Pela primeira vez na história milenar do catolicismo, o
Papa reinante Francisco e seu predecessor, o Papa Emérito Bento XVI, se
reuniram neste sábado, no palácio apostólico de Castel Gandolfo, uma
ocasião inédita que se iniciou com um cálido abraço entre os dois
pontífices.
Dez dias depois de sua eleição, o Papa Francisco foi de helicóptero
até a tranquila localidade ao sul de Roma e foi recebido pessoalmente
por Bento XVI no heliporto da residência de veraneio papal.
"O abraço no heliporto entre o Papa e o Papa emérito foi muito
bonito", comentou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
Nas imagens distribuídas pela televisão do Vaticano, os dois Papas
foram vistos usando a batina branca papal, e era visível que Bento XVI
caminhava com dificuldade, apoiado por uma bengala, com o rosto
envelhecido, embora emocionado.
Os dois papas conversaram em particular por 45 minutos na biblioteca
do palácio apostólico, enquanto inúmeras pessoas se congregaram na
pequena praça central de Castel Gandolfo para aplaudir e gritar os nomes
de Francisco e Bento e na esperança de ver os dois papas juntos na
sacada do palácio.
Durante o encontro, o Papa emérito reiterou ao papa Francisco "sua
reverência e obediência", e novo pontífice, por sua vez, manifestou seu
"agradecimento próprio e de toda a Igreja pelo ministério desenvolvido
por Bento XVI durante seu pontificado", informou o porta-voz.
Durante o histórico encontro, os dois líderes religiosos também rezaram na capela do palácio apostólico.
"Papa Francisco quis que se sentassem juntos, no mesmo banco, para
rezar. Ele disse: 'somos irmãos'", contou Lombardi, depois de explicar
que o Papa emérito havia oferecido a seu sucessor o posto de honra.
Durante o encontro privado na biblioteca, Francisco presenteou seu Bento XVI com uma imagem da "Virgem da humildade".
"Francisco disse que escolheu esta virgem porque pensou nele e em
todos os exemplos de humildade que deu durante seu pontificado",
explicou Lombardi.
No total, Francisco permaneceu quase três horas em Castel Gandolfo, e depois regressou ao Vaticano.
"Trata-se da primeira transição da história entre dois pontificados", enfatizou neste sábado o jornal italiano La Stampa.
Os assuntos que os dois pontífices examinaram não foram divulgados,
mas é certo que que giraram em toros de temas importantes para uma
igreja com 1,2 bilhão de fiéis: a "nova evangelização", as perseguições
contra os cristãos, a reforma da Cúria, as divisões internas, os
escândalos envolvendo dinheiro e sexo, incluindo os terríveis casos de
pedofilia.
--- Bento XVI entrega seu relatório a Francisco ---
O Papa emérito fez chegar a seu sucessor o relatório ultrassecreto
que ordenou elaborar sobre a situação interna da Igreja, informou
Lombardi.
Segundo vários vaticanistas, o Papa argentino, que em várias ocasiões
citou seu "venerável predecessor", seguirá "o mapa do caminho" traçado
por Bento XVI de recuperar a autoridade perdida e terminar a limpeza
interna na Cúria.
Antes de renunciar, Bento XVI assegurou sua "obediência
incondicional" ao futuro Papa e disse que iria se retirar do mundo.
Anunciou que estaria ao lado do novo pontífice em oração e, segundo o
Vaticano, estaria pronto para dar conselhos.
Os dois homens têm temperamentos completamente diferentes: enquanto
Joseph Ratzinger se mostrava tímido diante da multidão, mesmo sendo
caloroso em privado, Jorge Bergoglio é espontâneo, vai até as pessoas e
as abraça.
O novo pontífice se distingue por um estilo informal e se mostra mais
próximo dos pobres e da simplicidade. Ainda sim, é inflexível em sua
doutrina. Sobre as questões da sociedade, Joseph Ratazinger e Jorge
Bergoglio compartilham posições conservadoras, seja quanto ao casamento
homossexual, o aborto ou a eutanásia.
Quanto aos sinais de simplicidade (anel de prata, etc) do novo Papa,
sua importância não deve ser exagerada, segundo os vaticanistas. Bento
XVI quis manter as tradições, mas viveu de forma simples.
Nos arredores do Vaticano, os cartazes e cartões postais com o
retrato de Bento XVI tendem a perder espaço para os do sorridente Jorge
Bergoglio e do midiático João Paulo II. Karol Wojtyla, beatificado em
2012, sete anos após sua morte, e que pode ser canonizado em breve,
continua a ser o "gigante de Deus" aos olhos dos católicos.
Barrigudanews
Via AFP-Yahoo Moticias
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