Joaquim Pinheiro/Jornal de Hoje
Num discurso contendo sérias críticas ao
próprio Poder Judiciário, principalmente em razão de gastos excessivos e
irregularidades administrativas em casos de nomeações de 240 cargos
comissionados, o desembargador Cláudio Santos assumiu o cargo de presidente do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, o Poder Judiciário potiguar, na
noite desta sexta-feira, em solenidade bastante concorrida realizada no Teatro
Riachuelo no Shopping Midway Mall.
“É
preciso mudar começando pelo Judiciário. O Rio Grande do Norte deve ter o
judiciário que o povo pode pagar, não o que nós imaginamos que deva ser ou que
o vírus da minha veia de mecenas acredita como ideal”, disse o desembargado,
completando: “temos que dar o exemplo. O crescimento dos gastos do Poder
Judiciário é absurdo e isso nunca foi explicado”.
Cláudio
Santos referiu-se também no seu discurso ao chamado “Auxílio Moradia”,
benefício recebido por magistrados que tem sido sistematicamente criticado por
setores da mídia e pela própria sociedade. “Temos que dar satisfação à opinião
pública, ou não exercitaremos o tão decantado princípio da transparência, a que
estamos obrigados. É necessário que mostremos o que estamos fazendo e a
motivação que nos leva a tanto. Comece-se por explicar o esdrúxulo
auxílio-moradia para os Magistrados – que pessoalmente percebo -, que nada mais
é do que parte do subsídio que foi perversamente congelado, nos últimos anos, a
nível nacional, simplesmente porque o Poder Judiciário exerceu as suas
prerrogativas constitucionais, levando às grades aqueles que agrediram a lei
penal”, afirmou.
O
novo presidente do TJ afirmou, também, que na repartição de receitas “o
Judiciário não pode se apoderar de um quinhão de recursos acima do imprescindível
ao equânime exercício das demais atividades públicas, pois há muitas outras
também importantes e necessárias ao razoável gozo da cidadania”.
O
novo presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte disse ainda
entender que “já passa a hora de se mudar a curva ascendente da insensatez na
gestão dos recursos públicos com o crescente aumento das despesas públicas
isolando-se cada órgão e voltando-se unicamente para o reduzido horizonte de
seu próprio umbigo”.
DESCUMPRIMENTO DA LEI
O
descumprimento da lei por parte do próprio Tribunal de Justiça também mereceu
destaque no discurso do desembargador Cláudio Santos. Ele disse que isso ocorre
em razão do aumento dos gastos com despesas pessoais decorrentes de decisões
judiciais nos últimos anos, entre elas a implantação de gratificações de
técnico de nível superior. Segundo o desembargador, nesse caso, houve um
crescimento de 1.024%.
“Vamos
perseguir – inclusive sem a necessidade de controle externo – a submissão dos
gastos do Poder Judiciário às balizas legais. Não há como fugir desta
obrigação. Não desistirei até incluir o Poder Judiciário Estadual nas bordas da
lei. Sei que não vai ser fácil, embora esteja acostumado a contrariar
interesses pessoais elevados, mas considero ser imprescindível o apoio de todos
os colegas desembargadores e juízes, a quem exorto a serem cada vez mais
plenamente magistrados, cônscios de que devemos e podemos mudar a cultura da
insanidade fiscal de acreditarmos que precisamos sempre de mais e mais dinheiro
público para atender aos nossos sonhos pessoalíssimos”, afirmou.
Cláudio
Santos também revelou a prática de irregularidades por parte do TJ na nomeação
de cargos comissionados. “Temos que cumprir, em rigor, com a determinação do
CNJ de equilibrar a quantidade de cargos comissionados providos com a mesma
quantidade de cargos dispostos aos funcionários efetivos do quadro. Há
atualmente cerca de 240 funcionários nomeados para cargos comissionados
irregularmente. Vamos enfrentar e resolver este problema, pois contraria a lei
e as determinações do CNJ, a que estamos obrigados a atender”, revelou o novo
presidente do TJ.
Cláudio
Santos também cobrou transparência do Judiciário potiguar em outros momentos.
“Temos que dizer aos concidadãos potiguares que temos o custo por processo mais
elevado de todo o Brasil, cerca de R$ 3 mil. Temos que dizer aos
norteriograndenses que temos a maior remuneração média de servidores de todos
os Tribunais dos Estados do Brasil. Temos que dizer, alto e de bom som, que a
dívida originária da implantação da Gratificação de Técnico de Nível Superior –
cerca de 100% sobre o vencimento dos funcionários efetivos do TJRN -, ainda não
calculada de forma definitiva, é de cerca de R$ 350 milhões, em valores atuais
estimados”, acrescentou o magistrado.
