Brasília (AE) - A Câmara dos
Deputados aprovou a liberação de publicação de biografias sem
autorização prévia. O projeto cria a possibilidade de quem se sentir
atingido em sua honra com a obra buscar um juizado especial em busca de
uma decisão que retire da biografia o trecho questionado em edições
futuras. Esse pedido andaria em paralelo a ações civis e criminais
consideradas cabíveis pela pessoa que se julgar prejudicada. O projeto
segue para votação no Senado. O tema chegou ao Congresso após um intenso
debate no meio artísticos. Figuras públicas como Roberto Carlos,
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque chegaram a se organizar em
um grupo, o Procure Saber, para defender a necessidade de autorização
com o argumento de que as obras poderiam ferir o direito a privacidade
Após divergências internas, Roberto Carlos acabou deixando o grupo.
O tema está em debate no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o
Sindicato Nacional dos Editores de Livros questiona um artigo do Código
Civil que tem sido usado em decisões judiciais para sustentar decisões
de censura prévia de publicações.
A mudança aprovada na Câmara
altera o artigo questionado no STF. O Código Civil passaria a deixar
expresso que “a ausência de autorização não impede a divulgação de
imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja
trajetória pessoal, artística e profissional tenha dimensão pública ou
esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade”
Os
deputados, porém, incluíram uma ressalva de que por decisão de juizado
especial é possível retirar trechos em edições futuras. Pelo texto
aprovado, “a pessoa que se sentir atingida em sua honra, boa fama ou
respeitabilidade” poderá fazer a requisição, sem prejuízo de pedidos de
indenização e eventuais ação penais. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO)
foi o articulador da mudança, mas ele pretende que no Senado seja feita
nova mudança para que seja possível barrar a publicação de trechos em
eventuais reimpressões.
Relator da proposta, Alessandro Molon
(PT-RJ) acredita que foi encontrado um equilíbrio entre os argumentos de
defesa do direito à privacidade e à liberdade de expressão. “Esse
acordo permitiu uma fórmula que equilibra esses direitos em aparente
oposição”, disse o petista. Uma das poucas vozes a se manifestar contra a
proposta, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) argumentou que cabe ao
Judiciário definir qual dos direitos deve prevalecer na análise
individual de cada obra. “Não cabe à lei dar prevalência a um direito em
relação ao outro”, argumentou.
O deputado Miro Teixeira
(PROS-RJ) defendeu após a votação uma nova alteração a ser feita no
Senado. Ele sugere que seja restringida a possibilidade de recorrer a
juizados especiais para evitar que ações repetidas sejam apresentadas em
vários foros com a intenção de prejudicar o autor da publicação, que
teria dificuldade em fazer uma defesa eficiente. Ele destacou que a
prática de ações em vários foros já foi usado no caso de publicações
jornalísticas.
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