Fonte: Tribuna do Norte
Repórter: Roberto Lucena
Setecentos policiais militares estão afastados de suas atividades devido
a problemas de saúde. O montante corresponde a quase 8% do efetivo
total. Parte dos PMs foi remanejado para serviços burocráticos ou
administrativos da corporação. A maioria, no entanto, está desocupada.
Entre as enfermidades responsáveis pela retirada dos policiais das ruas,
destacam-se as doenças psiquiátricas que são as causas de 45% das
licenças médicas.
Há duas formas para o policial deixar suas funções ordinárias.
Dependendo do diagnóstico médico, o PM é afastado completamente do
trabalho ou assume outra função dentro do Comando. Atualmente, existem
399 policiais na primeira condição e mais 301 homens na segunda. Os
dados foram revelados pelo Centro de Atenção Básica à Saúde da Polícia
Militar do Rio Grande do Norte (PM-RN) e foram atualizados ontem, dia
28, um dia após um soldado atear fogo em três motocicletas, atentar
contra a própria vida e ser internado em um hospital psiquiátrico de
Natal.
Os números revelam ainda que as doenças psiquiátricas respondem pela
maior demanda no setor. São 318 policiais que, hoje, enfrentam algum
transtorno psíquico e, por isso, deixaram as ruas. Há outro dado
preocupante nas estatísticas da PM-RN. Nos últimos sete meses, foram
diagnósticos 73 novos casos de doenças psiquiátricas na corporação. Em
dezembro de 2013, eram 245 policiais doentes. A evolução resulta em uma
média de 10 novos casos por mês.
De acordo com o diretor de Saúde da PM-RN, médico e coronel Silvério
Monte, há três fatores que explicam a evolução do quadro: policiais com
histórico de doenças antes de ingressar na corporação, a própria
natureza da atividade policial e a falta de efetivo que possibilitaria
um rodízio entre os praças. “Temos policiais que são inaptos para a
atividade e estão em atividade. É um risco”, alertou.
O coronel explicou que alguns policiais, no ato de ingresso na
corporação, são reprovados nos exames médicos. “A maior parte é
reprovada nos testes psicológicos e psiquiátricos”, disse. Mesmo com a
reprovação, os então candidatos conseguiram decisões judiciais que
obrigam o Comando da Polícia a efetivá-los. “Ou seja, o policial já
ingressa com problemas que podem vir à tona a qualquer momento”,
completou. O coronel não soube mensurar quantos policiais que
apresentaram restrições durante os testes de ingresso estão na ativa.
A atividade policial é estressante por natureza. Combater o crime,
andar armado, sofrer pressão da sociedade e enfrentar problemas
estruturais resultam em problemas emocionais. “É o mesmo que estar em
uma guerra todos os dias. O risco é muito alto e é preciso um equilíbrio
entre mente e corpo”, ponderou coronel Monte.
Para encontrar esse “equilíbrio”, a ajuda do profissional médico é
indispensável. Psicólogos e psiquiatras podem ajudar. No entanto, a
PM-RN conta apenas com um psicólogo e um psiquiatra. Este, aliás, está
afastado do serviço por problemas de saúde. Há 13 anos não há concurso
para recomposição do quadro da equipe de saúde da Polícia Militar.
O ideal, segundo o coronel, seria que a PM-RN contasse com pelo menos 3
psiquiatras e 15 psicólogos. A falta de efetivo atrapalha e inviabiliza
uma solução para o terceiro fator apontado como causa para o
afastamento dos policiais do serviço. “Se tivéssemos um efetivo maior,
poderíamos fazer um rodízio nas equipes. Dar folgas para os policiais
que vivenciaram algum episódio traumático”, explicou Silvério Monte.
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