Yuno Silva - Repórter
Há quase 111 anos, o número 622 da rua da Conceição, na Cidade Alta, serve como
endereço para o maior acervo cultural do Rio Grande do Norte. Casa da Memória,
como bem disse Câmara Cascudo, a nau do Instituto Histórico e Geográfico está
prestes a mudar de comando: no dia 29 de março do próximo ano, data de
aniversário do IHGRN, o escritor e articulista Valério Mesquita toma posse como
novo presidente da mais antiga instituição cultural do Estado. Ele substitui o
procurador aposentado Jurandir Navarro, que por sua vez assumiu o posto após o
falecimento de Enélio Petrovich (1934-2012) em janeiro passado.
O desafio da nova diretoria, cuja intenção é imprimir um perfil mais
horizontal e participativo à gestão da entidade, resume-se em três palavras:
modernização, visibilidade e acesso. O caminho é longo e a missão árdua:
"Faremos um levantamento geral do acervo e da segurança desse acervo, da
situação financeira e da estrutura física do Instituto", adiantou
Mesquita, que recebeu a reportagem da TRIBUNA DO NORTE na manhã de ontem,
durante reunião com outros diretores. "Queremos motivar a visita de
estudantes e retomar o interesse da população", planeja o novo presidente.
Mesquita adianta que a meta é digitalizar o acervo, informatizar as pesquisas,
climatizar as principais salas e facilitar a consulta, inclusive via internet.
"É hora de entrar nessa nova era da comunicação", acredita o
presidente eleito. Porém, a falta de recursos configura-se como principal
limitador para se atingir qualquer dos objetivos. Para tentar driblar a
dificuldade financeira, a nova diretoria - antes mesmo de tomar posse - já
articula na Assembleia Legislativa a apresentação de emendas ao orçamento do
Governo; e busca formalizar parcerias com instituições públicas e privadas. A
elaboração e inscrição de projetos em editais específicos para entidades
museológicas também está em pauta.
Vale registrar que, por enquanto, ainda não há um orçamento definido para
efetuar a modernização e as mudanças pretendidas - os valores serão levantados
de acordo com o andamento dos trabalhos da nova diretoria do Instituto
Histórico e Geográfico do RN. "O Governo precisa considerar a cultura como
uma das prioridades do Estado. Claro que há outras carências, mas não podemos
deixar que ela seja esquecida", disse. Valério Mesquita adianta que Iphan,
Crea e Corpo de Bombeiros serão as primeiras instituições procuradas:
"Nossa estratégia operacional começa por garantir a segurança do acervo".
Atualmente a única fonte de renda do IHGRN é a mensalidade dos cerca de 200
sócios, uma contribuição de apenas R$ 10 por mês, mas atualmente menos de 50
pessoas estão em dia. A falta de sustentabilidade é tão complicada, que a folha
de pagamento só estão fechando com a venda de livros doados e outros que
estavam em grande quantidade no acervo - o já as contas de água e luz estão
sendo pagas pelo atual presidente Jurandir Navarro. A instituição possui sete
funcionários, sendo quatro cedidos pela Fundação José Augusto. "Temos
pressa e precisamos agilizar a reestruturação do Instituto para o período da
Copa", verificou o advogado Carlos Gomes, que assumirá o cargo de
secretário-geral. Gomes foi responsável pela atualização do estatuto original,
de 1927, que passou a atender as novas diretrizes do Código Civil. Carlos Gomes
lembrou que o IHGRN possui mais de 30 mil livros, coleções de jornais e
centenas de milhares de documentos.
Porão será usado como novo cômodo para o acervo
A nova diretoria também pretende promover encontros periódicos para realizar
debates ser "personalização dos temas", avisa Ormuz Simonetti,
escritor, genealogista e vice-presidente na próxima gestão. "É um desafio
grande reerguer o IHGRN, e temos que contar com apoio de toda a sociedade",
acredita, informando que a marca do grupo que assumirá o Instituto em março de
2013 é o companheirismo. "Tudo será decidido em colegiado".
Ormuz reconhece que boa parte do acervo está em condições precárias, e que
muitas estantes estão há mais de 40 anos sem um tratamento adequado. "Os
livros precisam de limpeza e possíveis focos de cupim precisam ser
exterminados". Outro detalhe que ele chama atenção é o porão, que nunca
foi aberto. "Precisamos de espaço e é bem possível que o porão sirva de
abrigo para os cupins", arrisca.
Francisco Fernandes Marinho, sócio e voluntário do Instituto, responsável pela
organização do catálogo da entidade, ressalta que documentos seculares estão em
risco sem a manutenção do espaço. "O zelador, seu Manoel, tenta controlar
os cupins", disse Marinho, que quer ver o IHGRN recuperado e saber o que
existe. "Tem muita coisa que desconhecemos aqui ainda".
Frágeis histórias de papel
Sob uma janela aberta nos fundos da biblioteca principal do Instituto, em meio
a livros, revistas e jornais antigos, muita poeira e mofo, o historiador
Augusto Medeiros, 27, folheava publicações em busca de informações para sua
dissertação de mestrado. Augusto está pesquisando sobre o Café São Luiz, na
Cidade Alta, e a movimentação do Grande Ponto entre os anos de 1953 e 1980 -
recorte histórico de seu estudo. "Aqui encontro um acervo riquíssimo,
fundamental para se conhecer detalhes da história do RN", disse o
historiador, que considera o estado de conservação satisfatório. "Os
jornais mais antigos é que estão mais frágeis".
Augusto Medeiros tem estado no IHGRN com maior frequencia desde 2011:
"Estarei por aqui até o último dia do mestrado, em março do próximo
ano".
A NOVA DIRETORIA DO IHGRN
Valério Mesquita - presidente
Ormuz Simonetti - vice-presidente
Carlos Gomes - secretário geral
Odúlio Medeiros - secretário adjunto
George Veras - diretor financeiro
Eduardo Gosson - diretor adjunto
José Targino Araújo - orador
Edgar Dantas - diretor da biblioteca, arquivo e museu
Conselho fiscal
Eider Furtado
Paulo Pereira dos Santos
Tomislav Femenick
Lúcia Helena Pereira
Via Tribuna do Norte