Brasília – Enquanto a música contemporânea, inclusive a erudita com a
música eletroacústica, faz cada vez mais uso de aparatos tecnológicos, o
multi-instrumentista Hermeto Pascoal decidiu, novamente, fugir dos
padrões e lançou um DVD com 12 músicas feitas apenas com sons obtidos a
partir do corpo. Essa experiência, segundo o próprio músico – famoso por
transformar qualquer tipo de som em verdadeiras peças musicais – não
implicou limitação para o trabalho, até porque, argumenta, “o corpo é o
instrumento mais perfeito que se tem”.
“O corpo sempre foi um dos meus instrumentos prediletos, apesar de o
que mais aparece [em alguns dos meus trabalhos] ser o uso de coisas não
convencionais. Eu quis mostrar isso no DVD”, disse o músico à Agência Brasil, referindo-se ao recém-lançado Hermeto Brincando de Corpo e Alma. O formato escolhido foi o DVD para permitir que as pessoas vejam cada uma das origens dos sons usados nas novas composições.
“Explorei muito as partes internas do corpo. Há batidas feitas a partir
do som do coração, assovios, sons do intestino, da barba e da minha
válvula mitral [válvula cardíaca que separa a aurícula esquerda do
ventrículo esquerdo], que dizia claramente a palavra Nelma”, explicou.
“[Essa experiência] foi uma busca pelos sons da aura”.
Uma das principais habilidades de Hermeto é enxergar música onde
ninguém vê. “Meu caminho foi o do som para as notas musicais”, explica.
“Por isso me assustei ao ver que só havia 12 notas [as sete notas e suas
variações, entre sustenidos e bemóis] em todas as músicas [já feitas]”.
Hermeto lembra que, aos 50 anos, ficou bastante angustiado com essa
limitação. “Certa vez, na tentativa de fugir disso, afinei uma viola
caipira com cada corda em uma nota diferente. Apesar de não ter dado
para fugir das 12 notas, passei a entender que viemos aqui para ser
semelhantes e não diferentes dos outros. Em todas as partituras já
escritas são as mesmas notas, mas não está tudo igualzinho, como faz o
computador. Agora, você vê que lindo: criar sobre 12 notas 5 mil
músicas, como eu fiz, e não parar de escrever. [Nesse processo,] entendi
também que meu professor é meu dom e que, sem egoísmos, temos de
valorizar cada vez mais as semelhanças”, disse.
Fonte: Agencia Brasil - Pedro Peduzzi
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