quarta-feira, 3 de junho de 2020

NÃO ME CHAME DE NEGRO

Não me chame de Negro. 
Não me chame de Da Cor do Pecado. 
Não me chame de Mulata. 
Não diga que meu cabelo é ruim. 
Não diga que eu não sou uma de tuas negas. 
Não diga que a coisa tá preta. 
O mercado não é negro. 
A lista não é negra. 
A magia não é negra. 
Nem a ovelha é negra. 
E se você acha que eu estou denegrindo a sua imagem com a minha História, a minha vida e o meu sangue, está muito enganado. Na verdade, errado. Você existe por ter a minha origem. Mas, infelizmente, você a nega. Finge que nunca existiu. 
Você é fruto da miscigenação. Esqueceu? Não sabe o que é? Veja a história construída por nós. Quantos anos mais vão ser precisos para que você entenda que não há nenhuma diferença entre nós? Quantos anos vão ser precisos para você perceber que temos a mesma origem? 
Quantos anos vão ser precisos para que você entenda que somos irmãos? Me entristece perceber como você mudou. Me entristece perceber como você é desumano. 
E, arrisco-me a dizer: "tudo o que vemos hoje é consequência sua". 
Não permita que mais vidas inocentes sejam ceifadas. 
Não continuem mais com as mãos sujas de sangue. 
Sangue preto. 
Sangue que é símbolo de luta e resistência. 
Sangue que é vida. Sangue que é dor. 

Autora do texto: Flávia Melo

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