A Sebastião Salgado
Quem
dita estes versos é o verde
Ou a
sua ausência
A
paisagem cortada na raiz
O cinza
a tomar de conta
Braços
secos espantalhos
De
terra queimada
Migrados
os pássaros
Desviados
os cursos
Mortas
as nascentes dos rios
E a
casa dos pais, para onde foi?
A
terra, os homens, engoliram-na?
Provar
a secura do regresso:
Ninguém
volta para o mesmo lugar
Depois
de caminhar das
Estremaduras
da Ásia
À
quentura d’África,
Massacre
de Ruanda, friagem da
Patagônia,
ter enfim ciência que
o vento
ameno não balança mais
a rede
de varanda da família
Ver a
derrocada dos confins
Baldeados
os rios, azedadas as águas
O verde
dos campos só memória
Ou nas
mil fotografias de ofício
Voltar
à paisagem e topar o estirão
De
fuligem suspensa no ar
A
embaçar o olhar cravado no nada
Desejo
súbito de se insurgir contra a dor
E a
solidão dos campos, silêncio
Dos
pássaros, acinzentados espaços
Monótono
desprazer dum tempo morto
Guardado
em panos secos do passado
Como se
desgraça consumada, esquecida
Desejo
repentino de replantar uma a uma
Cada
árvore torcida, trucidada, repintar
A
eternidade do verde, nos tons da memória,
Campos
de volta à luz, ressuscitados,
Como se
plantas em rachadura de asfalto
Como se
o verde em areias do deserto
Voltar
a água, a folha, o bicho, refazer o paraíso
De pé,
de cócoras, andar de rastos, adubar
A mata,
repor a floresta que havia antes
Galhos
e galhos do emaranhado atlântico
Centenas
de mãos na terra, suor de muitos
Na
ligeireza da vontade insana ou heroica
Pra
terminar quase dez anos depois com a
Natureza
de volta ao lugar: dois milhões
E
quinhentas mil mudas verdes vingadas
Num
chão úmido, remoçado
A
embalar o sonho descomunal.
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