Por Sheyla de Azevedo l Novo Jornal
De nada valem frases de efeito e fórmulas enfadonhas sobre “como o
mundo pode ser melhor se você seguir as minhas instruções arrogantes”,
quando, na real, o mundo está precisando é de menos sujeitos e seus
locutórios e mais de bons exemplos. Gosto mesmo é quando me deparo com
ideias que realmente venham a se tornar realidade e quiçá elementos de
transformação.
Assistindo ao programa Provocações (TV Cultura), apresentado pelo
diretor, Antônio Abujamra, me deparei com a grande provocação para meu
texto de hoje: o líder de moradores de rua e presidente da ONG Bicicloteca,
Robson Mendonça. Ele vive em São Paulo e tem uma história permeada por
dores e perdas. Era agropecuarista no Rio Grande do Sul e, em 2000, foi
para São Paulo, com intenção de reconstruir sonhos junto com a família.
Chegou primeiro sozinho. Já na rodoviária sofreu um golpe de uma
quadrilha que conseguiu levar-lhe todo o dinheiro que tinha guardado nos
seus 50 anos de vida. Sem alternativa, passou a perambular pelas ruas
e, sequer conseguia fazer uma ligação para sua mulher e o casal de
filhos. Até que num dia cinzento de São Paulo, ao assistir a televisão
pela vitrine de uma loja, viu que um trágico acidente de ônibus tinha
matado uma família inteira que ia do Rio Grande do Sul para Juazeiro do
Norte (CE). A linha telefônica ficara muda para sempre, porque era deles
que o noticiário falava.
Ao invés de jogar-se nas drogas ou de se entregar à loucura dos
destituídos de esperança, jogou-se na leitura, em bibliotecas públicas. O
primeiro livro do qual se apegou foi “A Revolução dos Bichos”, de
George Orwell. E resolveu fazer sua própria revolução pessoal e social:
levar livro e literatura para os moradores de rua da metrópole. Nessa
época já estava engajado no Movimento Estadual da População em Situação
de Rua e imaginava poder carregar de um canto a outro, num carrinho de
mão, os livros para aliviar a solidão e levar conhecimento aos outros na
mesma situação.
O empreendedor Lincoln Paiva abraçou a causa e, a
partir disso, surgiu a Bicicloteca, que consiste num triciclo com baú,
que abriga até 300 livros e circula pela cidade.
Quando essas informações foram veiculadas pela Folha de São Paulo, no
final do ano passado, já tinham sido emprestados – e devidamente
devolvidos em grande parte, embora não haja o rígido controle – 107 mil
livros, a maioria para moradores de rua. Abujamra ficou nitidamente
embevecido com aquele cidadão tão provocador. Eu também. E, se não vou
sair por aí fazendo algo tão grandioso como Robson faz, ao menos vou
continuar insistindo que a leitura pode ser transformadora. Mas, de
preferência, bem longe das vazias frases de efeito.
Barrigudanews
Via O Santo Oficio
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