PROJETOS E REFORMAS
O
presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, desembargador Cláudio
Santos informa que pretende promover reformas no âmbito fiscal e na legislação
que organiza o judiciário local. “levamos à apreciação do Poder Legislativo
Estadual algumas reformas através de projetos de lei que julgo necessárias ao
ajustamento fiscal do Poder Judiciário, bem como atualização da normatização da
operação judiciária para melhor acompanhar a mobilidade social e populacional
do Rio Grande do Norte vez que a atual está sem mudanças há cerca de 30 anos”,
ressaltou.
Cláudio
Santos falou também sobre o problema da falta de juízes titulares nas comarcas
do Estado. Segundo ele, das 65 comarcas existentes no Rio Grande do Norte, 35
estão vagas sem juiz titular. O novo presidente do TJ prometeu a realização de
concurso público para magistrado. Anunciou que pretende iniciar o processo de
construção do futuro prédio do Tribunal de Justiça em razão da precariedade do
atual.
OAB e MPRN apoiam iniciativas de Cláudio Santos no Judiciário
Ao
expor os problemas financeiros do Tribunal de Justiça, o desembargador Cláudio
Santos recebeu apoio de duas instituições independentes, mas que acompanham há
tempos o Judiciário potiguar: a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério
Público do RN. Sérgio Freire, presidente da OAB/RN, falou que espera o diálogo
entre as instituições será dinâmico e positivo.
“Sabendo
que o novo presidente assumiu vaga na Corte de Justiça a partir do Quinto
Constitucional da OAB-RN, tenho certeza que teremos uma proximidade ainda maior
com o TJRN. Com certeza, isso facilitará a prestação jurisdicional”, ressaltou
Freire.
Em
seu discurso, Sérgio Freire disse que os advogados potiguares acreditam no novo
presidente do TJRN e aguardam, com urgência, a realização de um novo concurso
público para magistrados, com o objetivo de sanar a falta de juízes nas
comarcas do interior.
O
presidente da seccional potiguar da Ordem dos Advogados aproveitou o momento
para cobrar demandas relativas à OAB-RN, para a melhoria da execução dos
serviços da advocacia, tais como a criação de Varas específicas e Juizados
Especiais, além da adaptação do Sistema Eletrônico PJe de maneira a facilitar o
uso do jurisdicionado e dos advogados.
Sérgio
Freire aproveitou para agradecer ao presidente anterior, desembargador Aderson
Silvino, ao bom relacionamento durante o biênio 2013-2014. “Foram anos em que o
Judiciário cresceu bastante, graças à boa gestão. Não existirá Brasil forte se
o Poder Judiciário não for célere e ativo. Acredito que estamos no caminho”,
encerrou.
MPRN
Procurador-geral
de Justiça, Rinaldo Reis, ressaltou o espírito de renovação que chega, agora,
também ao Judiciário potiguar. “Que essa renovação, que está acontecendo nos
três poderes, venha em prol da sociedade do Rio Grande do Norte. Que ela venha
realmente para corrigir tantas injustiças que o povo tanto sofre”, comentou o
procurador-geral de Justiça.
Rinaldo
Reis afirmou que o MP é sempre o parceiro principal do Poder Judiciário, por
excelência e pela Constituição Federal. “O Ministério Público tem a certeza que
vossa excelência dará continuidade ao trabalho tão bem desenvolvido pelo
desembargador Aderson Silvino, que tanto se esforçou e a quem aqui agradeço
pelo relacionamento de alto nível institucional e de amizade e fraternidade que
tivemos com o TJ”.
O
procurador disse que o desafio hoje é fazer mais com menos. É fazer muito com
pouco. “Apesar de estarmos em um estado carente e com muitas dificuldades,
tenho certeza que vossa excelência enfrentará essas dificuldades orçamentárias
e saberá, com certeza, corresponder a esses desafios”.
“O
Ministério Público deseja que vossa excelência tenha uma gestão profícua. Que
Deus lhe abençoe e lhe dê sabedoria, tranquilidade e discernimento. Com certeza
vossa excelência desempenhará muito bem o papel de presidente do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Norte. São os votos do Ministério Público e também
aqui o nosso compromisso de estarmos irmanados nessa luta pela justiça”,
finalizou o procurador geral Rinaldo Reis.
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