A ausência de mudanças no cenário da saúde pública estadual após a
decretação do estado de calamidade pública na área fez as entidades do
Fórum Estadual da Saúde decidirem retirar o apoio ao Governo do Estado.
Agora, o setor de Politrauma do Pronto Socorro Clóvis Sarinho pode
parar. Pelo menos é o que está sendo cogitado por médicos do Hospital
Mosenhor Walfredo Gurgel (HWG), de acordo com Francisco Braga,
vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremern) e plantonista
da unidade de saúde. O motivo para a paralisação, que ainda será
discutida entre os médicos que trabalham no setor, é a precária
estrutura da unidade para atender os pacientes, gerados pela
superlotação e o desabastecimento de medicamentos no HWG.
O setor de Politrauma é para onde a maioria das vítimas de acidentes em
todo o Rio Grande do Norte são encaminhadas pelas ambulâncias de
pronto-socorro, principalmente do serviço de atendimento móvel de
urgência (Samu), sendo a principal porta de entrada dos pacientes no
HWG. São pessoas que chegam com fraturas, traumatismos cranianos, cortes
ou perfurações profundas, entre outros ferimentos sérios. Nessa seção
do hospital, quatro médicos atendem por turno, sendo dois cirurgiões por
operação médica. Segundo dados da assessoria de comunicação o hospital,
entre os dias 5 e 12 deste mês (domingo a domingo) foram atendidos
1.063 pessoas no setor, uma média de 152 por dia.
A grande dificuldade, segundo Francisco Braga, está na superlotação do
hospital, que gera alguns entraves no atendimento. "Muitas vezes os
atendimentos são atrasados porque o setor de Politrauma está lotado com
macas de pacientes internados oriundos de setores como Ortopedia ou
Neurologia. Já houve casos em que se esperou entre seis a oito horas
para entrar com paciente na sala de cirurgia porque não tinha leito para
onde levar outra pessoa que já tinha sido operada. Como também já
aconteceu de se esperar quase 24 horas para abrir vaga na UTI [Unidade
de Terapia Intensiva]".
Francisco Braga afirma ainda que outro
ponto bastante incômodo para os plantonistas do Politrauma é o do
desabastecimento de medicação no HWG. "O que nos afeta mesmo é o
problema dos anestésicos. O que tem chegado só atende a demanda de uma
semana. Às vezes falta a raquianestesia (paralisação somente dos membros
inferiores) e chegou a faltar propofol (anestesia geral). Essa
desestrutura gera muita ansiedade e angústia entre nós, por não podermos
realizar a contento nosso trabalho".
Segundo o vice-presidente
do Cremern, a sugestão de paralisação do setor tem sido feita por entre
os médicos via mensagens de celular. "Ainda não foi marcada uma reunião
para definir essa questão, porém". Tereza Neuma, da Secretaria Estadual
de Saúde Pública (Sesap), alega não ter recebido qualquer informação
sobre a possibilidade de paralisação e, por isso, prefere não comentar o
assunto.
Temor
Uma possível paralisação no setor de
Politrauma do HWG gera bastante temor no coordenador do Samu Natal,
Rodrigo Azevedo. Isso porque, segundo ele, o setor é quem retém a
maioria das macas utilizadas pelas ambulâncias do serviço e uma
paralisação ou mesmo uma greve poderia ocasionar um colapso no
atendimento de acidentados na capital potiguar.
Rodrigo Azevedo
afirma que 60% das macas que ficam retidas no Walfredo Gurgel são
aquelas encaminhadas para o Politrauma. Para ele, o problema maior
acontece durante o final de semana, quando o volume de ocorrências e
consequente acúmulo de ambulâncias do Samu na unidade médica aumenta
bastante o lapso de tempo entre chegada e saída das macas. "O dia mais
crítico é a segunda-feira, quando quase todas ficam presas por lá devido
ao acumulado do final de semana e também porque é o dia em que mais
registramos acidentes de moto". O coordenador teme que uma greve nesse
setor possa fazer com que todas as macas fiquem retidas no hospital.
"Poderemos até deixar de atender ocorrências, caso isso aconteça".
Barriguda News
Via Diário de Natal/JPauloSousa
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