Nesta série de diálogos da Agência
Papagoiaba, procuro sempre oferecer elementos que contribuam para pensar
a realidade social e as políticas públicas em nosso país. Porém, não
posso afirmar que no texto não há posicionamento político e ideológico.
Não tenho como escrever um texto neutro. O ser humano não é neutro. Mas
espero que minhas reflexões sirvam para provocar um debate. Não quero
que concordem, desejo muito que discutam!
A redução da maioridade penal é um tema
que ganha novamente fomento da mídia, geralmente, quando um crime
trágico ocorre e algum adolescente está envolvido ou é autor da
violência. Abre-se espaço para um discurso de que “por ser ‘dimenor’ ele
não é punido”. Sabe-se que o “dimenor”, falado na imprensa, nunca é o
criminoso da classe média (aquele que nunca é traficante, apenas usuário
de drogas que o papai financia), diferentemente da realidade da maioria
dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.
Compreende-se que toda população sofre
com a criminalidade e as péssimas políticas de segurança pública no
país. Mas não consigo compreender, se com os adultos o encarceramento
não reduz os níveis de violência, porque queremos colocar mais pessoas
(leia-se adolescentes) nas cadeias? O discurso de que: “se ele souber
que será punido, não fará o ato”, não “cola” pra mim.
As pessoas cometem crimes por diversos
fatores, entre eles: pobreza e “falta de oportunidades” na sociedade do
consumo, sustento da dependência química, além da existência de
psicopatias humanas. Percebo que a maioria destas causas, teriam
soluções, inclusive preventivas, quando pensarmos, por exemplo na(o):
- Redução das desigualdades sociais e suporte aos núcleos familiares, que muitas vezes pedem auxílio e o Estado é omisso;
- Investimento nas políticas de saúde mental e redução dos danos vinculados às drogas;
- Fortalecimento da política educacional e apoio aos profissionais da educação
Nunca ouvi que o crime reduziu porque a
pena aumentou! Não vejo finalidade nisto. Daqui um tempo, se algum
adolescente de 14 anos cometer um crime hediondo e a política prever que
a maioridade penal inicia-se aos 16 anos, o debate ressurgirá e
continuaremos discutindo as exceções do sistema, já que a maioria dos
atos infracionais, comprovadamente são contra o patrimônio. Onde iremos
parar?
Estaremos inserindo cada vez mais precocemente adolescentes e quem sabe
crianças num sistema penal, que não trará possibilidades educativas, nem
proverá acesso destas pessoas à um futuro. É condenar um jovem à morte.
Não a “morte matada”, mas a morte de um projeto de vida, talvez uma
alternativa que nunca lhe foi apresentada.
TEXTO PRODUZIDO POR EMILLY MARQUES- LEIA MAIS - Agência Papagoiaba
Apresentado ao Barrigudanews por Edna Gomes
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