Via Jornal de Hoje
Marcelo Lima
Um dos mais reconhecidos obstetras e ginecologistas de Natal, Iaperi
Araújo, decidiu não mais realizar partos depois de um episódio
inesperado na sua história como profissional: uma parturiente o agrediu
verbalmente, correu nua no meio do hospital e depois se trancou para
comer a sua própria placenta dentro de uma sala sob a guarda da família.
De acordo com o médico, o fato teria acontecido na quarta-feira
passada (2). Segundo ela, a mulher chegou ao hospital já com 30 horas de
trabalho em casa de parto por volta das 20h30. O tempo de espera em
casa pode ter ocorrido em função da tentativa de um parto domiciliar
planejado – nova tendência surgida dentro do escopo de humanização do
parto.
Segundo Araújo, a parturiente não havia feito o pré-natal e estava
muito agitada a ponto de xingá-lo. A família também o agrediu
verbalmente. Na hora de realizar o parto, a grávida exigiu que o marido
fizesse o parto, mas o médico afirmou que não deixou, até porque o homem
não tinha habilitação profissional para tanto.
Porém, o pai ainda teve a possibilidade de cortar o cordão umbilical
quando o bebê finalmente veio ao mundo por volta das 23h30. Segundo o
obstetra, a mulher teria gritado reivindicando os direitos sobre a
placenta. “Coloquei dentro de um saco e a entreguei”, escreveu em uma
postagem na rede social.
A mãe da parturiente a persuadiu para que a mulher deixasse que outra
médica a examinasse. A paciente consentiu. Mas logo em seguida, segundo
o médico, ela entrou em “surto” no momento em que a neonatologista
levou a criança para o berçário. Conforme Iaperi, a mulher foi em busca
da cria, bateu no vidro do berçário até que o pai da criança arrombou a
porta para tirar a criança do ambiente.
“Ela correu sangrando nua no meio do hospital com a placenta numa mão
e a criança na outra”, relatou o médico a nossa equipe de reportagem na
manhã desta terça-feira (8). Ainda segundo ele, ela estava nua neste
momento. Depois disso, a família inteira se trancou numa sala do
terceiro andar do hospital. Só saíram de lá para pedir uma tesoura para
cortar a placenta e pedir um pouco de coentro para temperar o
“alimento”.
O médico afirmou nunca ter visto algo do tipo na sua história como
obstetra. Além do fato inusitado, Araújo ficou transtornado com a forma
como foi tratado pelos familiares e pela paciente. “Ela tem o direito
até de morrer se quiser, mas dentro do hospital ela tem que respeitar o
profissional”, declarou.
O episódio contribui definitivamente para que o médico decidisse
encerrar sua carreira obstétrica.
“Foi tão chato para mim que não vou
mais fazer obstetrícia, só ginecologia”, sentenciou. Iaperi Araújo irá
entregar um relatório à direção do hospital na próxima sexta-feira (11).
Ele espera que as câmeras de segurança do estabelecimento corroborem
com o seu testemunhou sobre o caso. Iaperi Araújo não especificou o
quadro de saúde da criança e o que houve na sequência. “Para mim, esse
caso morreu”, disse.
Tentamos entrar em contato com a direção do Hospital Papi, mas não
foi possível. No entanto, O Jornal de Hoje apurou que a diretoria
clínica e gerente médica irão se reunir com Iaperi Araújo na próxima
sexta-feira para iniciar a apuração dos fatos. Não houve notícia no
hospital se aconteceu algum prejuízo material ou para outros pacientes
durante a noite da quarta-feira passada.
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