terça-feira, 2 de dezembro de 2014

GASTOS NA CAMPANHA: Robinson Faria ‘gastou’ R$ 14 por voto, enquanto Henrique Alves ‘pagou’ R$ 36

Ciro Marques
Jornal de Hoje

Candidato derrotado ao Governo do RN, Henrique Eduardo Alves (PMDB) foi o que mais arrecadou na disputa eleitoral. Foram mais de R$ 26,1 milhões para conseguir 734,8 mil votos. O governador eleito, Robinson Faria (PSD), arrecadou menos da metade desse valor. Foram R$ 12,9 milhões e, mesmo assim, conseguiu 877,2 mil votos. Dessa forma, é possível constatar que os votos do pessedista custaram menos da metade dos que o do peemedebista.

Afinal, se for dividido o valor arrecadado (com base na prestação de contas final divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral nesta semana) pelos votos conquistados, pode-se dizer que Robinson “gastou” R$ 14,79 por voto conquistado no segundo e decisivo turno da eleição 2014. Henrique Eduardo Alves, por sua vez, teve que pagar bem mais por cada voto: R$ 36,44.

E é importante ressaltar que boa parte dessas doações recebidas por Henrique, que permitiram que a campanha dele fosse a mais cara do Rio Grande do Norte, partiu de empresas investigadas no escândalo da Petrobras. A construtora Odebrecht SA, por exemplo, foi responsável por financiar R$ 5,5 milhões dos gastos do peemedebista na campanha, conforme mostrou com exclusividade O Jornal de Hoje no final de semana.

O peemedebista recebeu recursos também da OAS, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia e Andrade Gutierrez. Desses, destaque para a OAS, que doou R$ 650 mil para Henrique, e a Queiroz Galvão, que financiou outros R$ 2 milhões para o peemedebista. No caso de Robinson Faria, “apenas” R$ 200 mil partiram de empresas envolvidas no esquema. Foram doados pela Galvão Engenharia, que doou o mesmo valor para Henrique Eduardo Alves.

RECEITA/DESPESA

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em prestação de contas disponível no seu sítio virtual, Robinson Faria arrecadou R$ 11,8 milhões e gastou 12,9 milhões, o que deu para ele uma diferença de R$ 1,1 milhão na relação receita/despesa. E, ao que parece, esse é um ponto a se comemorar. Afinal, até metade da campanha, Robinson Faria era um dos candidatos mais endividados do Brasil.
Em setembro, quando foi divulgada a segunda parcial da arrecadação e gastos eleitorais, a campanha de Robinson amargava uma grave crise. Primeiro pelo fato das pesquisas de intenção de voto apontarem um grande distanciamento entre ele e Henrique. Segundo porque o governador eleito havia gasto R$ 7,7 milhões, mas só havia arrecadado R$ 1,6 milhão. Ou seja: havia um déficit de mais de R$ 6 milhões.

Por outro lado, a campanha de Henrique Alves, que apresentava bastante “saúde financeira” durante a disputa, acabou encerrando o pleito com um montante também alto de dívidas. Arrecadou R$ 23,1 milhões, mas gastou R$ 26,1 milhões, o que fez o peemedebista terminar a eleição com uma dívida oficial de R$ 3 milhões.

Dilma, Kassab e Friboi financiaram Robinson

Diferente de Henrique Eduardo Alves, que conseguiu várias doações de grandes empresas do RN, como as envolvidas no escândalo da Petrobras e outras como a Telemont (R$ 2 milhões) e a JBS (R$ 2,75 milhões), a campanha de Robinson Faria foi financiada, em grande parte, por duas principais fontes: a mesma JBS de Henrique e o PSD. Os dois viabilizaram quase todo o valor que o governador eleito teve para gastar durante a campanha.

Só a JBS, que é a marca dona da Friboi, foi responsável por pagar R$ 7,7 milhões, ou seja, mais da metade do valor arrecadado por Robinson – que foi R$ 11,8 milhões. A Friboi pagou R$ 3,3 milhões diretamente para a campanha do governador e mais R$ 4,4 milhões doando ao Diretório Estadual do PSD que, depois, repassou a Robinson.

A Friboi, vale lembrar, foi uma das maiores doadoras de campanha do Brasil e ajudou a financiar, inclusive, a campanha da presidente da República reeleita, Dilma Rousseff, do PT. O envio da ajuda financeira, por sinal, fez ganhar força o boato de que o filho do ex-presidente Lula, do PT, seria um dos donos da empresa.

Fábio Luis Lula da Silva (o Lulinha) seria um sócio majoritário da empresa. A polêmica ganhou tanta força que a JBS precisou se manifestar e negar tal informação. Por meio de nota, o grupo informou que marca da empresa JBS, apesar de ter capital aberto, tem como acionistas majoritários os membros da família Batista, que reside em Goiás.

Contudo, observando a prestação de contas do governador eleito, é possível constatar que a ligação entre ele e o PT Nacional foi além da simples presença do ex-presidente Lula nos programas eleitorais de Robinson Faria – o que, segundo Henrique, foi fundamental para que o PSD subisse nas pesquisas e vencesse a eleição.

Isso porque, além de liberar a imagem do “ícone” petista, a sigla também ajudou financeiramente na campanha de Robinson. O comitê criado para receber doações para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, repassou R$ 288 mil para o candidato do PSD ao Governo do Rio Grande do Norte. As doações foram feitas por meio de cheques, repassadas a campanha do pessedista, principalmente, após o segundo turno.

O Diretório Nacional doou mais R$ 1,2 milhão para conseguir eleger Robinson governador. E, além dele e da Friboi, a campanha de Robinson recebeu também doações de algumas empresas locais, como a Dois A Engenharia e Guararapes, e de várias “pessoas físicas”.

Dentre as pessoas físicas que ajudaram a eleger Robinson governador, destaque para Luiz Antonio Vidal, que doou para o candidato um cheque de R$ 50 mil. Lucinda Maria Marques de Azevedo também pagou outros R$ 30 mil para Robinson e fez isso na última sexta-feira antes da eleição em segundo turno.

Para custear parte dos gastos e não terminar a campanha com um déficit tão grande, inclusive, o próprio Robinson Faria doou para o seu comitê. Foram quatro cheques e uma transferência bancária que resultaram num montante de R$ 245 mil doados para custear as despesas da disputa eleitoral.

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