O site
"Intercept" divulgou na noite deste domingo (9) trechos de mensagens
atribuídas a procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e ao então
juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça,
extraídas do aplicativo Telegram.
Os
alvos dessas conversas denunciaram recentemente que tiveram seus celulares
hackeados ilegalmente, o que é crime.
O
"Intercept", no entanto, disse que obteve os diálogos antes dessa
invasão. Segundo o site, as informações foram obtidas de uma fonte anônima. O
site diz que procuradores, entre eles Deltan Dallagnol, trocaram mensagens com
Moro sobre alguns assuntos investigados.
Segundo
o site "Intercept", o então juiz Sérgio Moro orientou ações e cobrou
novas operações dos procuradores. Em um dos diálogos, Moro pergunta a
Dallagnol, segundo o site: "Não é muito tempo sem operação?" O chefe
da força-tarefa concorda: "É, sim".
Numa
outra conversa, o site diz que é Dallagnol que pede a Moro para decidir
rapidamente sobre um pedido de prisão: "Seria possível apreciar
hoje?" E Moro responde: "Não creio que conseguiria ver hoje. Mas
pensem bem se é uma boa ideia".
Nove
minutos depois, Moro, segundo o "Intercept", adverte a Dallagnol:
"Teriam que ser fatos graves".
Autorização para Lula conceder entrevista
O site
também diz que os procuradores da Lava Jato, em conversas no Telegram, trocaram
mensagens expressando indignação quando o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi autorizado pelo ministro Ricardo
Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), a dar uma entrevista à
"Folha de S.Paulo".
Isso demonstraria, segundo o
"Intercept", um viés partidário nas ações contra o ex-presidente
Lula, cuja eleição, diz o site, os procuradores queriam evitar.
Segundo o
"Intercept", a procuradora Laura Tessler afirmou: "Que piada!!!
Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. E
depois de Mônica Bergamo, pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas… E
a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse…"
Outra
procuradora, Isabel Groba, ainda segundo o "Intercept", respondeu da
seguinte maneira: "Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"
Uma hora
mais tarde, a procuradora Laura Tessler escreveu: "Sei lá…Mas uma coletiva
antes do segundo turno pode eleger o Haddad".
De acordo
com o "Intercept", mensagens atribuídas aos procuradores mostram que
eles chegaram a traçar estratégias para cassar a autorização, por temerem que a
entrevista ajudasse a eleger o então candidato do PT, Fernando Haddad.
Um dos
procuradores, Januário Paludo, teria proposto: "Plano A: tentar recurso no
próprio STF. Possibilidade zero. Plano B: abrir para todos fazerem a entrevista
no mesmo dia. Vai ser uma zona mas diminui a chance da entrevista ser
direcionada".
Segundo o
“Intercept”, outro procurador, Athayde Ribeiro Costa, sugeriu expressamente que
a Polícia Federal manobrasse para que a entrevista fosse feita depois das
eleições, já que não havia indicação explícita da data em que ela deveria
ocorrer.
Segundo a
reportagem, Athayde Ribeiro Costa escreveu: "N tem data. Só a PF agendar
pra dpis das eleições. Estará cumprindo a decisão. E se forçarem antes, desnuda
ainda mais o caráter eleitoreiro".
Os
procuradores, sempre segundo o "Intercept", comemoraram quando a
autorização para a entrevista foi cassada depois que uma liminar foi obtida
pelo Partido Novo. O procurador Januário Paludo escreveu: "Devemos
agradecer à nossa PGR: Partido Novo!!"
Dúvidas sobre denúncia contra
Lula
Ainda segundo o “Intercept”, mensagens atribuídas a Deltan
Dallagnol, chefe dos procuradores da Lava Jato, sugeririam dúvidas sobre a
solidez da denúncia contra o ex-presidente Lula
no caso do triplex de Guarujá, quatro dias antes de ela ser
oferecida ao então juiz Moro.
Dallagnol teria enviado a seguinte mensagem para um
grupo: "Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e
indícios frágeis… Então, é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse
item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e
depois que me falaram tô com receio da história do apto… são pontos em que
temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua."
Em outro trecho de conversa, pelo Telegram, segundo
o “Intercept”, Moro passou para Dallagnol pistas de suposta transferência de
propriedade para um dos filhos de Lula. "Aparentemente a pessoa estaria
disposta a prestar a informação", disse o juiz.
O procurador responde: "Obrigado, faremos
contato".
Mas a pessoa não quis falar com os procuradores, o
que levou Dallagnol a dizer para Moro que argumentaria ter recebido notícia
apócrifa, para intimá-la a depor. Moro aconselha: "Melhor formalizar,
então".
