Federal está com concurso na rua, salário inicial de R$
7.700 para agentes e escrivães, funções de nível superior. Você acha que
esses salários são exorbitantes em relação às atividades que esses
profissionais desempenham?”
Recebi esse e-mail de um leitor da coluna, incomodado com minha crítica
suave às greves dos servidores públicos federais. Greves que considerei
irresponsáveis por infernizar a vida de inocentes que ganham bem menos.
Como o piso dos jornalistas – profissão que também exige diploma
universitário e pode incluir riscos de vida – varia entre pouco mais de
R$ 1.000 e pouco mais de R$ 2.000, respondi que os servidores parados
estão descolados da realidade do país.
Será difícil para grevistas com estabilidade e salários em torno de R$
10.000 ganhar apoio, ainda mais pelo desrespeito à população. Por que os
300 mil funcionários parados não vão para Brasília e fazem um protesto
gigante na Praça dos Três Poderes? Talvez porque o ar esteja seco demais
na Capital. Dá preguiça. Exige planejamento.
O motivo principal é que protestos democráticos não causam o prejuízo
emocional e financeiro de bloqueios em estradas, aeroportos, portos,
hospitais e universidades.
O leitor desta coluna tem a resposta para o impasse – ele convida todos
a fazer parte da casta dos servidores: “Os salários do funcionalismo
são um pouco mais altos para reter no serviço público funcionários
compromissados, que desempenham atividades essenciais ao funcionamento
do país, como se pode inferir dos transtornos que temos observado nos
últimos dias. Se tais salários são invejáveis, os cidadãos que os
invejam podem também participar dos concursos, basta vontade de estudar
por meses, até anos”. Podemos deduzir que só os servidores estudam com
afinco – e que nosso trabalho não é essencial.
Provavelmente, a maioria dos leitores achará mesmo “exorbitantes” os
salários iniciais da Polícia Federal. E mais exorbitante ainda o aumento
exigido: eles querem R$ 12.000. De piso. Esse bando de baderneiros de
uniforme e boné vem distribuindo bombons e pizzas nos aeroportos para
famílias, assalariados, crianças e idosos. Reféns enfileirados por
horas, impotentes diante de uma operação-padrão de chantagem.
– Vocês deveriam distribuir nariz de palhaço, não bombons! –, disse um
passageiro aos policiais federais no aeroporto Juscelino Kubitschek, em
Brasília.
Há 643.404 civis trabalhando para o Poder Executivo, ou seja, para
Dilma. O piso dos auditores da Receita Federal, entre 2003 e 2010, deu
um salto mortal (para nós, não para eles): foi de R$ 5.000 para R$
13.600, um aumento 55% acima da inflação. É exorbitante. Mas eles não
estão satisfeitos.
Lula alimentou, em seus mandatos, a megalomania das centrais sindicais,
que estão se achando. Dilma demorou a reagir, o sentimento de
onipotência se alastrou entre os servidores, mas agora a presidente
precisa do apoio do país e da Justiça para não ceder aos grevistas.
Se as exigências fossem aceitas, o impacto nas contas públicas seria de
R$ 92 bilhões. Não dá. Não existe. Ponto. Lula demorou a apoiar Dilma,
mas elogiou a atitude da presidente na quarta-feira: “O dinheiro é
curto”.
Os grevistas acusam “a mídia desinformada” de jogar a população contra
os servidores parados há meses. Os grevistas produzem as manchetes e se
ressentem delas.
Há, sim, categorias com salários defasados. Elas erram e perdem a força
ao se unir a coleguinhas bem remunerados e ensaiar um rolo compressor.
Os reajustes pedidos variam de 20% a 70%. Que país pode hoje conceder
esses níveis de aumento?
Cito outro e-mail que recebi, de Virginia Paranhos Jardim, servidora do
Ministério Público Federal de Goiás: “Não se pode juntar toda a
categoria de servidor federal num só bolo. Tanto o Ministério Público
Federal como o Judiciário Federal estão sem qualquer reajuste há mais de
seis anos.
Enquanto isso, assistimos à inflação corroendo nosso poder
aquisitivo todos os dias”. Virginia me pediu que não divulgasse seu
salário. Entendo sua revolta. Mas quem está colocando tudo em “um só
bolo” são os 300 mil grevistas de mais de 30 categorias. Eles apostam na
orquestração do caos.
Eles não têm o direito de parar o país, parar você, me parar, parar os
carros e caminhões, parar o estudo de nossos filhos, parar a assistência
médica a nossos parentes, parar a importação de remédios. Isso não se
chama greve, mas abuso de poder. O governo deveria regulamentar as
fronteiras da greve no serviço público, de uma vez por todas.
Os sindicatos oportunistas estão incomodados com o “autoritarismo de
Dilma”. Dilma responde que está mais preocupada com quem não tem direito
a estabilidade e nem consegue emprego. Estou com Dilma. Os grevistas
incomodados que se mudem... para a Zona do Euro!
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