A cena era, no mínimo, curiosa. Cinquenta carroças seguiram pelas ruas de Natal, na manhã de ontem (30) do bairro Dix-sept Rosado até a sede da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público do Estado, na avenida Floriano Peixoto, Centro da cidade. Os carroceiros protestavam contra uma medida da promotora Rossana Sudário que visa impedir este tipo de transporte na cidade. De acordo com eles, o prazo de cinco anos dado para o fim da atividade já está perto do fim, mas nenhuma alternativa foi dada aos vários trabalhadores que sustentam suas famílias com esse serviço.
Os manifestantes chegaram ao destino por volta das 9h30, porém não encontraram a promotora, que está de férias. Após alguns minutos de espera, uma comissão foi atendida por um promotor substituto. “A gente entende o lado da cidade e que tem muitos profissionais que maltratam os animais. Mas tem muita gente de bem aqui, que precisa sustentar a família, muitos não sabem nem ler. O que a gente quer é que pelo menos dêem uma alternativa para essas pessoas, que elas recebam cursos profissionalizantes, alguma coisa”, argumentou o presidente do conselho comunitário de Dix-sept Rosado, João Maria Silvino de Assis. De acordo com ele, há pelo menos 2500 carroceiros. O bairro representado por ele tem uma comunidade formada apenas por pessoas que vivem das carroças. Até o fechamento da reportagem, nem a comissão, nem o MP divulgaram o resultado da discussão.
A avenida ficou com o trânsito interrompido. A Polícia Militar e a guarda municipal se deslocaram ao local, mas o protesto foi pacífico. A STTU foi acionada para ajudar no desvio do trânsito.
Marluze Ferreira, 58 anos, trabalha há três décadas com coleta seletiva. Guiando a carroça puxada por um jumento três vezes por semana, ela recolhe material reciclável de um hotel da cidade e consegue apurar uma média de R$ 400 numa venda. Com esse trabalho, ela ajudou o marido a sustentar os cinco filhos. “Ele é hipertenso e não pode mais trabalhar com isso”, explicou. Ela afirma que não sabe o que fazer se for proibida de manter atividade.
Valter Freire Guedes, 52 anos, só estudou até a quinta série do Ensino Fundamental. “Se eu não trabalhar, não vou ter o que comer, nem muita gente aqui. As pessoas têm preconceito, porque tem muito carroceiro que não presta, que rouba. Tem gente que rouba carroça para pegar material de roubo. Mas não são todos. A maioria é gente de bem, que cuida bem dos bichos. Eu nem uso chicote nem nada”, argumenta. “Se querem tirar nosso trabalho, tem que nos dar curso, alguma coisa. Eu faço isso há 30 anos”, comentou.
Bom Dia! esta imagem reforça a uta pelo estado democrático , em que todo cidadão tem o direito de reclamar, protestar mostrar que mesmo lentamente, o povo está mais consciente de seu papel social.
ResponderExcluirDemocracia sempre