Médicos cubanos recrutados para trabalhar no Brasil recebem aulas de
português e informações sobre o Sistema Único de Saúde há pelo menos
seis meses. Mesmo sem a formalização de um acordo, professores
brasileiros, usando material didático do Mais Médicos, viajaram para
diversas localidades de Cuba para iniciar a formação dos profissionais,
em uma sinalização de que o governo há tempos trabalha com a meta de
trazê-los para o País.
"Agora é só revisão. Boa parte do conteúdo aprendemos lá", assegurou o
médico Alfredo Rousseaux, que desembarcou semana passada em Brasília
para um estágio de três semanas. "Um dos professores daqui conheço de
vista, já deu curso lá em Cuba", completou.
A apostila de português, distribuída nesta semana para os alunos com o
logo do Mais Médicos, também já é conhecida de Rousseaux. "Os
professores exibiam projeções com o mesmo conteúdo." Os amigos Veronico
Gallardo, Marisel Velasquez Hernandez e Diego Correa também se preparam
para a temporada no País há meses. Desde o início do ano recebem uma
formação específica, voltada para o trabalho que seria feito aqui no
País. Com domínio razoável de português, Gallardo afirma ter estudado
bastante sobre problemas comuns na Região Norte, onde espera atuar.
"Devo trabalhar no Amazonas."
Rousseaux conta que todos estavam
convictos de que o desembarque no Brasil seria questão de tempo. "Fui
informado sobre a vinda mais ou menos 15 dias antes da viagem. Disseram
que era para deixar tudo pronto." O acordo entre Brasil e Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), organismo internacional encarregado de
fazer a triangulação com o governo cubano, contudo, foi formalizado
somente na quarta-feira da semana passada. Três dias depois, 400 dos 4
mil médicos desembarcaram no País.
A rapidez no desfecho destoou
com o restante do processo. A vinda dos médicos cubanos é cogitada há
meses. Só que o primeiro anúncio foi feito em maio, pelo então ministro
das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Ele afirmara na época que 6
mil profissionais viriam ao Brasil para trabalhar em locais com carência
de médicos.
Diante da polêmica criada entre entidades médicas, o
formato do programa foi alterado. Quando lançado oficialmente, no início
de julho, o Mais Médicos deu preferência para profissionais formados no
Brasil. Numa segunda chamada, viriam profissionais formados em outros
países. Na época, o governo anunciou que não havia concluído as
negociações com governo cubano.
Intercâmbio. Em nota, o Ministério
da Saúde afirmou que as aulas de professores brasileiros integram um
projeto de intercâmbio com o governo de Cuba. Em troca dos conhecimentos
repassados por cubanos sobre atenção básica, os professores brasileiros
deram aulas sobre funcionamento do SUS. Já as aulas de português fariam
parte da cooperação triangular Haiti-Cuba-Brasil.
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