Um dentista contratado pela Prefeitura de Pau dos
Ferros - José Nunes Terceiro – foi
preso em flagrante na manhã desta quinta-feira (12), quando representantes do
Ministério Público Federal (MPF) e do Estado (MP/RN) constataram que ele vinha
burlando o registro de ponto de um centro de saúde municipal, para atender em
sua clínica particular durante o horário que deveria estar prestando serviço ao
Município.
A prisão, efetuada pela Polícia Civil, é fruto de uma
representação feita pelo procurador da República Marcos de Jesus ao
representante do MP/RN em Pau dos Ferros, o promotor de Justiça Rodrigo Pessoa.
O MPF apontou a ocorrência do crime de inserção de dados falsos (artigo 313-A,
do Código Penal).
Os representantes do Ministério Público acompanharam a polícia
na diligência que flagrou o odontólogo atendendo em sua clínica particular,
depois de ter batido o ponto no Centro de Saúde Caetano Bezerra do Nascimento,
no bairro Manoel Deodato, em Pau dos Ferros.
Inspeções feitas pelo MPF constataram que ele costuma
bater o ponto no posto de saúde às 7h e deixa o local por volta das 8h, indo
para sua clínica. Ao final da manhã, entre 12h e 13h, retorna ao posto e bate o
ponto que supostamente seria o da saída do turno matutino e fica no local até
aproximadamente 13h40, quando registra o ponto de entrada do período vespertino
e sai novamente para atender seus pacientes particulares. Ao final da tarde
volta à unidade de saúde pública para registrar sua “saída”. O dentista recebe
por 40h semanais do Município e mantém, ainda, outro contrato com a mesma
jornada de 40h (legalmente incompatível) com a Prefeitura de Luís Gomes.
Médico – A representação encaminhada pelo MPF ao MP/RN inclui também o
nome de outro profissional contratado pela Prefeitura de Pau dos Ferros, o médico John Cavalcante Aguiar, que
deveria trabalhar 20 horas por semana no Centro de Saúde José Edmilson de
Holanda (Posto Princesinha), porém não comparece à unidade desde dezembro de
2015.
Além dessa jornada, ele ganha por outras 20 horas a
serem cumpridas no posto do bairro Manoel Deodato, porém o profissional
permanece apenas 6 horas por semana no local, de segunda a quinta-feira, das
12h às 13h30. John Cavalcante não chega, sequer, a registrar as entradas e
saídas no relógio de ponto. Durante a diligência desta quinta-feira, o médico
não foi localizado, mas no entendimento do MPF deverá responder pelo crime de
estelionato (artigo 171, § 3º, do Código Penal).
Inspeções - Desde abril o procurador Marcos de Jesus vem
promovendo inspeções em postos de saúde de toda a região. Em 2014 o Ministério
Público Federal iniciou um trabalho que envolve a assinatura de acordos (termos
de ajustamento de conduta – TACs) e o ingresso de ações judiciais para que as
prefeituras do Alto Oeste Potiguar adotem sistemas de registro eletrônico de
ponto, com o objetivo de controlar a jornada de trabalho de todos profissionais
da saúde. Somente metade das 38 prefeituras da área de atuação da Procuradoria
da República em Pau dos Ferros aderiu aos TACs.
Já ocorreram inspeções nos municípios de Doutor
Severiano, Francisco Dantas, Marcelino Vieira, Pilões, Viçosa, São Miguel,
Serrinha dos Pintos, Taboleiro Grande, Pau dos Ferros, São Francisco do Oeste e
Rafael Fernandes. Foram ajuizadas ações civis públicas para instalação de ponto
eletrônico nos municípios de Água Nova, Rafael Fernandes, Itaú, Lucrécia,
Rodolfo Fernandes e Olho D´água dos Borges, além de Pau dos Ferros. Ações em
desfavor de outros municípios e a execução de acordos não cumpridos vêm sendo
analisadas e devem ser concluídas em breve.
O MPF tem investigado ainda a conduta dos secretários
municipais de saúde, uma vez que são eles os gestores responsáveis pelos
cumprimento das regras do Estratégia Saúde da Família (ESF) e pela condução da
Política de Atenção Básica de Saúde nos municípios. A suspeita é que eles têm
inserido dados falsos no sistema, com o propósito de receber irregularmente os
recursos da União.
Pau dos Ferros – O Município que contratou o médico e o dentista foi
alvo de uma ação civil pública (0800218-02.2015.4.05.8404) que, em janeiro,
resultou em uma liminar obrigando a Prefeitura a implantar o Sistema de
Registro Eletrônico de Ponto e exigir de todos os servidores da área da saúde o
cumprimento de suas jornadas.
Documento fornecidos pelo próprio
Município comprovaram que muitos profissionais não cumprem as cargas horárias
exigidas dentro da Política de Atenção Básica de Saúde, em programas como a
Estratégia de Saúde da Família.
Por reconhecer o fato e não adotar medidas que impeçam a irregularidade, o
prefeito Fabrício Torquato e as secretárias municipais de saúde do período
investigado, Patrícia Leite e Maria Tereza da Silveira Mesquita, se tornaram
alvo de uma ação de improbidade por parte do MPF.
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