A
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou nesta terça-feira (12)
denúncia
contra o senador Agripino Maia (RN), presidente nacional do partido Democratas.
Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro pela Procuradoria-Geral da República
(PGR), ele agora responderá como réu a um processo penal, ao final do qual
poderá ser considerado culpado ou inocente.
Segundo a
PGR, Agripino teria recebido mais de R$ 654 mil em sua conta pessoal, entre
2012 e 2014, da construtora OAS. A pedido do senador, a empreiteira também
teria doado R$ 250 mil ao DEM em troca de favores de Agripino.
A acusação
diz que ele teria ajudado a OAS a destravar repasses do BNDES para construir
a Arena das Dunas, estádio-sede da Copa do Mundo em Natal.
A ajuda
teria ocorrido na suposta interferência para que o Tribunal de Contas do Rio
Grande do Norte deixasse de informar ao BNDES eventuais irregularidades no
projeto executivo da obra. Essa era uma condição para o repasse do empréstimo.
Mais tarde,
em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) constatou sobrepreço de R$ 77
milhões na construção do estádio.
Relator do
caso, o ministro Luís Roberto Barroso votou pelo recebimento da denúncia por
considerar “plausíveis” os indícios contra o senador. O ministro destacou que a
abertura do processo não significa que Agripino é culpado no caso.
Argumentos da defesa
A defesa
negou a existência de provas de corrupção contra Agripino. Na tribuna, o
advogado Aristides Junqueira disse que a PGR não comprovou a origem do
dinheiro, que teria sido repassado a mando de Léo Pinheiro, ex-presidente da
OAS, nem o destino dos valores.
“Essa
denúncia açodada e imprudente foi oferecida às pressas ao final do mandato [do
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot] sem olhar as provas”, disse o
advogado, chamando as acusações de “ilações imaginárias”.
Primo do
senador, o advogado João Agripino Maia também subiu à tribuna para lembrar que,
em toda a sua carreira política – de prefeito, governador e senador –, Agripino
Maia nunca sofreu acusação.
“O
recebimento dessa denúncia sem provas vai deixar nessa vida pública de 40 anos
marcas indeléveis e de difícil reparação”, afirmou.
Votos dos ministros
O relator
Barroso afirmou que a denúncia traz indícios relevantes de "atuação
indevida".
"Me
convenci de que não estamos diante de denúncia frágil. Há um conjunto bem
relevante de elementos que sugerem uma atuação indevida, um ato omissivo grave
que levou a um superfaturamento de R$ 77 milhões e um inequívoco recebimento de
dinheiros não justificados depositados fragmentadamente na conta do
parlamentar, além da suspeita, que depende de comprovação, que as doações,
ainda que feitas de maneira formalmente lícita, eram na verdade pagamento de
vantagem indevida”, afirmou o ministro.
Segundo a
votar, Alexandre de Moraes notou que a denúncia não atingiu o conselheiro do
Tribunal de Contas do Estado, que teria efetivamente destravado as verbas do
BNDES para a OAS. Para Moraes, o favor prestado por Agripino seria ter marcado
uma reunião entre a empresa e o conselheiro, mas o ministro não viu ligação
entre o episódio e o recebimento de valores em sua conta.
“Quem
desentravou foi o conselheiro, e o que diz a PGR? Não só foi denunciado, como
arrolado como testemunha, e no depoimento disse que não houve nada de ilícito
na reunião com o senador”, disse Moraes.
Os demais
ministros consideraram, no entanto, que havia elementos suficientes para abrir
a ação penal, ao longo da qual as dúvidas serão sanadas.
Íntegra
Leia abaixo
a íntegra da nota divulgada pelo senador nesta terça:
Mesmo
ciente de que a decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal tenha tão
somente proclamado a necessidade de prosseguimento das investigações, causou-me
profunda estranheza o fato de não ter sido considerado o farto conjunto de provas
que atestam a minha completa inocência.
Como
afirmado por todos os Ministros da 1ª Turma, o prosseguimento das investigações
não significa julgamento condenatório. E é justamente a inabalável certeza da
minha inocência que me obriga a pedir à Corte o máximo de urgência no
julgamento final da causa.
Senador
José Agripino (RN)
Presidente
nacional do Democratas
*G1/RN
Foto: Canindé Soares
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