O operador financeiro
Lúcio Bolonha Funaro afirmou nesta sexta-feira (27) que entregou ao menos R$
100 mil em dinheiro vivo de propina ao ex-deputado Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), quando o político era presidente da Câmara, em 2013. Funaro prestou
depoimento ao juiz Vallisney de Souza Oliveira nesta sexta-feira (27), na 10ª
Vara Federal de Brasília.
Funaro e Alves são réus
na ação penal da Operação Sépsis, que apura desvios no Fundo de Investimentos
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FI-FGTS), operado pela Caixa
Econômica Federal. São réus na mesma ação o deputado cassado Eduardo Cunha e o
ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fabio Cleto, além
de Alexandre Margoto, ex-funcionário de Funaro.
“Entreguei para ele
mesmo, nas mãos dele, em São Paulo”, afirmou Funaro ao juiz. “Foram R$ 100 mil
ou R$ 150 mil, tem que puxar na planilha”, acrescentou o operador financeiro,
que assinou acordo de delação premiada com a Justiça.
Funaro disse ainda ter
emprestado seu avião particular para transportar uma mala de R$ 5 milhões para
financiar a campanha de Alves a governador do Rio Grande do Norte, em 2014.
Os recursos teriam origem
no pagamento de propina pela Eldorado Celulose, uma das empresas do grupo
J&F, que tem como um dos donos o empresário Joesley Batista. Segundo as
investigações, o então vice-presidente da Caixa, Fabio Cleto, atuou sob
orientação de Funaro e ordem de Cunha para destravar um aporte de mais de R$
900 milhões do FI-FGTS na empresa.
Funaro relatou ter
participado de diversos jantares na casa de Joesley com Cunha e Alves, com quem
disse ter se encontrado mais de 780 vezes ao longo dos anos. Ele afirmou que
Cleto foi indicado por ele a Cunha para ser vice-presidente da Caixa.
"Ele [Cleto] já
sabia de tudo, desde o momento que ele entrou lá. Isso ai a gente já sabia, que
a gente já tinha feito outras operações com o FGTS", disse Funaro. "A
única mágoa que eu tenho é de um dia ter encontrado Fábio Cleto e ter indicado
ele para a vice-presidência da Caixa", afirmou
Funaro admitiu ainda ter
obrigado Cleto a assinar uma carta de demissão, antes de assumir o cargo, para
mostrá-la a Henrique Eduardo Alves como garantia de que o executivo concordaria
em participar do esquema de desvios na Caixa.
Desde o início do
processo, a defesa do ex-deputado Henrique Eduardo Alves, que está preso
preventivamente em Natal, afirma não haver provas contra o político, além de
meras declarações de um delator. Após o depoimento desta sexta-feira, a defesa
voltou a negar envolvimento de Alves.
Segundo o operador
financeiro, praticamente toda a bancada do PMDB na Câmara tinha conhecimento do
esquema de desvios no FI-FGTS por meio da Caixa Econômica Federal, inclusive o
presidente Michel Temer e o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da
Presidência), então deputados. Ele atestou ter participado de ao menos cinco
operações que resultaram no pagamento de propina.
Questionado sobre as
declarações do doleiro, o Palácio do Planalto negou a participação de Temer em
negócios ilegais e desqualificou Funaro. "O presidente contesta de forma
categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais
partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça".
Delação
Funaro disse ter se
sentido obrigado a se tornar um delator, o que fez por livre e espontânea
vontade, fez questão de frisar durante depoimento. "Minha irmã foi presa,
meu irmão foi quase preso. Minha vida se transformou em um inferno. Não tive
outra opção", disse ele, pouco antes de se emocionar ao falar do pai.
O delator disse nunca
mais querer tratar com operações financeiras dinheiro e que, quando sair da
cadeia, pretende passar a criar gado e ser fazendeiro.
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