A doce ilusão da tela
Quando num fim de tarde de um lilás místico e sentimental, puxado pra púrpura, o Cadillac DeVille 1966 dirigido por Cliff Booth/Brad Pitt entra a toda numa rua de Los Angeles, fins dos anos 60, os sentidos dos expectadores na sala voltam-se repentinamente para a música que acaba de invadir a cena e seu coração - Califórnia Dreamin, na voz de José Feliciano: era uma vez Hollywood, era uma vez Natal.
A canção do The Mamas & The Papas embalava por então as festinhas, assustados, matinês dançantes desta pacata cidade, onde metade dos viventes tratavam-se pelo nome. A linda loirinha do Mamas, esbelta e sedutora, amiga da atriz Sharon Tate - como viríamos a saber depois -, era paixão de nós todos, de cá e de lá.
Dizendo assim parece que vivíamos numa aldeia global. Ainda não. Não era uma verdade. Apenas presságio do profeta da comunicação de massas, o canadense Marshall McLuhan, sucesso na década do desbunde e da criatividade, e nunca mais esquecido por ter cunhado, entre outras, duas minúsculas frases, O Meio é a Mensagem, e essa, O mundo é uma aldeia global.
Talvez não carregássemos a obsessão de Tarantino, mas marcávamos ponto religiosamente no Cine Rex para ver nossa paixão em comum - os Sérgios - Leone e Corbucci, e seus fenomenais faroestes spaguetti, The Good, The Bad and The Ugly, Por Uns Dólares a Mais, Django, Por um Punhado de Dólares, Os Violentos Vão para o Inferno_, Era uma Vez no Oeste, A Morte Anda a Cavalo, e mais tantos outros.
Não se sabe se antes e depois da sessão ia ele para a porta do cinema trocar gibis de bangue-bangue, como fazíamos.
*Napoleão de Paiva
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