domingo, 10 de janeiro de 2021

FRAGMENTOS DA NOSSA HISTÓRIA: ALEXANDRINA BARRETO FERREIRA CHAVES 100 ANOS DA PARTIDA

 

Precisamente há 100 anos, era chamada à Morada Eterna aquela em cuja homenagem minha terra natal recebeu a denominação de Alexandria. 

A senhora Alexandrina Barreto Ferreira Chaves nasceu no dia 05/10/1854, no Sítio Curral Velho, distrito de Barriguda, então município de Maioridade, atualmente denominado de Martins, fruto da união do casal Domingos Velho Barreto e de Ignácia Francisca de Albuquerque Barreto.

Aos vinte anos de idade, em 09/02/1875, na Cidade de Imperatriz (Martins), ela se casou com o promotor de Justiça da localidade, o pernambucano Joaquim Ferreira Chaves Filho. Houve quatro filhos – Cincinato, Maria Luiza, Maria de Lourdes e José Barreto Ferreira Chaves –, mas apenas José, nascido em 1879, na Barriguda, alcançou a vida adulta.

Anos após, o esposo de Dona Alexandrina, já ocupando o cargo de desembargador, foi eleito governador do Estado, no primeiro pleito direto no Rio Grande do Norte, em 1895. Depois de exercer mandatos de senador da República, Ferreira Chaves novamente foi escolhido em eleição direta, no ano de 1913, para governar o Estado potiguar.

Na época, a Intendência – correspondente à atual Prefeitura – de Martins, pretendendo homenagear a ilustre filha do lugar e ao mesmo tempo prestigiar seu esposo pelo retorno à chefia do Poder Executivo do Rio Grande do Norte, deu à então povoação da Barriguda a denominação de Alexandria.

Em 1923, a povoação foi elevada à categoria de vila, permanecendo denominada de Alexandria. Todavia, quando da criação do Município, em 07/11/1930, foi instituída a denominação de João Pessoa, em homenagem ao líder político paraibano recentemente assassinado.

Decorridos menos de seis anos, surgiu um movimento pela retomada da denominação de Alexandria. Muitas eram as reclamações da população, devido aos transtornos causados pelo envio à homônima capital da Paraíba de correspondências e mercadorias destinadas ao pequeno município potiguar. Em nome dos moradores do lugar, o prefeito Manoel Emídio levou a reivindicação à capital do Estado e, após aprovação de projeto pela Assembleia Legislativa, o governador Rafael Fernandes, em 24/10/1936, sancionou lei elevando a vila de João Pessoa à categoria de cidade e lhe atribuindo a denominação de Alexandria, como forma, também, de restabelecer a justa homenagem à conterrânea.

Pouco se sabia sobre Dona Alexandrina e, por isso, resolvi pesquisar em jornais do Rio Grande do Norte, do Rio de Janeiro e de outros estados brasileiros.

Descobri que, mesmo numa época na qual a mulher praticamente não participava das decisões políticas e administrativas, Dona Alexandrina Chaves era conselheira, inspiradora e incentivadora dos muitos atos praticados pelo senador e governador Ferreira Chaves.

Ao longo da sua existência, Dona Alexandrina se destacou não apenas por ser esposa do grande homem público Ferreira Chaves, mas por sua constante benevolência e atuação em defesa dos mais necessitados.

O extinto Jornal “A República”, de Natal, em sua edição de nº 225, de 07.10.1918 (1ª página) assim se reportou à passagem do aniversário natalício da então primeira dama do Rio Grande do Norte:

“D. Alexandrina Chaves recebeu ante-hontem, á passagem do seu anniversario natallcio, as maiores pras. de estima e respeito.

Na vila “Cincinato”, compareceram, pessoalmente os representantes mais legitimos da alta sociedade natalense e tambem representantes humildes do povo que iam levar á excelsa senhora e ao seu digno esposo, des. Ferreira Chaves, os votos sinceros de congratulações por mais esse ano transcorrido de uma existência preciosa, toda ella consagrada á pratica do bem”
. (Destaque nosso).

Vítima de moléstia de Addison, Dona Alexandrina faleceu no dia 10 de janeiro de 1921, às 11 horas, na sua residência, situada na Rua Conde do Bonfim, nº 70, na cidade do Rio de Janeiro, aos 66 anos, sendo o registro de óbito lavrado, na mesma data, às fls. 82 verso, do livro nº C-113, sob o nº 63, da atual 8ª Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato, do Bairro da Tijuca. O sepultamento ocorreu no Cemitério São Francisco Xavier, Caju, na então capital da República.

