A união entre PMDB e DEM para as eleições 2014 não é controversa apenas pelo fato de unir adversários políticos como Wilma de Faria (PSB), Garibaldi Filho (PMDB) e José Agripino (DEM).
Na verdade, o trabalho mais difícil tem sido reunir, no mesmo palanque, adversários políticos municipais, que são, justamente, aqueles que têm uma maior rivalidade entre si. E Pau dos Ferros, a polêmica do momento, é uma prova disso. Lá, peemedebistas da base aliada de Henrique tem tido dificuldades em conseguir apoio dos democratas e estes, por sua vez, estão sofrendo para explicar o posicionamento atual.
Isso porque em Pau dos Ferros, PMDB e DEM são adversários há anos. O ex-prefeito da cidade, Leonardo Rêgo, filho do deputado estadual Getúlio Rêgo, ambos do DEM, são grandes adversários dos peemedebistas. Na última disputa municipal, por exemplo, eles enfrentaram uma campanha dura para conseguir eleger o democrata Fabrício Torquato, derrotando o peemedebista Braulio Figueiredo.
Por isso, agora, diante da decisão do DEM de apoiar Henrique Eduardo Alves ao Governo, os democratas têm enfrentado dificuldades para explicar o posicionamento atual. Getúlio, por exemplo, diz que não está “fechado” com o peemedebista, que o povo que vai definir o futuro dele. Leonardo é ainda mais radical. Afirmou em entrevista recente que, assim como o pai, além de não ter definido o futuro, não vai subir em palanque de seu adversário do PMDB, mesmo que venha a votar em Henrique.
A situação é tão tensa que, no final de semana, os peemedebistas viveram uma cena um tanto quanto constrangedora, quando em evento em Pau dos Ferros, o candidato Henrique Alves tomou o microfone das mãos do colega de PMDB, o deputado estadual Gustavo Fernandes, para explicar um “equívoco” que estava sendo dito e evitar um mal estar com o “outro lado”.
Afinal, o candidato do PMDB já havia participado de encontros com os democratas, visitado casas de pessoas ligadas a Getúlio Rêgo, tudo isso para mostrar humildade e pregar a união e, no discurso, Gustavo afirmava justamente o contrário, que era o DEM que estava procurando o PMDB para dizer que iria votar nele. Para os democratas, isso poderia não só soar negativo, como também representar o fim da possibilidade de apoio.
Contudo, é bem verdade que as palavras de Gustavo Fernandes também se explicam. Como um dos líderes do PMDB de Pau dos Ferros, seria difícil para ele assumir, entre os correligionários, que o apoio dos principais adversários era importante e que, por isso, o presidente estadual do partido havia se “rebaixado” para ir até lá pedir votos. “Não se preocupem em relação ao pedido do apoio de Henrique do lado de lá, porque se eles estão se colocando a disposição de vir para o apoio para vocês”, afirmou ele, antes de ser interrompido por Henrique.
RACHA ANTIGO
A preocupação de Henrique não foi por acaso. Gustavo Fernandes poderia atrapalhar uma costura que o candidato ao Governo vem fazendo já há algum tempo, como todo cuidado para não mexer nos brios dos adversários. Principalmente porque, por terem sido ditas por Gustavo Fernandes, as palavras podem ganhar ainda mais peso.
Para quem não lembra, o atual prefeito, Fabrício Torquato, do DEM, era do PMDB e tinha boa relação com Elias Fernandes, pai de Gustavo, e Nilton Figueiredo. Sem espaço na sigla, acabou rompendo com os peemedebistas e se aliando ao grupo de Leonardo Rêgo. Foi vice-prefeito dele e, depois, o candidato governista em 2012, quando disputou, justamente, contra o PMDB.
