segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OS CAMINHOS além da poupança

Andrielle Mendes - Repórter

A economia do Brasil mudou e com ela mudaram também as regras da caderneta de poupança, símbolo um tanto paradoxal de segurança e rentabilidade no país dos investimentos. Com as novas regras, que passaram a valer no primeiro semestre, investir na caderneta se tornou uma 'loucura', segundo o palestrante, educador financeiro, e gerente geral do Instituto Nacional de Investidores (INI), Mauro Calil, autor de dois livros, entre eles o recém-lançado Separe uma Verba e Seja Feliz.
Insistir na poupança, para quem não fez isso antes das mudanças, é no mínimo desaconselhável. "Há outras opções bem mais rentáveis", justifica. A Letra de Crédito Imobiliário (LCI) é uma delas. O produto é tão seguro quanto a caderneta - investimentos de até R$ 70 mil são garantidos pelo banco emissor e pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) - e a rentabilidade chega a ser 30% maior que a da poupança, após as mudanças. O retorno do ativo também é isento de Imposto de Renda (IR) para a pessoa física. Sem o imposto, o produto se torna mais rentável que o Certificado de Depósito Bancário (CDB) - outra boa opção, segundo os economistas.

A poupança, segundo Mauro Calil, está rendendo 70% da taxa Selic. "Outros produtos como o CDB - espécie de empréstimo feito pelo investidor ao banco em troca de uma remuneração - rendem até mais que a Selic e tem a mesma segurança". Mas nem sempre foi assim.

Preferência

A poupança foi durante muito tempo a 'queridinha' dos brasileiros. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Pesquisa de Mercado Fractal em 2011 - o mais recente - a maioria dos brasileiros entrevistados disse preferir, naquele ano, a caderneta. "O brasileiro nunca teve muitas alternativas para investimento, é bem verdade", justifica Calil. Uma nova pesquisa já está em curso. Os resultados serão divulgados em outubro e segundo Celso Grisi, economista e diretor-presidente da Fractal, serão bem diferentes. "A poupança deixou de ser um bom investimento. A rentabilidade está muito baixa", afirma. Álvaro Barreto, presidente da Companhia Hipotecária Brasileira (CHB), vai além. Para ele, a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) ocupará o espaço hoje ocupado pela poupança. Filipe Queiroz, 27 anos, concorda. Ele trabalha como administrador num banco em São Paulo e investe há três anos. Começou comprando ações na bolsa de valores. Depois migrou para a Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Passou da renda 'variável' - com, teoricamente, maior rentabilidade e maior risco - para a renda 'fixa' - com menor rentabilidade e menor risco, pulando a caderneta de poupança. "Pulei, porque vi logo de cara que não compensava". Outras pessoas deverão fazer o mesmo que Filipe este ano, segundo Celso Grisi, da Fractal.

Na área de investimentos da CHB, a LCI é o produto que mais cresce. Em 2010, foram captados R$ 5 milhões. Em 2011, R$ 12 milhões. A expectativa, segundo a direção, é fechar 2012 com algo em torno de R$ 30 milhões, um incremento de 500% em três anos. Na Caixa Econômica Federal, banco com a maior carteira de crédito imobiliário do país, as LCIs somam mais de R$ 20 bilhões. Há um ano, totalizavam R$ 13 bilhões, segundo matéria publicada no Valor Econômico. O Banco do Brasil dará início à emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) a partir do início de 2013.

Diversificar investimentos é uma orientação dada pela maioria dos especialistas. Na visão deles, a caderneta de poupança se tornou a queridinha do país por falta de informação. Foi também o que apontou estudo do Instituto de Pesquisa de Mercado Fractal. Mas isso está mudando. "Existe vida além da caderneta de poupança", ressalta Calil.

Com inflação alta, caderneta brilhava

A poupança passou a render muito no Brasil quando a inflação era alta. Além de render muito, as regras eram muito simples. Por isso, esta modalidade de investimento se tornou cada vez mais popular, afirma Álvaro Barreto, da Companhia Hipotecária Brasileira (CHB).
Sem as mudanças nas regras da caderneta, a poupança teria se tornado "perigosamente atraente quando comparada a outros ativos", avalia Vinício de Souza e Almeida, coordenador do programa de especialização em Mercado de Capitais e professor adjunto no Departamento de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). "As regras da poupança foram ajustadas para manter o equilíbrio e a normalidade", acrescenta ele, doutor em administração (Finanças) pelo Instituto de Pós-graduação e pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para o professor, com os ajustes, a poupança agora permanece em pé de igualdade com outras alternativas de investimento. "Não tivesse havido ajustes na regra de rentabilidade da poupança, aí sim lideraria o processo de escolha. Ainda estamos nas reminiscências do que o burburinho provocou", acrescenta.

Em vigor há três meses, a mudança no cálculo do rendimento da poupança não inibiu a busca por essa aplicação. Segundo dados divulgados no último dia 6 pelo Banco Central (BC), a captação líquida da poupança (diferença entre os depósitos e as retiradas) somou R$ 8,252 bilhões em julho, o maior montante registrado para o mês desde o início da série histórica, em 1995. O resultado só não foi maior que em dezembro de 2009, quando a captação líquida havia atingido R$ 9,175 bilhões. Desde que o governo mudou as regras da aplicação na caderneta de poupança, no início de maio, a captação líquida não diminuiu.

Mudança vale desde maio

Anunciadas no início de maio, as novas regras da poupança atrelam o rendimento das contas ao juro básico da economia sempre que a Selic estiver em 8,5% ao ano ou menos. Em 30 de maio, a taxa caiu exatamente para esse patamar, o que acionou o gatilho. Os depósitos realizados a partir de então passaram a pagar a remuneração composta de 70% da Selic somada à Taxa Referencial (TR), o que corresponde a pouco mais de 0,48% ao mês. Quanto menor for a Selic, menor será o rendimento do dinheiro. Aplicações antigas, por sua vez, recebem juro maior: 0,5% ao mês mais a TR.

De acordo com o governo federal, a mudança na caderneta foi necessária para permitir que a Selic continuasse caindo e para evitar uma migração em massa de investidores para a caderneta de poupança. O risco existia porque, com a queda da taxa básica de juros, a poupança - um investimento de renda fixa,de baixo risco e sobre o qual não incidem taxas nem imposto de renda - fica mais interessante para o investidor. O temor era de que isso diminuísse os investimentos em renda variável, como a Bolsa de Valores.

Barriguda News
Via Tribuna do Norte

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