quarta-feira, 4 de junho de 2014

NASCER: UM VERDADEIRO PARTO

 Por: Sofia Moutinho
Instituto Ciência Hoje

Maior pesquisa já feita sobre gestações no Brasil revela que 52% dos nascimentos se dão por cesariana. O estudo expõe um modelo de atendimento médico excessivamente intervencionista e que não leva em conta o bem-estar da mãe e do bebê. 

 
Cesarianas e procedimentos médicos desnecessários e de risco são a realidade cotidiana dos partos no Brasil. A situação vivenciada por mulheres em todo o país e já denunciada por muitos pesquisadores e profissionais de saúde volta à cena agora com a divulgação da pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz e que traz o maior levantamento já feito sobre gestações e nascimentos em território nacional.

O estudo, que durante um ano ouviu 23.984 mulheres de 191 cidades do país que tiveram seus filhos em hospitais de médio e grande porte da rede pública e privada de saúde, traz números alarmantes. A cesariana, um procedimento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas para partos de risco, é quase regra no Brasil: 52% dos nascimentos são realizados com essa cirurgia, quando a taxa considerada aceitável é 15% (mais de três vezes menor).

“Não existe justificativa clínica para um número tão alto de cesarianas; estamos falando de gravidezes normais, apenas 25% das entrevistadas apresentaram algum risco durante a gestação,” comenta a coordenadora do estudo, a médica Maria do Carmo Leal. “Essas mulheres estão sendo expostas a riscos e o sistema de saúde está tendo gastos desnecessários devido a uma cultura médica que prioriza esse tipo de parto.”

A pesquisadora aponta que a cesariana deve ser a última opção, pois pode trazer danos ao bebê e à mãe. “Nos últimos sete anos, estudos têm demonstrado que a cesariana está associada a um risco maior de morte durante o parto, além de ser um fator para o desenvolvimento de doenças como o diabetes e a asma no bebê e de privar a criança, no momento do nascimento, do contato com a flora bacteriana vaginal e intestinal da mãe, que garante o fortalecimento do seu sistema imune”, diz.
A cesariana pode ainda prejudicar gestações posteriores por deixar uma cicatriz no útero que pode dificultar a fixação do óvulo fecundado e interferir no desenvolvimento da placenta.

Para outra autora do estudo, a médica Silvana Granado, a escolha médica pelas cesarianas pode ser explicada por questões práticas que nem sempre levam em consideração o melhor para a gestante. 
“Os médicos priorizam a cesariana porque assim conseguem fazer mais partos em menos tempo”, comenta. “Em vez de gastar 12 horas acompanhado um só parto normal, eles ficam livres para agendar vários. Em muitos hospitais de interior que visitamos existia, inclusive, o chamado ‘dia da cesárea’, que era quando o médico aparecia e marcava todos os partos da cidade.”
A pesquisa mostra que, na rede privada, o número de cesarianas é ainda maior, chegando a 88% dos nascimentos, contra 40% no sistema público. Para Granado, a diferença se deve, entre vários fatores, à fidelização das gestantes a um único médico que acompanha a gestação desde o início. 

“É comum que esse médico marque a cesariana de acordo com a sua agenda e para sua comodidade e que a mulher aceite para poder ter o filho com aquele profissional específico que conhece todo o seu histórico”, ressalta. 
Granado observa que no sistema de saúde público, a gestante não fica tão presa ao médico, pois recebe uma cartilha com todas as informações do acompanhamento pré-natal, de forma que qualquer médico disponível no momento do nascimento pode se atualizar sobre a situação e fazer o parto. “O ideal é que o médico saiba que ele não é o dono de nenhuma grávida e que as mulheres se conscientizem de que podem parir quando o bebê quiser, com qualquer profissional que esteja trabalhando no momento”, pontua.

Matéria completa AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é importante! Este espaço tem como objetivo dar a você leitor, oportunidade para que você possa expressar sua opinião de forma correta e clara sobre o fato abordado nesta página.

Salientamos, que as opiniões expostas neste espaço, não necessariamente condizem com a opinião deste Editor.

COMENTÁRIOS QUE TENHAM A INTENÇÃO DE DENEGRIR QUEM QUER QUE SEJA, SERÃO EXCLUÍDOS

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...