“A leitura de todos os bons livros é uma
conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados”. Foi o que
escreveu o físico e filósofo René Descartes (1596-1650), antecipando em alguns
séculos o que hoje os educadores já sabem: ler possibilita entender a sociedade
em que vive, melhora a escrita e, sobretudo, desenvolve o intelecto.
Que o diga Adelaide Paula, mestra em teoria
literária pela Universidade de Brasília (UnB) e autora de livros
infanto-juvenis. “O leitor nunca estará sozinho. Ele dialoga com inúmeras
vozes, que atuam sobre o seu mundo e o auxiliam a olhar para si com um
distanciamento, que dificilmente ele teria de outra maneira”, afirma. “A
melhoria da escrita é um bônus que a leitura oferece a todos que pelejam com a
palavra”.
Mas, no Brasil, ainda se lê insuficientemente. É o
que constata o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), cujos
dados de 2019 mostraram que o país não conseguiu registrar avanços
significativos da leitura entre os estudantes. “Esse resultado é um triste
registro do crescente desinteresse de crianças e jovens por leitura e preocupa
pais e educadores, que reconhecem a importância que tem para o desenvolvimento
cognitivo e emocional pleno de seus filhos”, salienta Adelaide.
Ela explica que existem inúmeras pesquisas que
comprovam a contribuição da leitura para o desenvolvimento. Criança estimulada
precocemente, ainda no ventre da mãe, por meio de músicas e histórias, tem
maior inclinação por ler. Aquela que vê os pais usando parte do tempo lendo tende
a imitá-los, e achar natural usá-la para descansar, distrair, divertir.
Adelaide acrescenta que ouvir os pais rindo sozinhos diante de um livro,
comentando entre si uma notícia, ou pedindo silêncio para concluir uma leitura,
é mais persuasivo que qualquer conselho sobre o assunto.
Da barriga da mãe
Na família Ferraz, a leitura vem de antes do berço.
“Sempre li desde nova, minha mãe é leitora assídua. Quando engravidei da minha
primeira filha, Yasmin, entrei no mundo da literatura infantil, me apaixonei.
Acabei criando o blog Cuca de Gente Miúda, que tinha muitos seguidores”, diz a
servidora pública Erica Nathair, 40 anos.
Ela explica que criou o blog para estimular a
leitura em Yasmin. “É a minha paixão. Eu pensei que minhas filhas precisavam
ler também”. A partir daí, Erica se engajou em movimentos pela leitura e
realizou, em 2013, uma ciranda literária pelo Brasil .
Erica diz que a leitura proporciona aprendizado,
sentimentos e sensações únicas para quem se permite descobrir um universo
diferente do que se encontra. “Vejo a mudança que a leitura fez na vida das
minhas filhas ,porque ela amplia muito o vocabulário da criança. Em algumas
situações, pergunto para a mais nova: ‘onde você aprendeu essa palavra?’, E ela
fala: ‘ué, no meu livro!’”.
A servidora conta que as filhas conseguem fazer
conexões entre as sensações da vida real com o que leram no livro. “Isso é que
é incrível na leitura”, explica. Na opinião dela, a ligação entre receptor e
conteúdo é diferente, se feita pela tela de um aparelho.
Curtição em família
Encorajado pela mulher, Marcelo Ferraz, 43,
professor de educação física, sentiu-se incentivado quando Erica contava as
histórias dos livros à familía. Hoje, a leitura é compartilhada por todos em
vários momentos juntos. Ele explica que há sempre uma leitura diária de, no
mínimo, 30 minutos, em que todos escolhem um livro e se reúnem.
“Pode ler qualquer coisa, menos no celular. Na hora
da leitura, é proibido mexer em aparelhos eletrônicos”. Em todas as viagens que
faz, a família leva os livros que irá ler e visita as livrarias locais.
Aos 11 anos, Paulo Fernando gosta de vários tipos
de livros. Ele diz que a mãe é a principal incentivadora da prática. “Eu gosto
mais da saga Percy Jackson, do Rick Riordan. Mas boa parte dos meus amigos não
gosta de ler, prefere jogar bola e brincar”.
Estudante do La Salle, Débora Liz, 14, acredita que
a leitura seja essencial. “Meus pais me incentivam bastante e os gêneros de que
eu mais gosto são comédia e investigação”, conta a jovem, que começou a
ler aos 5 anos de idade. Débora sempre troca ideias de livros com as amigas.
“Acredito que, com a internet, muitos jovens
preferem a praticidade do celular. As pessoas estão perdendo a vontade da
leitura em forma de papel”, lamenta.
Laura, 15, estudante do 2º ano do Ensino Médio,
conta que começou a ler por prazer aos 4 anos. “Amo livros de aventura,
suspense, poesia e também gosto de um romance bem escrito”. Mas, sobretudo, se
anima com os festivais de leitura do colégio e com a biblioteca, “que vive
cheia”.
*RAYSSA BRITO
Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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