Agência Brasil
Repórter Marcelo Brandão
As ofensas do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ),
direcionadas à deputada Maria do Rosário (PT-RS), na terça-feira (9)
continuam repercutindo entre diversas entidades de defesa dos direitos
humanos. Na tarde de hoje (11), o Conselho Nacional de Direitos Humanos
(CNDH) protocolou representação contra Bolsonaro na Procuradoria-Geral
da República (PGR). O pedido é para abertura de processo criminal e
cível contra o parlamentar.
“A representação é muito clara, o conselho tem a convicção que foi
cometido um crime de incitação à violência, de apologia a um crime
considerado hediondo”, disse a ministra da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti. Tanto ela como
todos os conselheiros, empossados ontem (10), sentaram-se à mesa com a
vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, e entregaram
formalmente o documento.
Para a vice-procuradora-geral da
República, o caso agrega elementos suficientes para que a representação
vire uma ação penal. “São as palavras, a forma, e, a partir delas, todo
um movimento misógino. Fiquei sabendo de comentários em redes sociais e,
então, [ficou provada] a força deletéria, perversa dessas declarações.
Elas têm uma força de incitação ao crime, ao estupro.”
Bolsonaro
ficou surpreso com a representação apresentada contra ele na
Procuradoria-Geral da República pelo Conselho Nacional de Direitos
Humanos em razão das ofensas contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
“Não sabia da representação. Agora tenho que esperar ser notificado
para me defender. Vou me defender após receber a peça apresentada à
Procuradoria-Geral da República”.
O deputado citou o Artigo 53 da
Constituição, que trata da invioabilidade das opiniões dos
parlamentares. “Os deputados e senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”, diz o
texto constitucional.
A representação do CNDH, no entanto, não se refere às ofensas de Bolsonaro na tribuna, e sim em uma entrevista ao jornal Zero Hora, em que o deputado disse que não estupraria sua colega de Câmara por ela ser “muito feia”.
“O
que ele diz no plenário, no exercício do seu mandato, está coberto pela
inviolabilidade constitucional. Então, por essa razão, o fato de ele
ter falado isso no plenário não pode ser levado em conta nessa análise”,
disse Ela Wieko. Agora, a representação vai passar 30 dias na
Procuradoria-Geral da República e o procurador-geral, Rodrigo Janot, vai
decidir se o documento apresentado seguirá para o Supremo Tribunal
Federal, em forma de ação penal.
Além do CNDH, duas entidades se
manifestaram hoje sobre o caso. O Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher protocolou na Câmara dos Deputados um pedido de providência em
relação à atitude do parlamentar fluminense. O pedido foi assinado por
23 organizações que representam mulheres. “Instamos a Mesa da Câmara a
tomar a única atitude admissível nesse caso: a instauração de processo
de cassação do infrator por apologia e incitamento à violência sexual
contra as mulheres”, diz o pedido do conselho.
Ontem (10), o PT, o PCdoB, o PSOL e o PSB também representaram
no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados
contra Bolsonaro. Os partidos pedem a cassação do atual mandato de
Bolsonaro.
De acordo com Ideli, o CNDH também deve protocolar
pedido de cassação na Câmara no mês de fevereiro, que já poderia ter
efeitos no novo mandato de Bolsonaro, reeleito em outubro.
“Apresentaremos de imediato e, como está terminando a legislatura, vamos
apresentar novamente em fevereiro.”
Em nota, a Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB) também se manifestou contra as declarações
de Bolsonaro. "É inconcebível que um parlamentar se utilize
indevidamente do sistema de imunidades para atentar contra a própria
Constituição Federal e a dignidade das mulheres, estimulando uma cultura
de desrespeito aos direitos humanos”, diz. A AMB conclui a nota pedindo
ao Congresso Nacional que “estabeleça medidas em defesa da ética
parlamentar de forma a preservar o sistema representativo e dignificar a
importante função do parlamento para democracia brasileira”.
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