Dias atrás publicamos uma matéria sobre a casa do estudante postando o e-mail enviado pelo estudante de engenharia Jorge Danilo (Alexandriense). Mais de 5.000 acessos tornaram a matéria a mais vista da semana. O assunto ganhou a grande mídia através do poratl JH. Leiam a reportagem:
Não é novidade para ninguém a situação em que vivem os moradores da
Casa do Estudante, na Cidade Alta, fundada em 1946. Quando um histórico
de abandono vem se repetindo ao longo dos anos, a perspectiva de mudar
de vida é praticamente nula. Para os pouco mais de cem jovens que vivem
atualmente na Casa, a luta pela sobrevivência ganha agora mais um
agravante: o pouco estoque de comida, que restou de doações, só deverá
durar por mais dois dias.
O Jornal de Hoje fez uma visita às instalações da Casa do Estudante
na manhã desta quarta-feira e verificou mais uma vez a situação precária
– e infelizmente corriqueira – em que vivem os moradores. Portas
quebradas, paredes rachadas, estruturas com risco de desabamento, odor,
infiltrações e dispensa de comida praticamente vazia. Sem direito a café
da manhã e jantar dignos, os moradores, compostos por uma maioria de
estudantes vindos do interior do Estado, só fazem uma alimentação no dia
e precisam se virar na rua.
De acordo com Jorge Danilo, presidente da Casa do Estudante do Rio
Grande do Norte (CERN), o repasse da verba pelo Governo do Estado para
os comerciantes que fornecem a alimentação da casa está atrasado há
meses e ninguém da Secretaria de Estado do Trabalho, Habitação e
Assistência Social (Sethas), responsável pelos repasses, está resolvendo
a situação.
“Estamos sem receber feijão, arroz, macarrão, vitamilho, aveia,
frango e carne bovina porque os fornecedores não estão recebendo
absolutamente nada do Governo. Um está com o déficit contratual há sete
meses e outro há nove. Enquanto isso, nossa dispensa vai esvaziando e a
geladeira permanece vazia”, destaca Jorge. “Os mantimentos vão acabar e
nós não recebemos a assistência de vida”, afirmou.
O presidente da Casa informou que há tempos vem procurando a Sethas e
as pessoas responsáveis pelos pagamentos aos fornecedores, mas nunca é
recebido por ninguém. “Fazem uns 20 dias que estou entrando em contato
com a secretaria e a única informação que me dão é que estão em
reunião”, disse.
“As vezes me desperto de profundos devaneios, procurando entender
porque o Estado não se interessa em investir nos estudantes, já que
somos pagadores de impostos e permaneceremos pagadores no futuro. São
nesses momentos que a gente ver quem verdadeiramente é perseverante.
Queria uma justificativa do por quê a Sethas não efetuou os pagamentos
aos fornecedores”, questionou Jorge Danilo. O Jornal de Hoje tentou
fazer contato com a Sethas, mas não obteve sucesso.
O descaso com o patrimônio público e histórico do RN, bem como com os
moradores, já pode ser visto logo na entrada do imóvel. O portão da
casa está permanentemente aberto, sem nenhum guarda patrimonial. À
noite, a vigília é feita por um dos moradores, que recebe um pequeno
salário com arrecadações dos próprios residentes.
No local onde deveria ser a recepção, a sujeira é notável e o
ambiente impossível de permanecer por muito tempo. Um dos cenários mais
críticos é na sala de estudo, que está interditada pela Defesa Civil com
risco de desabamento. O cômodo está totalmente deteriorado. Como o
telhado e as paredes estão com infiltração, o salão vive alagado e com
lodo no chão. Móveis para estudo já não existem no local.
Entre as precariedades de toda a Casa do Estudante, o quarto do
residente Israel Martins é o que chama mais atenção. O ambiente em que
dorme tem cheiro de mofo e parte do teto no chão; colchões sujos; livros
velhos empilhados; mesas e cadeiras quebradas; e algumas frutas que
Israel costuma consumir diariamente – provavelmente cheia de bactérias
por não haver lugar apropriado para guardá-las.
“Esse é o meu lugar na casa e o único lugar que tenho para viver.
Tenho ensino médio incompleto e estou aqui através de uma solicitação da
assistente social, pois não possuo ninguém mais próximo de mim. Faço
alguns ‘bicos’ para conseguir um dinheiro, mas nada suficiente, que me
dê condições de sair daqui. O pouco que ganho é para comprar comida e
algumas roupas, quando dá”, afirmou Israel.
A última reforma na Casa do Estudante, considerada apenas “maquiagem”
pelos moradores, aconteceu em 2007, no governo de Wilma de Faria. De lá
para cá nada mais foi feito, apesar das promessas e da assinatura de um
Termo de Ajustamento de Conduta feito entre o Governo do Estado e o
Ministério Público.
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