O site “Intercept” diz que na Constituição brasileira
um juiz não pode aconselhar o Ministério Público, nem direcionar seu trabalho.
Deve apenas se manifestar nos autos dos processos, para resguardar a sua
imparcialidade.
Juristas ouvidos pelo “Intercept” disseram que a
proximidade entre procuradores e juízes é normal no Brasil – ainda que, segundo
esses especialistas, seja imoral e viole o código de ética dos magistrados.
O que
dizem Moro, a defesa de Lula e a força-tarefa
O ministro Sérgio Moro lamentou que a reportagem
não indicasse a fonte das informações e o fato de não ter sido ouvido (veja
a íntegra da nota abaixo).
Segundo ele, no conteúdo das mensagens que citam
seu nome, "não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da
atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do
sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção
revelado pela Operação Lava Jato".
A defesa do ex-presidente Lula divulgou nota em que
diz que: “A atuação ajustada dos procuradores e do ex-juiz da causa, com
objetivos políticos, sujeitou Lula e sua família às mais diversas
arbitrariedades” (veja íntegra mais abaixo).
A nota continua: “Ninguém pode ter dúvida de que os
processos contra o ex-presidente Lula estão corrompidos pelo que há de mais
grave em termos de violações a garantias fundamentais e à negativa de direitos.
O restabelecimento da liberdade plena de Lula é urgente”.
A força-tarefa da Lava Jato divulgou uma nota
declarando que seus integrantes foram vítimas de ação criminosa de um
hacker (veja íntegra mais abaixo). E que esse hacker praticou os
mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à
segurança de seus integrantes.
Segundo a nota, o hacker invadiu telefones e
aplicativos dos procuradores da Lava Jato e teve acesso à identidade de alguns
deles.
Ainda segundo a força-tarefa, o autor do ataque
obteve cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de
trabalho.
Dentre as informações ilegalmente copiadas,
possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em
andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da
força-tarefa e de suas famílias.
A força-tarefa afirma que os dados eventualmente
obtidos refletem uma atividade desenvolvida com "pleno respeito à legalidade
e de forma técnica e imparcial".
A nota afirma ainda que os procuradores mantiveram,
ao longo dos últimos cinco anos, discussões em grupos de mensagens, sobre
diversos temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões pessoais. E que vários
dos integrantes da força-tarefa de procuradores "são amigos próximos e,
nesse ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras".
A nota afirma que "muitas conversas, sem o
devido contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas".
A força-tarefa afirma que "estará à disposição
para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua
responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena
licitude e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu
trabalho à sociedade".
Íntegra
da nota do ministro Sérgio Moro
"Sobre supostas mensagens que me
envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho,
lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão
criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não
entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo.
Quanto ao conteúdo das mensagens que me
citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação
enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do
sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção
revelado pela Operação Lava Jato".
Íntegra
da nota da força-tarefa da Lava Jato
"A força-tarefa da Lava Jato no
Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR) vem a público informar que seus
membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os mais
graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança
de seus integrantes.
A ação vil do hacker invadiu telefones e
aplicativos de procuradores da Lava Jato usados para comunicação privada e no
interesse do trabalho, tendo havido ainda a subtração de identidade de alguns
de seus integrantes. Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se
sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações
privadas e de trabalho.
Dentre as informações ilegalmente
copiadas, possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e
investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos
integrantes da força-tarefa e de suas famílias.
Há a tranquilidade de que os dados
eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à
legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco anos de Operação.
Contudo, há três preocupações. Primeiro,
os avanços contra a corrupção promovidos pela Lava Jato foram seguidos, em
diversas oportunidades, por fortes reações de pessoas que defendiam os
interesses de corruptos, não raro de modo oculto e dissimulado.
A violação criminosa das comunicações de
autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna
com o objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos seus
membros e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade – seja
física, seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além disso,
na medida em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal cria
enormes riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de
seus familiares e amigos.
Em segundo lugar, uma vez ultrapassados
todos os limites de respeito às instituições e às autoridades constituídas na
República, é de se esperar que a atividade criminosa continue e avance para
deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar integral ou
parcialmente informações e disseminar “fake news”.
Entretanto, os procuradores da Lava Jato
não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor
e deturpar suas vidas pessoais e profissionais. A atuação sórdida daqueles que
vierem a se aproveitar da ação do “hacker” para deturpar fatos, apresentar
fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações
atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato.
Por fim, os procuradores da Lava Jato em
Curitiba mantiveram, ao longo dos últimos cinco anos, discussões em grupos de
mensagens, sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões
pessoais que lhes dão contexto. Vários dos integrantes da força-tarefa de
procuradores são amigos próximos e, nesse ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras.
