Os donos da JBS disseram em delação à
Procuradoria-Geral da República (PGR) que gravaram o presidente Michel Temer
dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da
Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que ele foi preso na
operação Lava Jato. A informação é do colunista
do jornal "O Globo" Lauro Jardim.
Segundo o jornal, o empresário Joesley Batista entregou uma
gravação feita em março deste ano em que Temer indica o deputado Rodrigo Rocha
Lourdes (PMDB-PR) para resolver assuntos da J&F, uma holding que controla a
JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes foi filmado recebendo uma mala com R$ 500
mil, enviados por Joesley.
Em outra gravação, também de março, o empresário diz a Temer que estava
dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que permanecessem
calados na prisão. Diante dessa informação, Temer diz, na gravação: "tem
que manter isso, viu?"
Na delação de Joesley, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é
gravado pedindo ao empresário R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro a um primo de
Aécio foi filmada pela Polícia Federal (PF). A PF rastreou o caminho do
dinheiro e descobriu que foi depositado numa empresa do senador Zeze Perrella
(PSDB-MG).
Nem Temer nem Aécio se manifestaram ainda sobre a declaração.
Segundo o jornal, em duas ocasiões em março deste ano Joesley conversou
com Temer e com Aécio levando um gravador escondido.
O colunista conta que os irmãos Joesley e Wesley Batista estiveram na
quarta-feira passada no Supremo Tribunal Federal (STF) no gabinete do ministro
relator da Lava Jato, Edson Fachin – responsável por homologar a delação dos
empresários. Diante dele, os empresários teriam confirmado que tudo o que
contaram à PGR em abril foi de livre e espontânea vontade.
Joesley contou ainda que seu contato no PT era Guido Mantega,
ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff. Segundo "O Globo", o
empresário contou que era com Mantega que o dinheiro da propina era negociado
para ser distribuído aos petistas e aliados, e também era o ex-ministro que
operava os interesses da JBS no BNDES.
Cunha
Joesley disse na delação que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após
sua prisão na Lava Jato. O valor, segundo o jornal, seria referente a um saldo
de propina que o deputado tinha com o empresário.
Joesley Batista disse ainda que devia R$ 20 milhões por uma tramitação
de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.
Investigação
Segundo o jornal, pela primeira vez a PF fez "ações
controladas" para obter provas. Os diálogos e as entregas de dinheiro
foram filmadas e as cédulas tinham os númjeros de série controlados. As bolsas
onde foram entregues as quantias tinham chips de rastreamento.
Durante todo o mês de abril, foram entregues quase R$ 3 milhões em
propina rastreada.
O jornal informou que as conversas para a delação dos irmãos donos da
JBS começaram no final de março. Os depoimentos foram coletados do início de
abril até a primeira semana de maio. O negociador da delação foi o diretor
jurídico da JBS, Francisco Assis da Silva, que depois também virou delator.
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