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domingo, 1 de setembro de 2019

ERA UMA VEZ EM... NATAL (3)

Piso molhado: spoilers!

Para quem esperava um banho de sangue, tão ao seu estilo, mais uma vez ele surpreende. Teria nos poupado de ver a linda Sharon outra vez assassinada. 

Por que matar de novo a talentosa atriz, grávida de 8 meses, trucidada seguidamente por esses anos a fio? 

Os massacres em série na sociedade americana deram cria bichos horripilantes que, mesmo de 7 cabeças, não são mais nenhuma novidade.

Transfere o cineasta a cena desnecessária e sua maldição para a casa dos vizinhos do bairro chique  de Cielo Drive, com uma diferença impactante: 
o bando de Manson, que chega de Ford Galaxie (réplica do carro do serial killer ) no meio da noite de terror, leva a pior e não consegue deixar o lugar com os próprios pés.

Em entrevista, Tarantino quando indagado sobre o por quê da mistura de realidade e ficção, saiu-se com palavras emprestadas ao cineasta John Milius no seu filme _Juiz da Forca_ : “As coisas não são como foram, mas como deveriam ter sido”.

[ 50 anos se passaram da tragédia. Hoje se pode dizer e sentir a aldeia global em que o mundo se transformou. Qualquer rincão, cercado ou não de serra, rio, ou mancha de mato,  é parede-e-meia de toda parte da terra, Helsinque, Serra Leoa, Milão, Paris, New York, Cabrobó... Se a morte da atriz não chegou a tantos, um filme de mentirinha sobre sua morte na certa  chegará. A capilaridade da notícia, o boato, o smartphone que o estilhaça, a comprovar a antecipação de McLuhan.]

*Napoleão de Paiva

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

ERA UMA VEZ... EM NATAL (2)

Arte é recriação

A partir de uma cultura cinematográfica enciclopédica, Quentin Tarantino nos presenteou duas grandes obras nesse gênero, Os Oito Odiados e Django Livre.


Seu agora festejado Era uma vez em... Hollywood é um resgate de suas referências, dessas e de outras tantas. 


E ele, como todo grande criador, sempre, extremamente infiel.


Quentin reflete, recria aqueles anos, passeia entre o concreto e o imaginário, misturando-os, confundindo-os, com a sublimação de uma obra de arte, sem apegar-se aos fatos conhecidos, mesmo se realidade tida e havida à exaustão. Não lhe interessa retratar, sua obra não é documental. Pra que repetir o que já se sabe? Ao criador, a licença poética - exercita.


Ninguém entra em cena como podíamos imaginar. Steve McQueen, Al Pacino, e o valente Bruce Lee, amigo da família Polanski, que sai de cena sem o topete.


É assim com Sharon Tate e sua brutal tragédia que contaminou o mundo. Até nesta beira de praia, como bons colonizados, havíamos sentido como se a morte da irmã de um grande amigo. A loura deslumbrante que nos encantara no A dança dos vampiros, O Vale das Bonecas; mulher do íntimo Roman Polanski e seu cultuado O Bebê de Rosemary...


Por aqueles dias - em portas, em bares, no underground, havia cartazes anunciando um festival: Woodstock.


*Napoleão de Paiva

domingo, 25 de agosto de 2019

ERA UMA VEZ EM... NATAL

A doce ilusão da tela

Quando num fim de tarde de um lilás místico e sentimental, puxado pra púrpura,  o Cadillac DeVille 1966 dirigido por  Cliff Booth/Brad Pitt entra a toda numa rua de Los Angeles, fins dos anos 60, os sentidos dos expectadores na sala voltam-se repentinamente para a música que acaba de invadir a cena e seu coração - Califórnia Dreamin, na voz de José Feliciano: era uma vez Hollywood, era uma vez Natal. 

A canção do The Mamas & The Papas embalava por então as festinhas, assustados, matinês dançantes desta pacata cidade, onde metade dos viventes tratavam-se pelo nome. A linda loirinha do Mamas, esbelta e sedutora, amiga da atriz Sharon Tate  - como viríamos a saber depois -, era paixão de nós todos, de cá e de lá.

Dizendo assim parece que vivíamos numa aldeia global. Ainda não. Não era uma verdade. Apenas presságio do profeta da comunicação de massas, o canadense Marshall McLuhan, sucesso na década do desbunde e da criatividade, e nunca mais esquecido por ter cunhado, entre outras, duas minúsculas frases, O Meio é a Mensagem, e essa, O mundo é uma aldeia global.

Talvez não carregássemos a obsessão de Tarantino, mas marcávamos ponto religiosamente no Cine Rex para ver nossa paixão em comum - os Sérgios - Leone e Corbucci, e seus fenomenais faroestes spaguetti, The Good, The Bad and The Ugly, Por Uns Dólares a Mais, Django, Por um Punhado de Dólares, Os Violentos Vão para o Inferno_, Era uma Vez no Oeste, A Morte Anda a Cavalo, e mais tantos outros. 

Não se sabe se antes e depois da sessão ia ele para a porta do cinema trocar gibis de bangue-bangue, como fazíamos.

*Napoleão de Paiva
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