Até então favorável ao projeto que obrigava os clubes a pagarem suas
dívidas em 25 anos, o tetracampeão mundial Romário retirou o seu apoio
durante votação no fim desta tarde, com o sucesso do lobby pela exclusão
dos pontos que permitiam o avanço sobre a receita da CBF. O deputado
federal (PSB-RJ) disparou contra a articulação feita pela entidade,
chamou os seus dirigentes de "ladrões, safados e cretinos" e nomeou um a
um os responsáveis por barrar a proposta.
A reunião na Comissão
Especial ainda não foi encerrada e corre o risco de ser retomada somente
nesta quarta-feira por causa da tentativa do Governo de também obstruir
o relatório. O Palácio do Planalto está preocupado com a situação das
loterias.
A princípio, segundo o texto original do deputado Otávio
Leite (PSBD-RJ), até 10% das receitas da CBF com patrocínios da seleção
seriam destinadas para a criação de um fundo de iniciação desportiva.
Romário, então, sugeriu que a fatia do bolo fosse aumentada, abrangendo
ainda os direitos de transmissão dos amistosos do time comandado pro
Luiz Felipe Scolari, as cotas de participação em campeonatos,
bilheterias e produtos licenciados.
A entidade comandada por por
José Maria Marin entrou em cena e, conforme mostrado pelo ESPN.com.br,
conseguiu conter a proposta e desmembrar o projeto em dois contando com o
apoio dos clubes e do ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
Frustrado
com o desfecho das discussões, Romário não poupou a CBF e atacou
especialmente a chamada ‘bancada da bola' mantida por ela na casa.
"Antes
do meu voto, queria aqui aproveitar a oportunidade de dizer que não
pude ouvir todas as palavras do deputado Silvio Costa e talvez eu até
discorde de algumas coisas que ele deva ter colocado, mas o que eu quero
dizer é que, depois de tudo que foi feita nessa comissão, todas as
audiências públicas que foram realizadas aqui e fora daqui pelos
senhores e pelo empenho árduo do relator (Otávio Leite), é realmente uma
situação vexatória, constrangedora esse projeto ser dividido em dois
porque tínhamos a oportunidade, como foi colocado pelo relator de
‘enquadrar', no bom sentido da palavra, a maior entidade do futebol
brasileiro e a mais corrupta também, que é dirigida por ladrões, safados
e cretinos. Eu pude ver nessa comissão que infelizmente existe uma
bancada da CBF. São deputados que não têm o mínimo de respeito com o
futebol brasileiro e com a população brasileira. Nós estamos no período
de votação e eleição e esse projeto é um projeto eleitoreiro, deputados
que são a favor do projeto estão pensando em sua eleição, com a ajuda
direta e indireta da CBF", discursou o ex-atleta até ser interrompido
por um de seus colegas.
"Não citei o seu nome, vou citar todos os nomes. Aqui não tem meia palavra", prosseguiu.
"Então,
o seguinte: em relação a esses deputados, eu quero afirmar que é uma
vergonha para mim como deputado, fazer parte, me considerar colegas
desses deputados: Vicente Cândido (PT-SP), Rodrigo Maia (DEM-RJ),
Guilherme Campos (PSD-SP). Foram deputados que mostraram que a CBF está
acima de qualquer coisa em relação ao esporte brasileiro, a moralização.
Inclusive, o senhor presidente (Jovair Arantes (PTB-GO)) também está
nesse grupo. É uma pena, é uma vergonha esse projeto, esse relatório. A
gente tinha a oportunidade única de enquadrar a CBF, que é um bando de
ladrão, inclusive, o seu representante que deve estar aqui ouvindo",
completou.
Além da atuação do Governo tentando barrar a proposta, a
votação parcial foi marcada também pela forte presença de
representantes de clubes, dentre eles, o presidente do Flamengo, Eduardo
Bandeira de Mello, o diretor financeiro do Corinthians, Raul Correa da
Silva, e o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade. Na última
semana, eles encaminharam documento para a comissão pedindo a saída dos
pontos envolvendo a CBF.
A expectativa deles é de que o
parcelamento de suas dívidas seja definido até a o pontapé inicial da
Copa do Mundo, no mês que vem. A parte da CBF ficaria somente para o
segundo semestre.
"Mais uma coisa para finalizar: eu tenho apenas
um mandato de deputado. Não tenho medo de cara feia, de falar alto, de
líder, de vice-líder, de preto, de branco, de maior, de menor. Tenho
aqui os mesmos direitos de todos. Estou preparado para qualquer
situação. Tenho consciência de que toda ação tem uma reação. Mas não
admito essa sacanagem em relação ao futebol brasileiro", concluiu.
Via ESPN
Foto: Agência Brasil
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