domingo, 30 de junho de 2019

É FIM DE MÊS ... A Hodiernidade de Raul Santos Seixas


É fim do mês, é fim do mês,
Do fim do mês, já sô freguês é fim do mês,
É fim do mês, é fim do
Mês!

Eu já paguei a conta do meu telefone,
Eu já paguei por eu falar e já paguei por eu ouvir.
Eu já paguei a luz, o gás, o apartamento
Kitnet de um quarto que eu comprei a prestação
Pela caixa federal, au, au, au,
Eu não sou cachorro não (não, não, não)!
Eu liquidei a prestação do paletó,
Do meu sapato, da camisa
Que eu comprei pra domingar com o meu amor
Lá no cristo redentor,
Ela gostou (oh!) e mergulhou (oh!)
E o fim de mês vem outra vez!

Eu já paguei o peg-pag, meu pecado,
Mais a conta do rosário
Que eu comprei pra mim rezar ave maria.
Eu também sou filho de Deus
Se eu não rezar eu não vou pro céu,
Céu, céu, céu.
Já fui pantera, já fui hippie, beatnik,
Tinha o símbolo da paz pendurado no pescoço
Porque nego disse a mim
Que era o caminho da salvação.
Já fui católico, budista, protestante,
Tenho livros na estante, todos tem explicação.
Mas não achei! eu procurei!
Pra você ver que procurei,
Eu procurei fumar cigarro hollywood,
Que a televisão me diz que é o cigarro do sucesso.
Eu sou sucesso! eu sou sucesso!
No posto esso encho o tanque do meu carro
Bebo em troca meu cafezinho, cortesia da matriz.
"there's a tiger no chassis"...
Do fim do mês,
Do fim de mês,
Do fim de mês eu já sou freguês!
Eu já paguei o meu pecado na capela
Sob a luz de sete velas
Que eu comprei pro meu senhor
Do bonfim, olhai por mim!
Tô terminando a prestação do meu buraco, do
Meu lugar no cemitério pra não me preocupar
De não mais ter onde morrer.
Ainda bem que no mês que vem,
Posso morrer, já tenho o meu tumbão,
O meu tumbão!

Eu consultei
E acreditei no velho papo do tal psiquiatra
Que te ensina como é você vive alegremente,
Acomodado e conformado de pagar tudo calado,
Sem bancar o empregado sem jamais se aborrecer...
(ele só que, só pensa em analisar,
Na profissão seu dever é adaptar,
Ele só que só pensa em adaptar,
Na profissão seu dever é adaptar)
Eu já paguei a prestação da geladeira,
Do açougue fedorento que me vende carne podre
Que eu tenho que comer,
Que engolir sem vomitar,
Quando às vezes desconfio
Se é gato, jegue ou mula
Aquele talho de acém
Que eu comprei pra minha patroa
Pra ela não me apoquentar,

E o fim de mês vem outra vez...

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