terça-feira, 8 de julho de 2014

ALEXANDRIA/RN: Famílias participam de intercâmbio de experiências do P1+2

Por André Araújo*
Assessor de comunicação da Diaconia.

O galo ainda ensaiava o bom dia no Sítio Malhada Branca, em Alexandria, município do Oeste Potiguar, quando Antônio Ambrósio, mais conhecido como Seu Poraqué, ansioso, arrumava-se para viajar. Era a primeira vez que o agricultor participava de um intercâmbio visitando experiências de famílias agricultoras com práticas agroecológicas e conhecendo tecnologias sociais de convivência com o Semiárido. O Intercâmbio Intermunicipal aconteceu nos dias 26 e 27 de Junho em Umarizal e é uma das ações do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), executado no município pela Diaconia.

Mas Seu Poraqué não estava sozinho: outros dez agricultores e agricultoras das comunidades de Serrota, Vertentes, Riacho do Meio, Piató e Papagaio percorreram quase 70 km de Alexandria a Umarizal. Dona Lenira precisou mobilizar toda a família para conseguir participar da viagem, e contou com o apoio das noras, dos filhos e do marido, que ficou em casa cuidando do neto, que tem necessidades especiais. Cheia de expectativas, a agricultora, que também é presidente da Associação Comunitária de Riacho do Meio, não via a hora de ver de perto a cisterna calçadão, que até então, ela só conhecia pelas fotos e vídeos apresentados nas capacitações.

A primeira parada do grupo foi no escritório local da Diaconia, para conhecer a instituição e para um momento de acolhida com o animador de campo Fabio Veríssimo. Depois seguiram para Cacimba do Meio, comunidade onde reside a família do agricultor Antônio Iranildo Ferreira, que desde 2005 trabalha de forma agroecológica com a ajuda das diversas tecnologias que eles têm na propriedade como a cisterna de 16 mil litros, a barragem subterrânea, o cacimbão e o biodigestor. Iranildo conta que quando começou ia de bicicleta para feira de Caraúbas vender os seus produtos. São mais ou menos 30 km da sua casa para a cidade. Mas depois com a renda da agricultura, conseguiu comprar uma moto, um carro e por último o terreno de 3 hectares, onde construiu a casa onde vive e trabalha com a família há mais de dois anos. Apesar das dificuldades, ele não desanima, ao redor da casa, é possível encontrar de tudo, além de hortaliças e árvores frutíferas, ovelhas, galinhas, porcos e futuramente, ele planeja ter uma criação de codornas.

“Pouca terra, muita fartura”, espantou-se o agricultor Francisco da Serrota, com a força de vontade e sabedoria de Iranildo em conseguir produzir tanto em um espaço tão pequeno e também com os métodos agroecológicos de reaproveitamento dos recursos locais. As águas da casa e da fossa são reutilizadas, depois de tratadas, para a irrigação de determinados tipos de plantio e o esterco do gado e as folhas dos pés de nim viram adubo e fertilizantes naturais, respectivamente.

Durante a visita, depois de apresentar o seu quintal produtivo e contar um pouco sobre a sua experiência, Iranildo ainda recebeu dicas do agricultor Francisco de como cuidar dos porcos e economizar água. “Estamos aqui para repassar um pouco do que a gente sabe, mostrar que é possível viver da agricultura, conviver com o Semiárido, mas também estamos aqui para aprender”, concluiu.

No segundo dia, o grupo visitou a comunidade de Nevoeiro, em Olho d’água do Borges, para conhecer as tecnologias sociais do P1+2 – a cisterna calçadão e de enxurrada. Guiados pelo Animador de Campo do Centro Padre Pedro, Josivan Antonio, eles ainda puderam acompanhar o processo de construção. Seu Poraqué ficou impressionado com o tamanho da cisterna. Ele conta que em 2005, quando recebeu a de 16 mil litros, a primeira coisa que fez foi aposentar o jumento, que usava para buscar água para beber, em uma cacimba que fica há meia légua de distância da sua propriedade. Agora, ele não vê a hora de receber a cisterna da segunda água para começar a plantar mamoeiro, como as agricultoras do Grupo de Mulheres Unidas pela Paz do Assentamento São José, em Caraúbas, a última experiência visitada durante o intercâmbio.

O Grupo é composto por quatro mulheres, que em meia tarefa de terra cultiva mais de 70 pés de mamão, canteiros de hortaliças e uma pequena área com feijão, milho e batata. O que elas colhem no quintal produtivo além de ser comercializado na comunidade e na feira, é aproveitado na cozinha comunitária, onde beneficiam frutas e produzem doces e bolos. Mas a especialidade do grupo é o bolo de mamão. Quem visita o assentamento não sai de lá sem provar. “No começo, as pessoas ficam receosas, mas depois de experimentar, vira cliente”, comenta Dona Corrinha.

Depois de dois dias de atividades, Dona Lenira só pensava em chegar em casa para contar para a família e para as vizinhas tudo que aprendeu. Contador de histórias, Seu Poraqué já avisou que a noite seria pequena para dizer para a mulher todas as coisas que ele viu durante o Intercâmbio, as histórias de resistência e convivência com as adversidades do Semiárido. Mesmo voltando para casa, Seu Poraqué ainda continuava ansioso, mas agora, pela próxima viagem.

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