A doença que deixa a glicose nas alturas também contribui para a hipertensão e seus danos cardiovasculares. Entenda essa conexão e aprenda a contornar a dupla ameaça às artérias
São tantos diabéticos com pressão alta no Brasil que
daria para povoar a cidade do Rio de Janeiro só com eles - cerca de 6,5
milhões de habitantes, ou quase 3,3% da nossa população, encaixam-se nesse
perfil. Não por menos, a condição marcou presença no 31o Congresso Brasileiro
de Endocrinologia e Metabologia, realizado em Curitiba no mês de setembro.
“Precisávamos discutir essa ligação e as melhores abordagens para lidar com
ela”, conta o cardiologista Emilton Lima Júnior, da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, que deu uma aula sobre o assunto durante o evento. “Afinal,
quando as duas doenças se manifestam juntas, geralmente provocam
problemas cardiovasculares mais graves”, justifica.
Mas
o que o diabete tem a ver diretamente com o aperto nas artérias? “O aumento na
taxa de glicose típico da enfermidade altera a estrutura dos vasos. Eles ficam
predispostos à deposição de placas de gordura, capazes de enrijecê-los”,
explica o cardiologista José Luiz Aziz, da Sociedade de Cardiologia do Estado
de São Paulo. No momento em que isso ocorre, a pressão dispara. Tem mais: o
excesso de açúcar circulante promove um estado inflamatório crônico. E esse
cenário, sozinho, já deixa os tubos por onde passa o sangue bem menos
flexíveis.
Modificações
estruturais nas artérias não são o único motivo que faz do diabete um estopim
para a pressão alta. “O excesso de insulina liberado pelo organismo para baixar
níveis de glicose eleva a atividade do sistema nervoso simpático”, aponta a
endocrinologista Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia. O que isso quer dizer? Bem, o tal sistema nervoso simpático rege
um conjunto de comandos que visa acelerar processos fisiológicos como os
batimentos cardíacos e a respiração. Para ter ideia, ele trabalha bastante em
situações de estresse e fica praticamente desligado durante o sono. Acontece
que, quando é superativado - seja por concentrações estratosféricas de
insulina, seja por outra razão -, acaba estimulando uma contração exagerada dos
vasos. Aí, mais uma vez, abre-se a brecha para a hipertensão.
Nem doce nem salgado demais
As
táticas que ajudam um diabético a segurar a pressão são as mesmas preconizadas
para qualquer ser humano: fazer exercícios, evitar o álcool, comer direito...
Mas esse pessoal, às vezes até por se preocupar muito com o açúcar, dá menos
atenção a outros ajustes na dieta. “Essa população também precisa equilibrar
pra valer o consumo de sódio”, avisa Maria Edna. Nesse contexto, o refrigerante
zero serve como um bom alerta. Embora livre de açúcar, ele carrega doses
significativas do mineral que compromete as artérias — e nem por isso é visto
com cautela por grande parte dos portadores de diabete. A ordem, portanto, é
maneirar nos dois ingredientes.
Agora,
se a hipertensão der as caras, os médicos têm à disposição uma série de
remédios para domá-la. “Existem 59 moléculas no Brasil que tratam a doença”,
estima Aziz. Entretanto, algumas podem prejudicar o controle da glicose. Cabe
ao especialista achar uma alternativa a essa encruzilhada - e, ao paciente,
seguir as recomendações para seguir sua vida numa boa, livre de apertos.
De pouco em pouco
Ao
adotar todas as atitudes abaixo, o diabético reduz a pressão de 21 a 55 mmHg. E
isso diminui em duas vezes o risco de infarto e AVC
*Perda
de peso
É
um dos jeitos mais eficazes de mandar a hipertensão para longe. A cada 10
quilos eliminados, perdem-se de 5 a 20 mmHg.
*Dieta
Dash
O
cardápio, criado justamente para combater a pressão alta, inclui frutas,
verduras, grãos integrais e lácteos magros. Investir nesses alimentos derruba
de 8 a 14 mmHg.
*Restrição
do sal
O
limite é o mesmo para todos: 2 gramas de sódio por dia, o equivalente a 5
gramas de sal de cozinha. Isso lima entre 2 e 8 mmHg.
*Maneirar
no álcool
O
excesso de drinques está relacionado ao desenvolvimento da hipertensão e
interfere no efeito dos fármacos. Não abusar baixa a pressão em 2 a 4 mmHg.
*Atividade
física
Suar
a camisa faz com que os vasos permaneçam íntegros por mais tempo. A prática
aplaca de 4 a 9 mmHg.
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