Os profissionais da saúde pública que servem ao Governo do Estado
anunciaram que entrarão em greve geral a partir do dia 1º de agosto. A
decisão foi tomada na manhã desta quinta-feira, durante assembleia
realizada pelo sindicato da categoria – o Sindsaúde, que alegou falta de
diálogo entre a governadora Rosalba Ciarlini, Secretaria Estadual de
Administração e servidores. Segundo a direção do Sindicato, a pauta de
reivindicações foi entregue há dois meses, mas a postura do governo tem
sido “desrespeitosa” com a categoria. Se a adesão dos servidores vier a
ser unânime, mais de 16 mil profissionais, sem incluir os médicos, irão
parar os serviços.
Essa data para inicio da paralisação já havia sido preestabelecida no
mês passado. A intenção do sindicato, segundo a coordenadora geral da
categoria, Simone Dutra, era conseguir um diálogo com o governo capaz de
reverter essa condição da greve. “Entretanto, não conseguimos ser
ouvidos. Chegamos a ser recebidos pela Secretaria de Estado da Saúde
Pública (Sesap), mas o secretário Luiz Roberto [Fonseca], apesar de se
mostrar sensibilizado com nossas pautas, disse que não tinha competência
para negociar conosco”, disse.
Simone também afirmou que procurou o secretário de Administração,
Alber Nógrega, mas esse se mostrou sem atitude. “Ele até agora não
recebeu os servidores e nem se pronunciou. Tem cancelado audiências
pré-agendadas e negado os pedidos de reuniões conosco e com a Sesap”,
afirmou. A principal pauta defendida pelos servidores é o cumprimento
das exigências salariais e relativas ao Plano de Cargos e Salários.
Conforme explanado pelo Sindsaúde, no ano passado o Governo do Estado
chegou a mexer na planilha salarial dos servidores. “Quando o governo
estabeleceu novas medidas, colocou valores inferiores aos que ganhávamos
em 2006 e 2007. Valores bem aquém do que recebíamos antes”, disse
Simone Dutra. “Nós queremos o cumprimento do Plano, que inclui pagamento
de reajuste aos aposentados e igualdade salarial dos servidores
municipalizados. Nos sentimos constantemente penalizados”, disse.
Além do cumprimento do Plano de Carlos e Salários, os servidores
ainda querem antecipação dos 25% de incorporação da Jornada Especial de
fevereiro de 2014 para novembro de 2013; incorporação dos 50% restantes
das gratificações no salário-base em março de 2014; e também a revisão
do referido Plano de Cargos, com isonomia salarial dos servidores do SUS
do RN, implantação de tabela de qualificação, data-base para reajuste
salarial, garantia da Jornada Especial aos servidores municipalizados e
criação de projeto de lei que amplie o auxílio-transporte.
Também é sugerido nas pautas o adicional de insalubridade, criação de
creches por unidades de saúde, retirada dos servidores do prédio da
Sesap, eleição para diretores de unidades de saúde, estatização do
Hospital da Mulher de Mossoró e estadualização dos hospitais regionais
de Santa Cruz e Currais Novos.
Durante a assembleia do Sindicato, diversos profissionais deram
depoimentos relatando não só as melhorias de trabalho, mas também as
condições de atendimento dos hospitais. A auxiliar de laboratório do
Hospital Santa Catarina afirmou que a superlotação do espaço piora cada
vez mais. “O nosso maior problema hoje é relacionado à Pediatria, que
vive fechada por falta de profissionais e, os poucos que tem, são
direcionados para outros setores”, disse. “Essa greve não é apenas para
melhorar a nossa condição de trabalho, mas, acima de tudo, para
pressionar o governo a melhorar o atendimento do povo”, declarou.
Ismael Fonseca, que trabalha há 13 anos no Hospital João Machado,
também fez questão de pontuar a precariedade do atendimento à população.
Segundo ele, o leito feminino, que comporta doze pessoas, passou a
noite de ontem com 16 pacientes, sendo quatro deles atendidos no chão do
hospital. “Não há leitos para todo mundo. Esse mesmo problema que
acontece na ala feminina também ocorre na masculina e muitas vezes em
condições piores. Já houve dia em que foram colocadas 14 pessoas no
chão. Isso é desumano”.
Para Ismael, a greve deve reforçar a falta de viabilidade de recurso
nos centros hospitalares. “Falta investimento em tudo. Na compra de
leitos e equipamentos até aos insumos a serem usados no dia-a-dia. É por
isso que não podemos continuar esperando a boa vontade do governo. Se
eles não negociam verbalmente, terão que negociar as melhorias perante a
greve”, disse.
Por: Carolina Souza-Portal JH
Foto:Wellington Rocha
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