O Globo
Leonardo Vieira
RIO - Bibliotecas públicas de todo o país estão mais próximas de serem
obrigadas a manter pelo menos uma Bíblia disponível aos leitores. Em
mais um avanço da bancada evangélica no Congresso Nacional, o Projeto de
Lei da Câmara (PLC) 16/2009 que inclui o livro religioso nos acervos
entrou na pauta de votações da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado. De lá, ele vai a plenário, de onde pode sair para a sanção da
presidente Dilma Rousseff, caso aprovado. Mas este é apenas mais um
exemplo dos projetos semelhantes propostos Brasil afora que visam
incluir por força de lei o livro em acervos de bibliotecas e escolas
públicas.
A principal acusação contra iniciativas dessa natureza seria a de
atentado contra o Estado laico, garantido pela Constituição federal.
Embora no preâmbulo os constituintes de 1988 digam que promulgam a Carta
Magna “sob a proteção de Deus”, o artigo 5º do texto garante a
liberdade religiosa como direito fundamental. Já o artigo 220 confere o
caráter opcional de aulas de religião em escolas públicas, determinando
que o “ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental”.
Apesar de não ser novidade na pauta dos legisladores, esta é a
primeira vez que um texto dessa natureza chega tão próximo de ser
aprovado em nível federal. O PLC, proposto há cinco anos pelo deputado
Filipe Pereira (PSC-RJ), já foi aprovado na Câmara sem alterações.
Segundo Pereira, a intenção do PLC não é privilegiar uma única confissão
religiosa, já que, segundo ele, a Bíblia não é um livro religioso.
— Nossa preocupação é a manutenção, porque muitas estão com estado
físico deteriorado. A Bíblia não é um livro religioso, já que faculdades
de filosofia, história e sociologia também consultam. Não é apenas uma
leitura religiosa. É universal, é o livro mais lido em todo o mundo.
O Brasil possui 6.060 bibliotecas públicas, distribuídas em 5.453
municípios. O Censo do IBGE/2010 mostrou 123 milhões que se declaram
católicos, mas os praticantes são apenas 5%. A pesquisa também levantou a
existência de 42,5 milhões de evangélicos.
Para a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não seria
necessário que a presença de Bíblias em bibliotecas fosse exigida por
lei. Segundo o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB,
dom Leonardo Steiner, o ideal seria que todos os acervos já contassem
não só com o livro cristão, mas também com obras representativas de
outras religiões:
— A Bíblia é um instrumento de pesquisa, de cultura e um caminho de
vida. Toda boa biblioteca tem que ter os livros mais importantes, com ou
sem lei. E não só a Bíblia, mas também livros de outras religiões, como
o Islã e o budismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é importante! Este espaço tem como objetivo dar a você leitor, oportunidade para que você possa expressar sua opinião de forma correta e clara sobre o fato abordado nesta página.
Salientamos, que as opiniões expostas neste espaço, não necessariamente condizem com a opinião deste Editor.
COMENTÁRIOS QUE TENHAM A INTENÇÃO DE DENEGRIR QUEM QUER QUE SEJA, SERÃO EXCLUÍDOS