terça-feira, 19 de janeiro de 2021

ATÉ QUE ENFIM : ANVISA REFORÇA QUE NÃO HÁ TRATAMENTO PRECOCE CONTRA COVID-19


Ao longo da reunião que aprovou duas vacinas para o Brasil, os técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deixaram claro em seus pareceres que a ausência de alternativas terapêuticas foi um dos critérios adotados para a aprovação do uso emergencial dos imunizantes, contrariando posição do Ministério da Saúde e do presidente Jair Bolsonaro. 

Foram aprovados (17/1) os pedidos de uso emergencial das vacinas Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e a da Fiocruz com Universidade de Oxford e Astrazeneca. Os dois imunizantes são os primeiros aprovados no País para combate à Covid-19

Em sua apresentação, o gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, que também é professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, argumentou que a recomendação pela aprovação das vacinas se justificava pelo atual cenário da pandemia, aumento do número de casos e pela ausência de alternativas terapêuticas para tratar pacientes acometidos pela Covid-19.

“Em relação à Coronavac, a recomendação da área técnica da Gerência Geral de Medicamentos (GGM), baseada nas discussões que tivemos, é que tendo em vista o cenário da pandemia, o aumento do numero de caso e a ausência de alternativas terapêuticas – a situação que estamos vivendo é de muita preocupação e tensão por conta dos insumos necessários para enfrentamento da doença –, é de aprovação do uso emergencial da Coronavac, condicionada ao monitoramento e acompanhamento muito próximo das incertezas e uma sugestão de reavaliação periódica (do imunizante)”, frisou Mendes.

Com os mesmos pressupostos, a GGM também recomendou o uso emergencial da vacina da Fiocruz/Oxford. “A nossa conclusão é que com a mesma perspectiva, tendo em vista o cenário da pandemia, o aumento do numero de casos e a ausência de alternativas terapêuticas, a Gerência Geral de Medicamentos recomenda a aprovação do uso emergencial condicionada ao monitoramento das incertezas que apontamos aqui e a uma reavaliação periódica para o acompanhamento do desempenho da vacina”, acrescentou Mendes.

Também a diretora da Anvisa Merluze Freitas, relatora dos processos que pediam a aprovação das vacinas, ressaltou a questão da falta de tratamento como um ponto que embasou a decisão dos técnicos da Agência. “Nosso país atualmente responde por 10% do total das mortes (por Covid-19) observadas no mundo. Até o momento não contamos com alternativa terapêutica aprovada, disponível para prevenir ou tratar a doença provocada pelo novo coronavírus”.

“Assim, compete a cada um de nós, instituições públicas e privadas, sociedade civil e organizada, cidadãos, cada um na sua esfera de atuação, tomarmos todas as medidas ao nosso alcance para, no menor tempo possível, diminuir os impactos da Covid-19 no nosso País”, ponderou Merluze.

Passava das 14 horas, após quase cinco horas de reunião, quando os diretores Romilson Rodrigues Mota, Alex Machado Campos, Cristiane Jourdan Gomes, além de Marluze Freitas e do diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, aprovaram por unanimidade as duas vacinas.

Nos pareceres e votos que embasaram a aprovação do uso emergencial, os diretores da Anvisa também fizeram questão de defender a ciência e a segurança dos imunizantes, refutaram a existência de tratamento precoce contra a Covid-19 e criticaram o negacionismo.

“Guiada pela ciência, a equipe de servidores da Anvisa concluiu que os benefícios conhecidos e potenciais dessas vacinas superam seus riscos. Registro que os servidores da Agência têm trabalhado com dedicação integral e com o devido senso de urgência para realizar as avaliações abrangentes e rigorosas dos dados enviados para as vacinas para prevenir a Covid-19”, destacou a Merluze Freitas.

Entre os diretores, o mais incisivo contra os negacionistas e a negligência do Estado no combate à pandemia foi Alex Campos, que atuou como chefe de gabinete do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, conforme apurou o Estadão.

“No nosso vocabulário, não há espaço para negação da ciência, tão pouco para politização. A tragédia de Manaus é a expressão mais triste e revoltante da falha objetiva do Estado, em todos os níveis. A tragédia da morte por falta da terapia mais simples, o oxigênio, é um atestado ainda da nossa ineficiência, infelizmente. As imagens nos últimos dias nos fazem prestar homenagem sincera a esses brasileiros do Amazonas, mas a todos os brasileiros que foram vítimas da Covid e da incúria do Estado”, afirmou Campos durante seu voto.

Mesmo o diretor-presidente da Anvisa, próximo a Bolsonaro (ele chegou a participar de atos públicos sem máscara com o presidente), defendeu as medidas de proteção individual e recomendou que a população se vacine. “A imunidade com a vacinação leva um tempo para se estabelecer. Mesmo vacinado, use máscara, mantenha o distanciamento social e higienize suas mãos. Essas vacinas estão certificadas pela nossa Anvisa. Foram analisadas por nós, brasileiros, no menor e melhor tempo estabelecido por nossos especialistas. Confie na Anvisa, confie nas vacinas que a Anvisa certifica e, quando elas estiverem ao seu alcance, vá e se vacine”, declarou Barra Torres.

Os medicamentos indicados pelo Ministério da Saúde, como cloroquina, hidroxicloroquina e o vermífugo ivermectina são rejeitados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), por não terem eficácia contra a Covid-19 e ainda poderem trazer complicações.

“A cloroquina não funciona no combate à Covid-19 e isso já está bem estabelecido. Infelizmente, tem muita desinformação e quando tem mensagem de pessoas em posição de autoridade dizendo que funciona, causa problemas na população”, revelou ao portal Metrópoles o epidemiologista da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez.

Se o medicamento ainda não fizesse mal para quem toma, o problema de usar a cloroquina seria menor. Porém, essa não é a realidade, ponderou Sanchez. “Ele pode causar distúrbio cardíaco e os problemas são potencializados se usar azitromicina junto. A mistura pode causar taquicardia ventricular. Há um risco importante disso acontecer, então não é uma coisa tão inócua”, salientou.

Já o vermífugo também se mostra inútil para combater a infecção causada pelo novo coronavírus. “Não há estudo que mostre que ivermectina serve para além do tratamento de piolho”, afirmou à Folha o professor da USP Gonzalo Vecina Neto, fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fonte: ICTQ

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