Por causa disso, o clima na última eleição foi bem acirrado, o que ajudou a aumentar ainda mais a rivalidade entre peemedebistas e democratas. “Eu descarto essa possibilidade (de um palanque formado por PMDB e DEM em Pau dos Ferros). E quero afirmar que eu não tenho a pré-disposição de apoiar a candidatura de Henrique Alves. Disse isso a ele e expliquei os motivos. Eu nunca havia conversado com Henrique, foi a primeira vez, e acho que ele deve respeitar essa posição. Aliás, deve respeitar Elias Fernandes que é um correligionário antigo dele e que sempre segurou a bandeira do PMDB de Pau dos Ferros. Os outros, como Nilton Figueiredo, ficam pulando de galho em galho. Não acho justo, agora, dividir palanque com adversários”, ressaltou Leonardo Rêgo já em entrevista neste mês de julho.
Deputado pode perder apoio de prefeitos por votar em Henrique
O fato de Getúlio Rêgo ainda não ter decidido se vai ou não votar em Henrique Alves para o Governo do Estado não é apenas uma questão de princípios ou realidade política local. É, também, um problema de capital político, porque ao votar no PMDB, o deputado estadual candidato à reeleição poderá perder bases políticas.
Em Apodi, por exemplo, conforme revelou o blog da jornalista Thaísa Galvão, o prefeito, Flaviano Monteiro, do PC do B, e o vice, Zé Maria, do PSD, afirmaram que a continuidade da adesão a Getúlio Rêgo pode ficar ameaçada se o parlamentar confirmar o apoio a Henrique. Isso porque eles são do grupo de Robinson Faria, do PSD, adversário de Henrique na disputa pelo governo. “Conversamos com nossas bases e eles foram unânimes em dizer que ‘se for para Getúlio votar em Henrique, o deputado não tem nosso voto”, afirmou Zé Maria ao blog.
Fora o aspecto do capital eleitoral, Getúlio sofre também com a situação da coerência política. Afinal, de um lado, o presidente do partido dele, José Agripino, anunciou apoio a Henrique Eduardo Alves, porém, apoiar Henrique, significaria subir no mesmo palanque da ex-governadora Wilma de Faria, do PSB, a quem Getúlio Rêgo fez oposição por sete anos na Assembleia Legislativa e continua criticando até hoje, até como forma de defender a atual administração do DEM, de Rosalba Ciarlini.
Em junho, por exemplo, quando ouviu o adversário político Fernando Mineiro, do PT, falar sobre a possibilidade de impeachment de Rosalba Ciarlini, Getúlio Rêgo ironizou o petista, justamente, pela ligação dele com a gestão do PSB. “Mineiro deve explicar ao pessoal do Rio Grande do Norte que ele fez parte de um governo que patrocinou escândalos escancarados do conhecimento da sociedade do Estado e nunca levantou a voz aqui para pedir o impeachment do governo que ele defendeu aqui no plenário”, afirmou Getúlio. Em abril, foi ainda mais além e citou os escândalos de Wilma. “Foliaduto, Hygia… Precisa de mais? Ouro Negro…”, disse Getúlio. “E ninguém viu pedido de impeachment”, criticou.
trechos dos discursos de Gustavo Fernandes e Henrique Alves
GUSTAVO FERNANDES: O PMDB sabe o seu espaço e o espaço dele é respeitado. Gustavo Fernandes é deputado estadual do PMDB e vai ser, se Deus quiser, com ajuda de vocês, o deputado do PMDB para ir ao governador do PMDB e ajudar Pau dos Ferros. A senadora Wilma de Faria, que também se eleger para trabalhar para um lado ou para o outro, porque ela vai ser também do Rio Grande do Norte. O nosso deputado federal que é Walter Alves vai ser o deputado que vai trabalhar pelo PMDB de Pau dos Ferros. Então, meus amigos, não se preocupem em relação ao pedido do apoio de Henrique do lado de lá, porque se eles estão se colocando a disposição de vir para o apoio para vocês, então…HENRIQUE ALVES: Não, calma. Vamos ser verdadeiros aqui. Eles não estão se colocando a disposição de coisa nenhuma. Eu é que estou tendo a humildade de procurar para pedir o apoio. O que vão fazer, eu não sei.
Fonte: Jornal de Hoje
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