Muitas conversas, sem o devido contexto, podem dar margem para interpretações
equivocadas.
A força-tarefa lamenta profundamente pelo
desconforto daqueles que eventualmente tenham se sentido atingidos.
Diante disso, em paralelo à necessária continuidade
de seu trabalho em favor da sociedade, a força-tarefa da Lava Jato estará à
disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua
responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena
licitude e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu
trabalho à sociedade.
Contudo, nenhum pedido de esclarecimento
ocorreu antes das publicações, o que surpreende e contraria as melhores
práticas jornalísticas. Esclarecimentos posteriores, evidentemente, podem não
ser vistos pelo mesmo público que leu as matérias originais, o que também fere
um critério de justiça. Além disso, é digno de nota o viés tendencioso do
conteúdo até o momento divulgado, o que é um indicativo que pode confirmar o
objetivo original do hacker de, efetivamente, atacar a operação Lava Jato.
De todo modo, eventuais críticas feitas
pela opinião pública sobre as mensagens trocadas por seus integrantes serão
recebidas como uma oportunidade para a reflexão e o aperfeiçoamento dos
trabalhos da força-tarefa.
Em paralelo à necessária reflexão e
prestação de contas à sociedade, é importante dar continuidade ao trabalho.
Apenas neste ano, dezenas de pessoas foram acusadas por corrupção e mais de 750
milhões de reais foram recuperados para os cofres públicos. Apenas dois dos
acordos em negociação poderão resultar para a sociedade brasileira na
recuperação de mais de R$ 1 bilhão em meados deste ano. No total, em Curitiba,
mais de 400 pessoas já foram acusadas e 13 bilhões de reais vêm sendo recuperados,
representando um avanço contra a criminalidade sem precedentes. Além disso, a
força-tarefa garantiu que ficassem no Brasil cerca de 2,5 bilhões de reais que
seriam destinados aos Estados Unidos.
Em face da agressão cibernética, foram
adotadas medidas para aprimorar a segurança das comunicações dos integrantes do
Ministério Público Federal, assim como para responsabilizar os envolvidos no
ataque hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa. Desde o primeiro
momento em que percebidas as tentativas de ataques, a força-tarefa comunicou a
Procuradoria-
Geral da República para que medidas de segurança pudessem ser
adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma direção, um grupo de
trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi constituído para, em
auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR,
aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de prevenção a novas
investidas criminosas.
Em conclusão, os membros do Ministério
Público Federal que integram a força-tarefa da operação Lava Jato renovam
publicamente o compromisso de avançar o trabalho técnico, imparcial e
apartidário e informam que estão sendo adotadas medidas para esclarecer a
sociedade sobre eventuais dúvidas sobre as mensagens trocadas, para a apuração
rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo e para minorar os riscos à
segurança dos procuradores atacados e de suas
famílias".
Íntegra
da nota da defesa do ex-presidente Lula
Nota de Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula:
"Em diversos recursos e em
comunicado formalizado perante o Comitê de Direitos Humanos da ONU em julho de
2016 demonstramos, com inúmeras provas, que na Operação Lava Jato houve uma
atuação combinada entre os procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro com o objetivo
pré-estabelecido e com clara motivação política, de processar, condenar e
retirar a liberdade do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem
publicada hoje (09/06/2019) pelo portal “The Intercept” revela detalhes dessa
trama que foi afirmada em todas as peças que subscrevemos na condição de
advogados de Lula a partir dos elementos que coletamos nos inquéritos, nos
processos e na conduta extraprocessual dos procuradores da Lava Jato e do
ex-juiz Sergio Moro.
A atuação ajustada dos procuradores e do
ex-juiz da causa, com objetivos políticos, sujeitou Lula e sua família às mais
diversas arbitrariedades. A esse cenário devem ser somadas diversas outras
grosseiras ilegalidades, como a interceptação do principal ramal do nosso
escritório de advocacia para que fosse acompanhada em tempo real a estratégia
da defesa de Lula, além da prática de outros atos de intimidação e com o claro
objetivo de inviabilizar a defesa do ex-Presidente.
Ninguém pode ter dúvida de que os
processos contra o ex-Presidente Lula estão corrompidos pelo que há de mais
grave em termos de violações a garantias fundamentais e à negativa de direitos.
O restabelecimento da liberdade plena de
Lula é urgente, assim como o reconhecimento mais pleno e cabal de que ele não
praticou qualquer crime e que é vítima de “lawfare”, que é a manipulação das
leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política.
Cristiano Zanin Martins
Defesa do ex-presidente Luís Inácio Lula
da Silva"
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