- “Um dia a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares
vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios e
nos oceanos” [Profecia de “Olhos de Fogo”, velha índia da nação Cree, há
200 anos]
A conversa de hoje está cheia de inevitáveis termos técnicos. Não pude evitar.
É preciso ter muito claro o papel da Amazônia no equilíbrio da
biosfera. A maior floresta tropical do Planeta, a Amazônia, corresponde a
2/5 da América do Sul e a metade do Brasil. Então, a floresta
amazônica é o “pulmão do planeta”. Certo?
Errado! Há muito se sabe que a floresta amazônica se encontra muito próxima de seu ponto de compensação. Ou seja, sua taxa de fotossíntese é quase equivalente à sua taxa de respiração.
É verdade que a floresta produz uma imensa quantidade de oxigênio
mediante a fotossíntese durante o dia. Porém, as plantas superiores e
outros organismos associados vivendo nessa mesma floresta respiram 24
horas por dia, ou seja, o oxigênio que a floresta produz acaba sendo
utilizado na respiração dela mesma.
Ou seja, a nossa majestosa floresta não é, portanto, o “pulmão do mundo”.
Felizmente, o planeta dispõe de outro mecanismo para absorver o CO2 em excesso.
Felizmente, existem os fitoplânctons – nos mares e oceanos (dois
terços do nosso Planeta é ocupado por rios, lagos, mares e oceanos) e
funcionam como um reservatório, sugador de CO2 da atmosfera e produtor
de oxigênio.
Fitoplânctons são minúsculas plantas marinhas que florescem sob água
fria e rica em nutrientes. A sua notável coloração esverdeada é causada
pela reflexão da clorofila produzida pelos fitoplânctons, que, assim
como as plantas terrestres, usam o processo de fotossíntese para criar
carboidratos a partir de dióxido de carbono e água, ou seja, fixar em
sua estrutura o carbono e devolver o oxigênio ao meio ambiente.
A quantidade de oxigênio produzida pelos fitoplânctons para atmosfera
é superior a do oxigênio gerado pelas florestas, porque a massa verde
dos fitoplânctons é maior que a biomassa florestal. Os fitoplânctons
estão disseminados em todo volume das águas dos mares e oceanos enquanto
as florestas ocupam apenas alguns espaços sobre a crosta terrestre.
Espaços cada vez menores, pela ganância de alguns.
Caro leitor, acontece mais ou menos o seguinte: os mares e oceanos,
devido ao aquecimento global, estão tendo as camadas superficiais
aquecidas e este aumento de temperatura superficial aumenta o volume das
moléculas d’água com a conseqüente diminuição da densidade das mesmas.
Por isso, apesar do movimento natural das ondas e das marés, não há uma
boa renovação, uma mistura das águas, a superfície não se renova de
forma suficiente para arrastar as partículas salinas nutritivas do fundo
dos mares e oceanos para a superfície até os fitoplânctons e estes,
devido a esse fenômeno, começam a se extinguir por falta de nutrientes.
Outra condição importante é a necessidade de luminosidade para que
haja a fotossíntese na biomassa formadora dos fitoplânctons, até porque
estes só sobrevivem aonde chega a luz solar.
A poluição reduz a transparência das águas, as águas ficam
translúcidas, impedem a passagem parcial ou total dos raios solares. Sem
os raios solares, não há fotossíntese. Sem fotossíntese, não há
produção de oxigênio e fixação do carbono.
Se os fitoplânctons morrem, liberam por ação anaeróbia, o metano; o
qual é vinte vezes mais poluente que o gás carbônico. O metano é um gás
leve, procura as camadas mais altas da atmosfera chegando até as camadas
de ozônio com o qual reage – quanto maior a quantidade de metano, menor
e mais rarefeita será a camada de ozônio, nosso escudo protetor ante os
raios ultravioleta. Uma tragédia anunciada!
Onde está a saída?
A saída está em poluir menos – não jogar lixo nas águas – e
fertilizar, em grande escala, os mares, oceanos e as águas internas,
para aumentar a reprodução primária dessas microalgas, os fitoplânctons.
Para que a profecia de Olhos de Fogo não se concretize, é
indispensável proteger o ambiente marinho e cuidadosamente gerir seus
recursos. Mares e oceanos seguros, saudáveis e produtivos são parte
integrante da segurança econômica e do desenvolvimento sustentável.
Resumo da ópera: por ignorância, as atividades humanas estão tendo um
efeito terrível e suicida sobre os oceanos e os mares do mundo.
.Rinaldo Barros é doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR – rb@opiniaopolitica.com
Barriguda News via o Santo Ofício
Matéria reproduzida com autorização
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