Brasília (AE) - Num cenário de desempenho fraco da arrecadação, a
Receita Federal lançou ontem uma ofensiva para cobrar dívidas de R$ 86
bilhões. Na maior operação nacional da história do Fisco brasileiro de
combate à inadimplência, 541.890 contribuintes serão chamados a
regularizar a situação e pagar os débitos em atraso.
O alvo principal dos fiscais serão os 317 maiores devedores do País, que
juntos têm uma dívida de R$ 42 bilhões. Nesse grupo, estão 302 empresas
e 15 pessoas físicas. Entre esses contribuintes, está a pessoa física
que mais deve ao Fisco no País: R$ 43 milhões. Uma das empresas da lista
responde sozinha por R$ 1 bilhão.
Para pressionar os devedores, a
Receita ameaça tomar medidas de peso. As que detiverem concessão do
governo poderão perder a licença, segundo informou o subsecretário de
Arrecadação da Receita, Carlos Roberto Occaso. Firmas que prestam
serviços à União poderão ter seus contratos rescindidos.
A
Receita ameaça também arrolar os bens dos devedores, para evitar a
transferência do patrimônio a terceiros. O programa terá caráter
continuado e a cada trimestre novos contribuintes serão chamados. O
contribuinte que não acertar agora terá a débito inscrito em dívida
ativa para posterior execução fiscal na Justiça.
O cerco da
Receita aos inadimplentes também vai atingir 441.149 empresas optantes
do Simples Nacional (o sistema simplificado de cobrança de tributos
federais, estaduais e municipais). A inadimplência no Simples já atingiu
10% do total de 4,3 milhões de empresas que estão no programa. O valor
total dos débitos do Simples soma R$ 38,7 bilhões.
A Receita deu
um prazo de 30 dias para que as empresas com débitos do Simples resolvam
pendências pagando à vista ou parcelado em até 60 meses. Quem não
regularizar o débito será excluído do Simples, programa que garante um
tributação menor às pequenas e médias empresas. A exclusão vai valer a
partir de janeiro de 2013.
Além disso, serão cobrados R$ 5,3
bilhões de 100.424 contribuintes (empresas e pessoas físicas) que
parcelaram as suas dívidas no Refis da Crise (de 2009) e que já estão
inadimplentes. Nesse caso, a inadimplência já atinge 20,6%. Os devedores
vão receber carta da Receita, via Correios ou caixa postal eletrônica,
alertando para o problema. Se não fizeram o pagamento, também serão
excluídos do parcelamento.
Segundo Occaso, a operação de cobrança "não tem nenhuma relação com a crise ou com a queda da arrecadação".
No RN, mais de 5 mil podem ser excluídos do Simples Nacional
Renata Moura - editora de economia
Mais
de 5,3 mil contribuintes do Rio Grande do Norte inscritos no Simples
Nacional, um sistema simplificado de tributação para micro e pequenas
empresas, podem ser excluídos do regime e ter a carga tributária elevada
a partir de 2013, caso não quitem o que devem à Receita Federal. Eles
não são os únicos que terão de acertar as contas com o fisco.
Contribuintes
inadimplentes no chamado Refis da Crise e "grandes devedores" também
estão na mira da Receita. O alerta, emitido ontem pelo órgão, faz parte
de uma ofensiva nacional para cobrança de tributos atrasados. No Rio
Grande do Norte, o valor cobrado apenas a "grandes devedores" supera R$
11 milhões. O número de contribuintes e os segmentos em que atuam no
estado não haviam sido levantados até o fechamento desta edição.
No
caso do Simples, também não há dados sobre o tamanho da dívida que,
nacionalmente, alcança R$ 38,7 bilhões. Sabe-se, entretanto, que 5.322
empresas - das 81.500 potiguares que estão no sistema - não estão em dia
e podem ser excluídas do regime diferenciado a partir de janeiro de
2013, caso não regularizem a situação. "E se forem excluídas, a
tributação para elas vai ser maior", diz o delegado da Receita Federal
em Natal, Marcos Hubner Flores, explicando que, no Simples, a
tributação depende do segmento e do porte da empresa. Não existe uma
média de em quanto chega a ser reduzida ou em quanto poderá subir a
carga tributária com a possível exclusão do regime.
PAGAMENTO
As
empresas do Simples e os grandes devedores vão poder pedir parcelamento
dos débitos, mas a Receita vai analisar caso a caso para decidir se
concederá o benefício. Normalmente o parcelamento é feito em até 60
meses. "Mas não podemos generalizar", observa o delegado do órgão, em
Natal.
Os contribuintes em débito deverão receber
correspondência por meio dos Correios, mas também poderão checar a
situação, assim como pedir parcelamento, por meio do Portal e-CAC, o
Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte, que está disponível no
site da Receita Federal (http://www.receita.fazenda.gov.br/).
Caso
não consiga realizar um eventual parcelamento pela internet, o
contribuinte poderá procurar a delegacia da Receita, mas, também pelo
site, terá de agendar atendimento.
Além de dívidas de empresas
optantes pelo Simples e dos grandes devedores, o programa de cobrança de
tributos atrasados mira contribuintes que descumpriram pagamentos do
chamado Refis da Crise. O número total de devedores e a soma devida não
foram levantados por estado. Mas, também nesse caso, a Receita informa
que o não pagamento do débito excluirá o devedor do Refis.
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