Especialista em liderança e
cultura política no Brasil, o professor e cientista político do INSPER, Carlos
Melo não define a classe média brasileira como conservadora ou liberal, mas
como reativa. Para ele, o fato de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro
liderarem as pesquisas das eleições de 2018 reflete um sentimento nostálgico da
população, descontente com a situação atual.
A classe média brasileira
exercerá alguma pressão ou peso especial nas eleições de 2018?
Sim. Quando a classe média se expande, ela tem força, e quando se retrai, não perde essa força. E se, no momento de expansão, era um momento propositivo – em que se olhava para o futuro, o filho entrando na faculdade, arrumando emprego, as famílias trocando de carro, hoje é reativo. A classe média pensa: “naquele tempo havia emprego, meu filho entrava na faculdade, comprávamos carro e pensa: olha como está hoje”. Isto é o que eu tenho chamado de utopia regressiva: o desejo de voltar ao passado, um passado autoritário, pensando nos militares, no Bolsonaro, ou para o passado populista, pensando no Lula, no crédito, nos bons tempos da economia.
Sim. Quando a classe média se expande, ela tem força, e quando se retrai, não perde essa força. E se, no momento de expansão, era um momento propositivo – em que se olhava para o futuro, o filho entrando na faculdade, arrumando emprego, as famílias trocando de carro, hoje é reativo. A classe média pensa: “naquele tempo havia emprego, meu filho entrava na faculdade, comprávamos carro e pensa: olha como está hoje”. Isto é o que eu tenho chamado de utopia regressiva: o desejo de voltar ao passado, um passado autoritário, pensando nos militares, no Bolsonaro, ou para o passado populista, pensando no Lula, no crédito, nos bons tempos da economia.
E por que isso ocorre?
Entre os que votam no Bolsonaro, existe um grande contingente de jovens. E é exatamente porque essa parcela da população não viveu os maus tempos da ditadura, não tem conhecimento das questões de um regime autoritário. Eles simplesmente olham para a falta de autoridade, sem compreender o outro lado da moeda, do autoritarismo.
Entre os que votam no Bolsonaro, existe um grande contingente de jovens. E é exatamente porque essa parcela da população não viveu os maus tempos da ditadura, não tem conhecimento das questões de um regime autoritário. Eles simplesmente olham para a falta de autoridade, sem compreender o outro lado da moeda, do autoritarismo.
Mas esse contingente não tem um
teto de crescimento?
Esta é a esperança de muita gente. Mas o quanto isto é ou não é real? É natural imaginar que, com pouco tempo de televisão, Bolsonaro não dispare na frente. Este seria um processo esperado. Mas no mundo e no Brasil que vivemos nos últimos anos nada parece ser natural, previsível e dado. Surpresas podem acontecer. O que se pode dizer hoje é que essa opção por Lula e por Bolsonaro passa por esta utopia regressiva, a sensação de que o passado era melhor. E isto não é verdade, o presente foi construído pelo passado.
Esta é a esperança de muita gente. Mas o quanto isto é ou não é real? É natural imaginar que, com pouco tempo de televisão, Bolsonaro não dispare na frente. Este seria um processo esperado. Mas no mundo e no Brasil que vivemos nos últimos anos nada parece ser natural, previsível e dado. Surpresas podem acontecer. O que se pode dizer hoje é que essa opção por Lula e por Bolsonaro passa por esta utopia regressiva, a sensação de que o passado era melhor. E isto não é verdade, o presente foi construído pelo passado.
A classe média, além de reativa,
é também conservadora?
Essa classe média que dizem ser conservadora votou no Lula, na Dilma, no Fernando Haddad. Não é nem liberal nem conservadora, ela reage ao momento econômico em que vive, ao bem-estar ou mal-estar.
Essa classe média que dizem ser conservadora votou no Lula, na Dilma, no Fernando Haddad. Não é nem liberal nem conservadora, ela reage ao momento econômico em que vive, ao bem-estar ou mal-estar.
O que a eleição de Donald Trump
nos Estados Unidos ensinou ao mundo?
Quando o Trump ganha a eleição, o Obama é absolutamente sincero. Ele diz: “Se o Trump ganhou a eleição, foi porque aconteceu uma série de fenômenos de que nós não nos demos conta”. O Trump era o sintoma de uma transformação que a política tradicional não conseguia compreender, que cria produtividade, mas também cria pessoas bem formadas e desempregadas. Quem elegeu o Trump nos Estados Unidos foi o branco recém-formado e desempregado.
Quando o Trump ganha a eleição, o Obama é absolutamente sincero. Ele diz: “Se o Trump ganhou a eleição, foi porque aconteceu uma série de fenômenos de que nós não nos demos conta”. O Trump era o sintoma de uma transformação que a política tradicional não conseguia compreender, que cria produtividade, mas também cria pessoas bem formadas e desempregadas. Quem elegeu o Trump nos Estados Unidos foi o branco recém-formado e desempregado.
*Estadão/MSN
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