Por André Araújo*
Assessor de comunicação da Diaconia.
O galo ainda ensaiava o bom dia no Sítio Malhada
Branca, em Alexandria, município do Oeste Potiguar, quando Antônio
Ambrósio, mais conhecido como Seu Poraqué, ansioso, arrumava-se para
viajar. Era a primeira vez que o agricultor participava de um
intercâmbio visitando experiências de famílias agricultoras com práticas
agroecológicas e conhecendo tecnologias sociais de convivência com o
Semiárido. O Intercâmbio Intermunicipal aconteceu nos dias 26 e 27 de
Junho em Umarizal e é uma das ações do Programa Uma Terra e Duas Águas
(P1+2), executado no município pela Diaconia.
Mas
Seu Poraqué não estava sozinho: outros dez agricultores e agricultoras
das comunidades de Serrota, Vertentes, Riacho do Meio, Piató e Papagaio
percorreram quase 70 km de Alexandria a Umarizal. Dona Lenira precisou
mobilizar toda a família para conseguir participar da viagem, e contou
com o apoio das noras, dos filhos e do marido, que ficou em casa
cuidando do neto, que tem necessidades especiais. Cheia de expectativas,
a agricultora, que também é presidente da Associação Comunitária de
Riacho do Meio, não via a hora de ver de perto a cisterna calçadão, que
até então, ela só conhecia pelas fotos e vídeos apresentados nas
capacitações.
A primeira parada do grupo foi no
escritório local da Diaconia, para conhecer a instituição e para um
momento de acolhida com o animador de campo Fabio Veríssimo. Depois
seguiram para Cacimba do Meio, comunidade onde reside a família do
agricultor Antônio Iranildo Ferreira,
que desde 2005 trabalha de forma agroecológica com a ajuda das diversas
tecnologias que eles têm na propriedade como a cisterna de 16 mil
litros, a barragem subterrânea, o cacimbão e o biodigestor. Iranildo
conta que quando começou ia de bicicleta para feira de Caraúbas vender
os seus produtos. São mais ou menos 30 km da sua casa para a cidade. Mas
depois com a renda da agricultura, conseguiu comprar uma moto, um carro
e por último o terreno de 3 hectares, onde construiu a casa onde vive e
trabalha com a família há mais de dois anos. Apesar das dificuldades,
ele não desanima, ao redor da casa, é possível encontrar de tudo, além
de hortaliças e árvores frutíferas, ovelhas, galinhas, porcos e
futuramente, ele planeja ter uma criação de codornas.
“Pouca
terra, muita fartura”, espantou-se o agricultor Francisco da Serrota,
com a força de vontade e sabedoria de Iranildo em conseguir produzir
tanto em um espaço tão pequeno e também com os métodos agroecológicos de
reaproveitamento dos recursos locais. As águas da casa e da fossa são
reutilizadas, depois de tratadas, para a irrigação de determinados tipos
de plantio e o esterco do gado e as folhas dos pés de nim viram adubo e
fertilizantes naturais, respectivamente.
Durante
a visita, depois de apresentar o seu quintal produtivo e contar um
pouco sobre a sua experiência, Iranildo ainda recebeu dicas do
agricultor Francisco de como cuidar dos porcos e economizar água.
“Estamos aqui para repassar um pouco do que a gente sabe, mostrar que é
possível viver da agricultura, conviver com o Semiárido, mas também
estamos aqui para aprender”, concluiu.
No
segundo dia, o grupo visitou a comunidade de Nevoeiro, em Olho d’água do
Borges, para conhecer as tecnologias sociais do P1+2 – a cisterna
calçadão e de enxurrada. Guiados pelo Animador de Campo do Centro Padre
Pedro, Josivan Antonio, eles ainda puderam acompanhar o processo de
construção. Seu Poraqué ficou impressionado com o tamanho da cisterna.
Ele conta que em 2005, quando recebeu a de 16 mil litros, a primeira
coisa que fez foi aposentar o jumento, que usava para buscar água para
beber, em uma cacimba que fica há meia légua de distância da sua
propriedade. Agora, ele não vê a hora de receber a cisterna da segunda
água para começar a plantar mamoeiro, como as agricultoras do Grupo de
Mulheres Unidas pela Paz do Assentamento São José, em Caraúbas, a última
experiência visitada durante o intercâmbio.
O
Grupo é composto por quatro mulheres, que em meia tarefa de terra
cultiva mais de 70 pés de mamão, canteiros de hortaliças e uma pequena
área com feijão, milho e batata. O que elas colhem no quintal produtivo
além de ser comercializado na comunidade e na feira, é aproveitado na
cozinha comunitária, onde beneficiam frutas e produzem doces e bolos.
Mas a especialidade do grupo é o bolo de mamão. Quem visita o
assentamento não sai de lá sem provar. “No começo, as pessoas ficam
receosas, mas depois de experimentar, vira cliente”, comenta Dona
Corrinha.
Depois de dois dias de atividades,
Dona Lenira só pensava em chegar em casa para contar para a família e
para as vizinhas tudo que aprendeu. Contador de histórias, Seu Poraqué
já avisou que a noite seria pequena para dizer para a mulher todas as
coisas que ele viu durante o Intercâmbio, as histórias de resistência e
convivência com as adversidades do Semiárido. Mesmo voltando para casa,
Seu Poraqué ainda continuava ansioso, mas agora, pela próxima viagem.
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