Jornal de Hoje
Reuniões com cargos comissionados; pressão em servidores para votar
em candidatos do prefeito; discursos exaltando que, com os aliados
eleitos, a situação da Prefeitura de Natal vai melhorar. Esses são os
fatos que a Coligação Liderados pelo Povo, encabeçada por Robinson
Faria, do PSD, usou para acusar o adversário Henrique Eduardo Alves, do
PMDB, de se beneficiar com a utilização da máquina pública de Natal,
comandada pelo primo dele, o prefeito Carlos Eduardo Alves – e que tem
como vice-prefeita Wilma de Faria (PSB), candidata ao Senado na chapa do
peemedebista. A ação pede a cassação do registro da candidatura de
Henrique.
Segundo o texto da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) tem
“em vista a existência de fortes indícios do cometimento de abuso de
poder político e de autoridade”, conforme argumenta o advogado Ronald
Castro de Andrade, que assina a peça. “O assédio moral pode ser
compreendido como todo comportamento abusivo que expõe o indivíduo a
situações humilhantes e constrangedoras através de gestos, palavras ou
atitudes repetitivas ou prolongadas, ameaçando dessa forma a integridade
física ou psíquica do assediado. Pois bem. Aqui será descortinado o que
já pode ser considerado o maior episódio de assédio moral aos
detentores de cargos em comissão já visto em campanhas eleitorais nos
últimos anos”, afirmou Ronald, utilizando para justificar isso, as
reuniões realizadas com cargos comissionados e discursos feitos pelos
que exercem cargos de chefia.
“É publico e notório que os Investigados estão se reunindo em salões
de festas da capital para o fim de discutir estratégias de campanha, ou
pelo menos é isso que querem passar para a sociedade Potiguar. Ao que se
sabe, foram realizadas três reuniões para aquele fim. A primeira: Os
amigos de Carlos Eduardo, no La Mouette; As amigas de Wilma, no
Versailles; e a reunião na surdina, omitida da mídia, com a esposa de
Carlos Eduardo e seus Secretários de confiança, no Hotel Villa Park”,
citou o advogado.
Se não bastasse reunir os cargos comissionados, aqueles que ocupam
cargos de chefiam ainda discursaram ressaltando a necessidade daqueles
votarem nos candidatos do prefeito – Henrique, Wilma para o Senado,
Agnelo Alves para deputado estadual e Sávio Hackradt para deputado
federal. “Mais especificamente na ultima reunião, acontecida na noite da
quinta-feira (24/09), na reta final da campanha eleitoral, os maestros
‘convidaram’ mais uma vez todos os cargos comissionados do município e
claramente os obrigou a apoiar a campanha do Candidato Henrique Eduardo
Lyra Alves e dos demais candidatos de Carlos Eduardo”, acrescentou o
texto.
Nesse encontro, a primeira dama, Andrea Ramalho, teria ressaltado aos
presentes que o chefe deles pediu engajamento, pediu que participassem
das manifestações que ocorrerão e o mais importante: que cada um dos
funcionários conseguisse mais 10 pessoas para votar em seus candidatos.
“O pedido, na verdade, soava como uma ordem. Para todos que lá estavam,
conforme o áudio anexado pode comprovar, não era facultada a
possibilidade de votar em outros candidatos. Havia, e há, uma ordem
expressa do chefe do executivo municipal para que eleja os seus
candidatos, principalmente Henrique Alves”, acrescentou o texto.
Em seguida, Ronald afirma que não há dúvidas que a entonação foi
utilizada para lembrar aos presentes “da fragilidade que o cargo que
ocupam possui, e que, naquele momento, eles teriam a oportunidade de se
manterem nele”. “Mais a frente ela ainda proclama: ‘Vocês não têm noção
de quantos votos a gente pode conseguir, eu já fiz as contas, sabe
quanto dá? Todo mundo que trabalha aqui? Todo mundo que tá aqui? Mais de
20 mil votos'”, citou o texto.
