Se eu fosse um LIVRO
José Jorge
Letria e André Letria
Se eu
fosse um livro,
Ia pedir a
quem me encontrasse na rua
Para me
levar pra casa.
Se eu
fosse um livro,
Dividiria
com meus leitores
Os
segredos mais antigos.
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
ter sempre um lugar reservado
No quarto
mágico de cada criança.
Se eu
fosse um livro,
Ia pedir
às pessoas para não me
Usar de
enfeite na prateleira.
Se eu
fosse um livro,
Saberia
tudo sobre Nova York
E a Roma
Antiga.
Se eu
fosse um livro,
Deveria
ser lido e relido por quem
Em
silêncio, me chamasse “amigo”.
Se eu
fosse um livro,
Não ia
querer saber logo no começo
Como a
história acaba.
Se eu
fosse um livro,
Ia saber
de cor todas as histórias
Que
morassem nas minhas páginas.
Se eu
fosse um livro,
Guardaria
bem guardados
Todos os
segredos que me contassem.
Se eu
fosse um livro,
Nunca ia
sentir pressa
De ler a
palavra “fim”.
Se eu
fosse um livro,
Não ia
gostar que me lessem só por
Obrigação
ou por estar na moda.
Se eu
fosse um livro,
Queria ser
um arranha-céu
Todo feito
de letras e sons.
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
que viajassem nas minhas páginas
Até a ilha de todos os tesouros
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
estar em todos os lugares
Onde
pudesse fazer alguém feliz.
Se eu
fosse um livro,
Teria
sempre o perfume suave
De um dia
inesquecível.
Se eu
fosse um livro,
seria uma
janela aberta
para a
imensidão do mar.
Se eu
fosse um livro,
Ia
convidar um poeta para jantar
Sempre que
um poema seu iluminasse a noite.
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
ser, antes de mais nada,
Sempre
lido e livre.
Se eu
fosse um livro,
Mesmo sem
gostar de proibir,
Eu
proibiria a palavra “ignorância”.
Se eu
fosse um livro, não ia gostar
Que alguém
fingisse que já me tinha lido,
Só para
ficar bem-visto.
Se eu
fosse um livro,
Ia ter
medo, mais do que de tudo,
Da
terrível palavra “esquecimento”.
Se eu
fosse um livro,
Ia tornar
livre e indomável
O leitor
que me escolhesse.
Se eu
fosse um livro,
Seria um
imenso poema
E daria às
palavras sentidos inesperados.
Se eu
fosse um livro,
Queria ser
uma arma eficaz e doce
Para matar
pra sempre o desejo de guerra.
Se eu
fosse um livro,
Não ia me
importar de ir para uma ilha deserta
Com um
leitor apaixonado.
Se eu
fosse um livro,
Teria
todos os rostos,
Que o
tempo quisesse me dar.
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
crescer sem limites
Até me
transformar em uma biblioteca.
Se eu
fosse um livro,
Ia querer
ouvir alguém dizer:
“Este
livro mudou minha vida”.
Enviado por Matilde Carlos.