O falecimento de Dona Alexandrina, cujo esposo, na época, exercia o cargo de ministro da Marinha, foi noticiado em diversos jornais deste Estado e do Rio de Janeiro, todos lamentando profundamente o ocorrido e enfocando as virtudes da extinta.

No Rio Grande do Norte, o primeiro órgão de imprensa a divulgar o óbito foi o Jornal “A República”, que, na página 1, da edição de 11.01.1921, publicou telegrama oriundo do Rio de Janeiro.

Em sua primeira página da edição do dia seguinte, o jornal “A República” publicou a seguinte nota:

“A notícia da morte de d. Alexandrina Chaves causou hontem, nesta cidade, uma emoção profunda.

Era, por um lado, a dor dos que se sentiam presos por vínculos de parentesco e sentimentos de amizade, por outro lado, a admiração por essa personalidade de escol, alma de santa e coração cheio de bondades infinitas, que fora para o desembargador Ferreira Chaves não só a companheira de uma longa vida conjugal perfeita, mas também a collaboradora e a inspiradora de muitos dos seus actos praticados para o bem e a felicidade do Rio Grande do Norte”.

E prossegue o jornal:

“D. Alexandrina passou pela vida sem causar voluntariamente um desgosto a quem quer que seja, enxugando muitas lágrimas, confortando muitas dores e criando em torno do esposo uma aureola da bondade que della se irradiava.

A edade que avançava a ninguém trazia a impressão de velhice, porque o espírito se remoçava pela prática de virtudes peregrinas, encaminhando-se para a perfeição absolucta.

Ao sabel-a morta, veio-nos a primeira impressão de uma alma que subia aos céus num coro de bênçãos e saudades”.

Importante referência a Dona Alexandrina fez parte de discurso proferido pelo Deputado Federal José Augusto Bezerra de Medeiros, ex-governador do Estado, no Plenário da Câmara dos Deputados, sobre o falecimento de Ferreira Chaves,
na sessão de 13.03.1937, e transcrito pelo Jornal “A República”, edição de 20.03.1937 (sábado):

“O Deputado José Augusto faz, na Câmara, o necrológio do ilustre político e magistrado”.

“Começarei pelo sr. Senador Ferreira Chaves.
Sou seu amigo de todas as horas, bonançosas ou tempestuosas.
Convivi sempre na intimidade do seu lar, presidido pelo coração de uma santa, que era d. Alexandrina Chaves.
A affeição que sempre nos uniu era sincera, profunda, imensa”.
(grifo acrescido).

Em sua obra MARTINS, o alexandriense Manoel Jácome de Lima (Professor Dubas), ao se referir à conterrânea Alexandrina, afirma: “Senhora de elevados dotes morais e sociais, conservou em Natal e no Rio de Janeiro, os costumes de simplicidade e bondade tão peculiares à mulher sertaneja”.

Dentre os diversos afilhados do casal Ferreira Chaves, destaca-se o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo, consagrado mundialmente, que no livro de memórias “O Tempo e Eu – Confidências e Proposições”, traz detalhes do seu batizado, celebrado pelo Padre João Maria, em 09.05.1899, na Igreja do Bom Jesus das Dores, em Natal:

“Minha madrinha Alexandrina Chaves trouxe-me nos braços, da capela do Bom Jesus até nossa casinha. A mãe do batizando não devia assistir à cerimônia. Minha madrinha entregou-me à mamãe com as palavras que a tradição esqueceu: Minha comadre, aqui está seu filho que levei pagão e lhe entrego cristão! Fiquei sendo”.

Os mais próximos descendentes de Alexandrina Barreto Ferreira Chaves são dois trinetos, irmãos entre si. Um deles é advogado e reside nos Estados Unidos e a outra é médica, radicada na cidade de Teresina/PI.

GEORGE Antonio de Oliveira VERAS
Advogado e pesquisador

3 comentários:

  1. Meus parabéns ao nobre alexandriense, advogado e historiador Dr. George Veras. Alexandria se orgulha de ter um filho de ter um amor pela terra da primeira maravilha do RN.

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  2. Parabéns Dr George pela excelente pesquisa e nos deixar a par de uma tão grande informação para seus conterrâneos 👏👏👏

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