O advogado ainda colocou que os servidores comissionados são
obrigados a comparecerem a todas as “reuniões” e manifestações; assinam
lista de presença para que sejam contabilizados e posteriormente
cobrados; são obrigados a apoiar a causa e tornarem-se cabos eleitorais;
e são obrigados a conseguirem mais 10 (dez) pessoas de seu convívio. “É
nítido, como se vê, que não há pedido, mas uma ordem direta e vertical
para que todos os detentores de cargos em comissão não só votem, como
também angariem mais votos para o ‘Movimento'”, analisou o advogado.
“Comissionados são obrigados a multiplicar votos. Coação é diária”
Para a continuidade da AIJE, a coligação de Robinson Faria solicita a
disponibilização das folhas dos cargos comissionados da Prefeitura,
especificando nomes, quantidade e a devida lotação. Pede também o envio
da documentação e da peça, na íntegra, para o Ministério Público
Eleitoral. “Ao final, com a procedência da Investigação Judicial e a
condenação dos Investigados nos termos dos 22 e 24, da Lei Complementar
n.º 64/90, declarando-os inelegíveis pelo prazo de oito anos
subsequentes ao pleito, bem como a cassação do registro ou diploma, caso
tenha sido expedido”, pediu a ação, acrescentando ainda a aplicação de
uma multa no valor de R$ 50 mil.
A primeira dama, Andréa Ramalho, o presidente da Urbana, Jonny Costa,
o controlador geral do Município, Dionísio Gomes e Henrique Eduardo
Alves são chamados para prestar depoimento sobre o caso. “É nítido nos
autos o assédio que os servidores comissionados do município vêm
sofrendo, já que para os investigados não basta o voto do servidor,
seria necessário também que eles indicassem mais 10 pessoas, que também
indicariam mais 10 e assim por diante”, acrescentou a AIJE.
“Cida está pedindo para você dedicarem mais, se eu pude e não estiver
sendo atrevida, eu peço, também, se dediquem mais, tá. Mas eu agradeço
imensamente por vocês terem vindo, terem aceitado o convite, tá?”,
afirmou a primeira dama em uma das falas destacadas na AIJE. “Como se
vê, há nítida obrigação que os servidores sejam exímios cabos-eleitorais
dos Investigados, e, por assim serem, consigam atrair o maior numero de
eleitores para o grupo da situação – ‘Todo mundo que trabalha aqui?
Todo mundo que tá aqui? Mais de 20 mil votos'”, afirmou a AIJE,
ressaltando trecho do discurso de Andréa Ramalho.
“O discurso cheio de meandros da primeira dama não disfarça a sua
intenção eleitoreira, o fato é a consolidação do abuso de poder em favor
do investigado Henrique. A coação é diária, inconteste e abusiva. Os
comissionados são obrigados a comparecerem às reuniões e a multiplicar
os votos, e tudo com ciência direta dos investigados, que chegaram a
participar ativamente da primeira das reuniões e que sabem que a
Prefeitura está sendo usada para alavancar as suas candidaturas”,
acrescentou a ação.
Andréa Ramalho, claro, não foi a única a falar e deixar claro em suas
palavras a pressão sobre os comissionados – segundo a AIJE. Afinal, na
peça são destacados também discursos de outros que exercem cargos de
chefia, como o diretor-presidente da Urbana, Jonny Costa. “Todo mundo
sabe como era que nossa cidade estava, como era que a capital estava,
mas nem isso foi suficiente para sensibilizar o Governo do Estado atual
para conveniar e chegar com algum apoio, alguma ajuda. Muito pelo
contrário, tentaram dificultar o que puderam, e ta aqui o secretário de
obras que sabe disso, tentaram dificultar, ta aqui Elequicina, o que
puderam dificultar até hoje dificultaram”, afirmou ele, apontando que a
Prefeitura vai melhorar e o trabalho ficará melhor se Henrique e os
demais candidatos forem eleitos.
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