Nascida em Alexandria, Alto Oeste Potiguar, em 25 de agosto de 1968, é a terceira filha dos seis do casal José Soares Souza (Zé de Néo) e Maria Adalice Soares. Seu pai nunca conseguiu uma estabilidade profissional. Foi prestador de serviços nas prefeituras de Alexandria e Pilões e funcionário do extinto Bandern. Foi justamente o desemprego que o trouxe para Mossoró, onde trabalhou na fábrica de óleo de Dehuel Vieira Diniz e em uma prestadora de serviços à Petrobrás, até ficar novamente desempregado. Aos 53 anos de vida foi vítima de um infarto fulminante. “O stress por ter deixado de fumar e a falta de um trabalho que lhe desse dignidade estavam o deixando muito triste”, conta Solange.
Sua mãe, aposentada em 2015, foi merendeira da educação estadual até assumir a função de Auxiliar de Serviços Gerais. Orgulha-se de ter nos momentos mais difíceis sustentado a família apenas com o seu salário, garantindo pelo menos as despesas prioritárias. Hoje vive com sua neta Thábata, a única filha de Solange, e seus dois bisnetos, Thaynara e José Heitor, também ajudando na lanchonete que possuem no bairro belo Horizonte.
FOI JUSTAMENTE O nascimento de Thábata o início da vida cheia de desafios de Solange. Em sua infância de brincadeiras e estudos, as dificuldades financeiras da família não tiraram a alegria e inocência da menina de tantos sonhos. Quando já estava no último ano do ensino fundamental da escola municipal Coronel Manoel Emídio de Sousa, uma paixão fulminante mudou literalmente sua vida. Depois de três meses de namoro com um rapaz da cidade, descobriu que estava grávida por acaso. Por ter completado 18 anos, foi fazer a carteira profissional e acabou desmaiando após se sentir mal. Levada para maternidade da cidade, um exame de sangue revelou a notícia que não só trouxe a causa esclarecedora do desmaio, mas também causou um forte impacto em Solange e em toda a sua família.
O pai decepcionado, a mãe sem querer acreditar, ao ponto de passar mal e ser medicada, e o constrangimento diante dos irmãos e conhecidos. Mas nada que superasse a decepção com a reação do namorado. Ao contar que estava grávida, ouviu dele que não queria saber deste assunto. Não quis mesmo, só veio ver a filha depois de mais de um ano de nascida. “Minha mãe não imaginava que aquele bebê, que de inicio tanto a entristeceu, acabaria sendo sua maior companhia de vida, a chamando hoje de ‘mainha’, que dela cuida, conforta e dá todo o amor que precisa nos dias de hoje”, revela Solange.
A VINDA DA FAMÍLIA para Mossoró acabou sendo providencial. Logo que por aqui chegou, Solange conseguiu um emprego como operadora de caixa no supermercado Pague Menos, do Alto da Conceição. Após um ano, exerceu a mesma função no supermercado Coelhão e, em seguida, no supermercado Martins. Depois resolveu trabalhar por conta própria, colocando uma lanchonete na avenida Alberto Maranhão, perto de onde a família morava. Quem a incentivou foi o novo namorado, com quem viveu três anos.
Com o fim da relação, Solange entregou a lanchonete e ficou fazendo salgados por encomenda para padarias e lanchonetes. Também aproveitava festas e eventos para vender salgados assados na hora. Foi assim que em uma noite no clube Cheiro D’ Amor, quando assava coxinha, rissole e salsichão, José Elton de Medeiros se aproximou para conversar. Haviam trabalhado juntos em um supermercado e, assim como ela, ele havia se separado recentemente. Vendo o movimento das vendas fraco, a chamou para a festa.
Após pensar um pouco, Solange apagou o fogo, guardou todo seu equipamento e foi dançar com Elton a música da vida. Bastaram apenas dois meses para estarem morando juntos. Era dezembro de 1994, e de lá para cá foram muitas histórias, turbulências e tempestades. Solange resistiu bravamente, completando 21 anos com ele em sua melhor fase de vida, investindo ainda mais no restaurante que inauguraram em 15 de agosto de 2009. “O sabor de nossos pratos é o grande diferencial, com o tempero caseiro de qualidade conquistando cada dia mais clientes”, resume.
MAS
ATÉ CHEGAR a esta calmaria de agora muita água rolou em baixo da ponte.
De início investiram na produção de salgados. Acordavam de três da
madrugada para poder entregar todas as encomendas até às sete horas.
