Com a canonização dos mártires, o estado potiguar poderá se tornar um grande centro de peregrinação religiosa, atraindo fiéis do Brasil e do mundo. Por isso, o Governo do RN está montando roteiros turísticos para o Santuário de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante e aos monumentos históricos de Cunhaú, em Canguaretama. Uma grande campanha de promoção e divulgação do RN como destino religioso deve ser lançada em breve.
“O Rio Grande do Norte tem como principal vocação econômica o turismo e, com a canonização, nosso estado vai começar a receber mais visitantes, em busca de conhecer a história dos primeiros mártires santos do Brasil. Por isso, estamos investindo em infraestrutura nesses locais, fazendo parcerias e buscando maneiras de atender a demanda de turistas. Sabemos da importância desse momento para a história, cultura e religião dos potiguares e vamos trabalhar para isso resultar em crescimento da economia e geração de emprego e renda”, informou o governador Robinson Faria.
O chefe do Executivo Estadual ainda explicou que “o Rio Grande do Norte tem uma união de fatores positivos que colaboram e facilitam com a vinda desses novos visitantes. O Santuário de Uruaçu fica próximo ao Aeroporto de São Gonçalo do Amarante e de Natal, que concentra as principais redes hoteleiras”.
Outro destino de turismo religioso do Rio Grande do Norte já consolidado e que vai complementar esses novos roteiros é o santuário de Santa Rita de Cássia, com a maior estátua católica do mundo, em Santa Cruz.
História
Em 16 de junho de 1645, Padre André de Soveral e outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por mais de 200 soldados holandeses e índios potiguares. Os fiéis participavam da missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú – no município de Canguaretama, localizado a Zona Agreste do Rio Grande do Norte. Por seguirem a religião católica, tiveram que pagar com a própria vida o preço da fé, por causa da intolerância calvinista dos invasores.
Quatro meses depois, em 03 de Outubro de 1645, aconteceu outro martírio, onde 80 pessoas foram mortas por holandeses, entre elas, o Padre Ambrósio Francisco Ferro, que com os fiéis confiados a si, manteve a firmeza na fé, e o camponês Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas, enquanto repetia a frase “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. Este morticínio aconteceu no Engenho de Uruaçu. Hoje chama-se Comunidade Uruaçu na área do município de São Gonçalo do Amarante – a 18 km de Natal, litoral do RN.
Processo de Beatificação
Segundo o Postulador da Causa dos Mártires, Mons. Francisco de Assis Pereira, “a memória dos servos de Deus sacrificados em Cunhaú e Uruaçu, em 1645, permaneceu viva na alma do povo potiguar, que os venera como enclíticos defensores da fé católica”. O processo de beatificação foi concedido pela Santa Sé, no dia 16 de junho de 1989. Em 21 de dezembro de 1998, o Papa João II assinou o Decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros, sendo dois sacerdotes e 28 leigos. Monsenhor Assis acompanhou o processo de beatificação junto ao Vaticano, por mais de dez anos, reunindo documentos em pesquisas realizadas em Portugal, Holanda e no Brasil. Deste material resultou o livro Protomártires do Brasil, de sua autoria, lançado no final de 1999.
Beatificação aconteceu no Vaticano
A celebração de Beatificação aconteceu na Praça de São Pedro, no Vaticano, dia 5 de março de 2000, presidida pelo Santo Padre João Paulo II. Cerca de mil brasileiros participaram da celebração. Durante a Santa Missa, João Paulo II pronunciou sua homilia em italiano, português, polonês, francês e inglês. O Papa fez a seguinte reflexão em português: “São estes os sentimentos que invadem nossos corações, ao evocar a significativa lembrança da celebração dos quinhentos anos da evangelização no Brasil, que acontece este ano.
Naquele imenso País, não foram poucas as dificuldades de implantação do Evangelho. A presença da igreja foi se afirmando lentamente mediante a ação missionária de várias ordens e congregações religiosas e de sacerdotes do clero diocesano. Os mártires, que hoje são beatificados, saíram, no fim do século XVII, das comunidades de Cunhaú e Uruaçu, do Rio Grande do Norte.
André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro – presbíteros e 28 companheiros leigos pertencem a esta geração de mártires que regou o solo pátrio, tornando-o fértil para a geração de novos cristãos. Eles são as primícias do trabalho missionário, os protomártires do Brasil. Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: ‘Louvado seja o Santíssimo Sacramento'”.
Segundo Postulador da Causa de Beatificação, Mons. Francisco de Assis Pereira, a data escolhida pela celebração dos Protomártires será 03 de outubro – data de aniversário do morticínio de Uruaçu. Segundo ele, provavelmente, a CNBB vai pedir à Santa Sé para estender esta festa para todo o Brasil, e não somente para a Arquidiocese de Natal.
O termo Protomártires
Segundo o Mons. Assis Pereira, os mártires de Cunhaú e Uruaçu foram chamados de Protomártires do Brasil, pelo Prefeito da Congregação das Causas dos Santos. “Isto porque são os primeiros que derramaram o sangue pela fé em nossa Pátria, tendo o seu martírio reconhecido oficialmente pela Igreja”, disse o Monsenhor. Ele foi nomeado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – como responsável pela organização do Martirológio da Igreja no Brasil.
Monumento lembra os Protomártires
Em Uruaçu, local onde outros mártires tiveram suas vidas barbaramente ceifadas, no município de São Gonçalo do Amarante – RN, foi construído um monumento para grandes celebrações e romarias, em parceria com o Governo do Estado. A inauguração ocorreu aos 02 de dezembro de 2000, com a presença do Governador do Estado, Garibaldi Alves Filho; do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales; do Arcebispo de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales; bispos do Regional Nordeste 2; padres e cerca de 12 mil fiéis.
Livros publicados sobre o tema
Ao longo dos 363 anos que separam a data do morticínio de Cunhaú e Uruaçu e o atual momento histórico do Brasil, historiadores, jornalistas e escritores têm feito referências ao acontecimento. Nos últimos anos, porém, três livros merecem destaque pela profundidade com que tratam o assunto: Protomártires do Brasil, do Postulador da Causa dos Mártires junto ao Vaticano, Monsenhor Francisco de Assis Pereira; Terras de Mártires, da jornalista Auricéia Antunes de Lima, e Mártires de Cunhaú e Uruaçu, do Padre Eymard L’E. Monteiro.
*DeFato
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