POR CAIO VALE/MOSSORÓ
NOTÍCIAS
17/08/2019
Fernando de Noronha numa quarta-feira de
julho, Trancoso numa segunda de janeiro, Uberlândia numa quinta de março e
Noronha de novo numa terça-feira de setembro.
Segundo o Ministério Público,
durante ao menos cinco anos, esse era o padrão de viagens de Janine Faria, 33,
filha do ex-governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e irmã do
deputado federal Fabio Faria (PSD), enquanto deveria estar trabalhando na
Assembleia Legislativa potiguar.
Hoje respondendo a uma acusação
de improbidade administrativa por supostamente ter sido funcionária fantasma,
Janine é uma das mais novas assessoras comissionadas do Metrô de São Paulo,
com salário de R$ 14.212. Seu emprego na estatal ligada ao governo João
Doria (PSDB) foi aprovado por um diretor do Metrô e por dois
secretários de Estado, como outros casos de cargos comissionados.
A defesa de Janine nega que ela
tenha sido funcionária fantasma e diz que trabalha assiduamente no Metrô. Em
nota, o Metrô disse não ter encontrado qualquer impedimento na lei para contratá-la.
Janine Faria se declara
influenciadora digital —tem mais de 100 mil seguidores no Instagram.
Em decisão
liminar, chegou a ter parte de seus bens bloqueados na Justiça potiguar para
reparar as perdas do Estado com os salários pagos a ela de 2011 a 2016. Segundo
o Ministério Público do Rio Grande do Norte, o prejuízo ao estado foi de R$ 704
mil, em valores atualizados. Os bens foram bloqueados para que, caso ela
seja condenada, a Justiça consiga restituir as perdas.
Nesse período, Janine deveria ter
como local de trabalho o gabinete do deputado estadual José Dias (ex-PSD e
atualmente no PSDB), que está em seu nono mandato no estado, onde atuava como
secretária parlamentar, com salário que variava de R$ 6.700 a R$ 8.100. José
Dias também é acusado na mesma ação.
Apesar do emprego, os promotores
verificaram que Janine tinha uma intensa rotina de viagens, incompatível com o
trabalho na Assembleia. Algumas das provas das viagens foram
publicadas nas redes sociais de Janine.
Os promotores levantaram ainda
registros de saída e de entrada de Janine do país, que não batiam com seus
meses de férias.
Seu sigilo de mensagens telemáticas
foi quebrado e a investigação encontrou emails que evidenciavam compras de
passagens aéreas, por exemplo, para passar seis dias em Salvador, nove dias na
Europa, 17 em São Paulo, 23 em Uberlândia. Os promotores levantaram mais de 30
viagens de 2011 a 2016 que, segundo a acusação, não condizem com a atividade de
assessora parlamentar.
Enquanto estava empregada na
Assembleia, Janine ainda fez o curso de direito numa faculdade que a obrigava a
fazer aulas nos períodos da manhã e da tarde —o que também
inviabilizaria o trabalho no órgão legislativo.
Em 2015, promotores fizeram
diligências por sete dias para ver se Janine comparecia ao trabalho. Ela
não apareceu. Novas buscas foram feitas seis meses depois, mas ela não foi
encontrada. Segundo o inquérito, ela ocupava seu tempo em academias de
ginástica e indo a clínicas de estética, em horários flexíveis, às vezes no
meio da tarde. Alguns desses tratamentos estéticos seriam feitos sob permuta,
em troca de divulgação nas redes sociais.
Os promotores concluíram que ela
nunca havia trabalhado na Assembleia, que agiu de má-fé e que vivia “como se
sempre estivesse de férias”.
Outro lado
Janine
declarou ao Ministério Público que sempre trabalhou no gabinete de José Dias.
Disse que geralmente ia às sessões de terça a quinta. Às segundas e
sextas, podia trabalhar de maneira remota, pelo computador.
Ainda
assim, sempre trabalhava quando o deputado precisasse. Disse ainda que viajava
pelo interior para atender lideranças locais, mas não soube citar os municípios
por onde passou.
Após uma polêmica no Estado sobre
sua situação, Janine pediu exoneração do cargo. Alegou que se afastaria para
cuidar da festa de seu casamento, que teve entre os convidados outros
governadores do Nordeste, além de Gilberto Kassab, líder do PSD.
A defesa de Janine nega que ela
tenha sido funcionária fantasma no Rio Grande do Norte. Diz ainda que
apresentará provas de que ela trabalhava devidamente. A defesa diz que
foram reunidos dezenas de testemunhos que confirmam a tese, eles serão
apresentados no devido momento processual. Janine ainda nega ter cometido
qualquer prejuízo ao estado do Rio Grande do Norte.
Já a secretaria de
transportes metropolitanos defende a contratação de Janine. Segundo a
pasta, ela é "graduada em Publicidade e Propaganda, com mais de 14 anos de
experiência na área e qualificada para desempenhar suas atividades no
departamento de Marketing do Metrô".
Segundo a secretaria,
"a nomeação de Janine Salustino Mesquita de Faria foi aprovada
mediante análise da área responsável no Governo do Estado de São Paulo, que não
encontrou nenhum impedimento previsto em lei quanto ao nome da servidora".
Folha de São Paulo
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