Chegaram a comprar um carro com o resultado obtido. Mas como os pais e
irmãos de Elton haviam se mudado para Brasília, ele a convenceu a
encerrar com o negócio e partir para a capital do país.
Morando em Ceilândia, os dois acabaram mesmo sendo funcionários de um supermercado no Núcleo Bandeirante. “A mesma loucura de ir foi a que nos fez voltar. Pelo menos trouxemos dinheiro para investir em uma cantina no bairro Belo Horizonte”, conta Solange. Ela ficava no negócio e ele arranjou um emprego de representante de vendas, onde ficou por oito anos. No entanto, dois fatores quase que simultâneos mudaram mais uma vez a rotina do casal. Com o falecimento de seu pai, que era quem mais a ajudava na cantina, Solange ficou bastante sobrecarregada. Somado a isto veio o desemprego de Elton, fazendo com que eles novamente decidissem empreender.
Colocaram uma peixada em Tibau para aproveitar o período de veraneio, mas acabaram ficando apenas seis meses por lá. O drama deste momento foi o nascimento de uma filha de Elton fora da relação. “Apesar das dores e angustias, procurei ser forte para que a minha fé me fizesse conviver com aquela situação”, relembra. Com o dinheiro obtido na praia, compraram um prédio no conjunto Vingt Rosado onde colocaram uma lanchonete com espetinho e música ao vivo, que funcionou por três anos. Durante esta experiência, uma breve separação fez Elton voltar para Brasília e Solange colocar a venda o prédio.
Apesar do surgimento da notícia de mais uma filha de Elton, desta vez em Brasília, o casal resolveu reatar a relação e morar em Parnamirim, onde estavam dois irmãos de Solange. Botaram um espetinho que durou mais de um ano, até voltarem para Mossoró onde ocuparam o Bar do Vaqueiro, no Parque de Vaquejada dos Porcinos. “Ficamos neste ponto por dois períodos e tivemos um retorno satisfatório. Mas meu desejo mesmo era ter um negócio próprio. A oportunidade surgiu quando soube que um restaurante do qual tinha gostado tempos atrás estava fechado”, lembra Solange.
LOCALIZADO
NA RN-117, saída para o município de Governador Dix-Sept Rosado, o
restaurante tinha na galinha caipira o seu maior chamativo. A
proprietária topou alugar o prédio, mas exigiu que o nome fosse mudado.
Eles então colocaram Ponto do Vaqueiro, pela ligação com os clientes do
negócio anterior. No início, Elton dividia seu tempo entre um emprego em
uma prestadora de serviços na área do petróleo e o restaurante,
enquanto Solange investia no cardápio para retomar a clientela perdida
pelo tempo que o restaurante havia ficado fechado.
A relação entre os dois se estabilizou, e o restaurante foi crescendo. Em 2010, compraram um terreno um pouco mais em direção ao rio Mossoró e começaram a construção de um restaurante definitivo, inclusive com a residência na parte superior. Até o ano passado ampliaram a área das mesas, ao ponto de nos finais de semana contar com mais de vinte colaboradores entre garçons e auxiliares de cozinha. “É uma vida boa aperreada, pois meu nome virou ‘trabalho’. Nosso maior patrimônio é o cliente que gosta de vir ao nosso estabelecimento e ter o prazer de uma boa refeição. Então devemos cuidar dele com todo carinho”, enaltece Solange.
Ela mesma supervisiona cada detalhe para que tudo esteja limpo, seguro e confortável, passando confiança para todos. Além da famosa galinha caipira, o guiné, a buchada, o carneiro, a tripa de porco, o cupim na manteiga e, principalmente, o peixe frito ou cozido, fazem o sucesso do restaurante.
Dos irmãos de Solange apenas Alex, o mais velho, já é falecido, os demais também conquistaram seus espaços. Flávio tem uma pastelaria em Mossoró e Luana trabalha com ele. Em Parnamirim, Zulmira tem um supermercado e Raniere é motorista de ônibus. Do difícil começo, a família Soares foi se estabilizando para vencer. Uma típica realidade nordestina onde a trajetória é de muito trabalho, persistência e crença na força superior de nosso Deus Pai. “O trabalho nos traz conquistas, mas é a fé de que elas virão que nos faz caminhar na direção certa em nossa vida”, finaliza.
Fotos: Pacífico Medeiros
Fonte: O Bom é Você
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