O
ex-ministro e ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN) foi preso pela Polícia Federal nesta terça-feira (6) em um
desdobramento da Operação Lava Jato. Batizada de
"Manus", a ação da PF apura atos de corrupção ativa e
passiva, além de lavagem de dinheiro envolvendo a construção da Arena das
Dunas, o estádio de Natal que recebeu jogos da Copa do Mundo de 2014.
Em
conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal, a polícia
afirma que o estádio teria tido um sobrepreço de R$ 77 milhões. Em julho
do ano passado, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) já havia verificado o
superfaturamento. Na ocasião, e equipe técnica do tribunal
sugeriu que, se os pagamentos referentes ao estádio continuarem a ser
realizados, os danos aos cofres públicos chegariam a R$ 457 milhões em 15 anos.
Ex-ministro
do Turismo dos governos Dilma (2015-2016) e Temer (2016), Henrique Alves, que comandou a Câmara entre 2013 e 2015, é
alvo de um dos cinco mandados de prisão preventiva que foram expedidos pela
Justiça Federal do Rio Grande do Norte.
A PF
também cumpre um mandado de prisão contra outro ex-presidente da Câmara, o
deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso em Curitiba
desde o final do ano passado.
Além
dessas duas, há outras 31 ordens judiciais. São cumpridos ainda seis mandados
de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para prestar esclarecimentos)
e 22 mandados de busca e apreensão nos Estados do Rio Grande do Norte e do
Paraná.
O nome da
operação é uma referência ao provérbio
"Manus Manum Fricat, Et Manus Manus Lavat",
que significa "uma mão esfrega a outra, uma mão lava a outra".
Delação
A operação
foi deflagrada a partir da delação da Odebrecht, que, segundo a PF, aponta
"o efetivo recebimento de vantagens indevidas por dois ex-parlamentares
cujas atuações políticas favoreceriam duas grandes construtoras envolvidas na
construção do estádio, um dos palcos da Copa do Mundo de 2014".
A PF alega
que as investigações incluíram, além das delações, informações
obtidas a partir das quebras dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos
envolvidos entre 2012 e 2014.
Mas
Henrique Alves também é implicado em um esquema envolvendo a OAS. De acordo com
anotações obtidas com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, Henrique Alves
fez lobby para a empreiteira em dois tribunais de contas para
evitar o bloqueio de recursos para as obras na Arena das Dunas.
Nos
diálogos entre o ex-parlamentar e Pinheiro, feitos entre 2013 e 2014, Henrique
Alves cobrava repasses da OAS para sua campanha ao governo do Rio Grande do
Norte, há três anos. No ano passado, quando as mensagens foram divulgadas, a
PGR (Procuradoria Geral da República) apontou que as doações eram
"vantagens indevidas" pagas para que Cunha e seu grupo defendessem
interesses da OAS.
Saída do governo Temer
Henrique
Alves pediu demissão do cargo de ministro do governo Temer em junho do ano passado, três meses após ter
sido empossado. Ele havia sido citado na delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
Em carta
enviada ao presidente Michel Temer na ocasião, ele disse ter agido "em prol do bem maior".
Pouco
antes da decisão de deixar o cargo, o jornal "Folha de S.Paulo" havia
revelado que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ao
STF (Supremo Tribunal Federal) que o ex-ministro teria atuado para obter recursos desviados da
Petrobras em troca de favores para a empreiteira OAS.
Na
manifestação à Suprema Corte, Janot afirmou que parte do dinheiro do esquema
desbaratado pela Operação Lava Jato teria abastecido a campanha de Alves ao
governo do Rio Grande do Norte em 2014, quando ele acabou derrotado. A
negociação envolveria Cunha e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Em
despacho, Janot apontara que Cunha e Alves atuaram para beneficiar empreiteiras
no Congresso, recebendo doações em contrapartida. "Houve, inclusive,
atuação do próprio Henrique Eduardo Alves para que houvesse essa destinação de
recursos, vinculada à contraprestação de serviços que ditos políticos
realizavam em benefício da OAS", escreveu Janot.
*UOL/SP
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