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O cientista político João Emanoel Evangelista, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), avalia que, no segundo turno da
disputa eleitoral pelo governo do Rio Grande do Norte, o quadro é
adverso para o atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique
Eduardo Alves, candidato do PMDB, sendo, portanto, favorável ao
candidato do PSD, Robinson Faria, que, na sua visão, reúne as melhores
condições de se eleger governador no pleito deste ano. Diferentemente
das análises que atribuem exclusivamente ao desempenho do candidato do
PSOL, Robério Paulino, a realização da eleição em dois turnos,
Evangelista destaca a votação de Robinson no primeiro turno como
excepcional, diante do gigantismo político e estrutural da campanha de
Henrique.
Henrique teve 702.196 votos, contra 623.614 de Robinson. No total, o
peemedebista somou apenas 4% de votos a mais que Robinson – percentual
muito pequeno. No percentual dos eleitores que compareceram às urnas,
Henrique teve 36,29% dos votos, contra 32,23% de Robinson. “Acho que
Robinson teve um desempenho muito positivo. Robinson, com todas as
dificuldades, poucos apoios políticos locais e toda a fragilidade
financeira, teve uma votação espetacular para o contexto”, analisa
Evangelista.
Apesar do bom desempenho eleitoral de Robinson, Evangelista considera
fundamental a votação de Robério para o quadro de segundo turno. O
candidato do PSOL somou 129.616 votos, ou 6,70% dos votos dos eleitores
que compareceram às urnas. Na visão do cientista político, o destino dos
votos de Paulino será decisivo no segundo turno. “Uma parte desses
votos tende a aumentar a abstenção, em geral acontece assim no segundo
turno. E o que sobrar de Robério provavelmente vai para Robinson”, diz.
A avaliação de Evangelista se baseia em dados de pesquisas divulgadas
no primeiro turno que mostram que os eleitores indecisos têm maior
rejeição a Henrique. “Além disso, vi diversos casos de eleitores que
manifestaram que iriam votar em Robério no primeiro turno e em Robinson
no segundo. Claro que são manifestações individuais, não posso precisar o
montante de eleitores com esse perfil. Mas, minha impressão é que uma
parte desses votos de Robério tende a ir para Robinson. Mais do que para
Henrique”, declara.
Na visão do professor, o debate agora “é saber se esse percentual
será suficiente para Robinson virar, ou não”, já que, pela votação em
primeiro turno, Henrique venceu o pleito com mais de 70 mil votos a mais
que Robinson. “É outra discussão. Mas eu diria que o quadro é mais
adverso para Henrique que para Robinson”, afirmou.
ESTRATÉGIA FALHA
Na visão do cientista político, o quadro também tende a ser adverso
para Henrique no segundo turno porque a estratégia eleitoral do
peemedebista foi totalmente construída em cima da possibilidade de
vitória no primeiro turno. “Com um amplo leque de alianças, com
praticamente todas as forças políticas do Estado, a estratégia de
Henrique era ganhar no primeiro turno. Como não ganhou no primeiro
turno, corre risco grande de que tenha um resultado adverso no segundo”,
alerta.
Além disso, a estratégia dos “acordinhos municipais”, costurados por
Henrique com governistas e oposicionistas nos municípios, falhou, já que
o povo dificilmente acompanha os líderes locais no voto majoritário
para governador, senador e presidente da República. “Eu sempre dizia que
Henrique tinha algumas dificuldades. A primeira é a rejeição ao nome
dele, que é histórica na disputa majoritária. A segunda é que a aliança
dele não levou em consideração a dinâmica política local nas pequenas
cidades”.
Evangelista explica que nos municípios, quando se trata de voto
majoritário, as lideranças não têm o controle absoluto sobre o voto do
eleitor. “São duas facções que se digladiam de forma constante, porque
as eleições ocorrem de dois em dois anos. Aí juntar partes, que são
adversárias, no mesmo palanque, para parte do eleitorado era
inadmissível. Por isso que, em que pese essa aliança, em muitos
municípios terminou com o voto majoritário em Robinson”.
“Acordinhos de Henrique falharam nos municípios”
Classificado de “acordinhos municipais” pelo candidato Robinson
Faria, em referência ao que chamou de “acordão de Henrique” -, a
tentativa de reunir adversários municipais em palanque único
pró-Henrique falhou em grandes colégios eleitorais, como Mossoró, Pau
dos Ferros, Assu, Parnamirim e outros. Em Mossoró, contando com a
maioria das lideranças locais, Henrique perdeu por diferença superior a
20 mil votos para Robinson. Além disso, na capital do Oeste, os
candidatos a deputado estadual e federal do chamado “acordão” perderam a
eleição, a exemplo dos deputados Sandra Rosado (PSB), Leonardo Nogueira
(DEM) e Larissa Rosado (PSB), integrantes do arco de aliança a favor de
Henrique, que não conseguiram se reeleger. A ex-prefeita Fafá Rosado
(PMDB), que disputou uma vaga de deputada federal, teve votação pífia.
Em Pau dos Ferros, Henrique reuniu o grupo do deputado Getúlio Rego
(DEM) e o do ex-deputado Elias Fernandes (PMDB), tradicionais rivais.
Mas lá, Robinson também venceu.
Evangelista diz que o fenômeno da rebeldia dos eleitores, que não
seguiram majoritariamente seus líderes nesses municípios, favorecendo
Robinson, aconteceu porque a liderança local não tem o controle sobre o
voto majoritário, principalmente para presidente, senador e governador.
“Esse controle é exercido melhor nos votos de deputado federal e
estadual, que é o voto que assegura a sobrevivência política, seja do
prefeito ou do vereador na eleição seguinte”, diz, acrescentando que a
manutenção da liderança e a fidelidade é o que assegura a reeleição dos
políticos, de um lado e de outro. “As lideranças locais têm controle
efetivo apenas dos votos de deputado federal e estadual.
Porque o voto
do eleitor tem gradação de liberdade, ou autonomia. Atende ao apelo do
líder local para os candidatos a deputado federal e estadual, até para
não obstruir os canais de comunicação quando precisa da atenção da
prefeitura ou da política assistencial feita pelos vereadores. Mas, o
voto majoritário, o eleitor tem relativa autonomia, define como quer”.
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