quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

REVISTA RADIS: ALERTA PARA O USO DO AMIANTO

Uso da fibra mineral considerada cancerígena pela OMS é alvo de duas ações no STF e pode ser proibido no Brasil, como já ocorre em 60 países
Aos 83 anos, Alcides Antônio da Silva pouco se lembra do período em que trabalhou na mina de amianto São Félix, em Bom Jesus da Serra, no sertão baiano. Mas os sete anos em que ensacou as pedras de amianto e comandou o motor que as quebrava deixaram uma marca profunda em sua saúde. Alcides foi diagnosticado com asbestose, ou “pulmão de pedra”, uma das doenças comprovadamente causadas pela exposição prolongada a essa fibra mineral. Há décadas tem dificuldade de caminhar ou de fazer qualquer atividade física, dada a perda da capacidade respiratória. A história de Alcides é a de centenas de outros trabalhadores da mina São Félix e de moradores de Bom Jesus da Serra. É também a história do próprio município, que viveu uma época de “progresso” com a exploração do mineral, sem prever a destruição que se seguiria . 
 
Esses casos vêm à tona diante da iminência do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de duas ações diretas de inconstitucionalidade que pode levar ao banimento do amianto no Brasil. Mais de 60 países já baniram o uso dessa fibra, considerada cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela International Agency for Research on Cancer (Iarc, a agência internacional de pesquisa sobre câncer). O Brasil, terceiro maior produtor mundial e quarto maior consumidor de amianto, ainda permite o uso do mineral em diversas atividades, como na fabricação de telhas, caixas d’água, canos e pastilhas de freio. Apenas cinco estados têm leis que proíbem a substância: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pernambuco. Para o setor saúde, banir é salvar vidas.
 
Doenças relacionadas
 
No Brasil, 2.123 pessoas com mais de 20 anos de idade morreram entre 2000 e 2011 por câncer relacionado ao amianto, sendo 827 por mesotelioma e 1.298 por neoplasias malignas da pleura, de acordo com uma tabulação do Ministério da Saúde em cooperação com a Universidade Federal da Bahia apresentada, pela primeira vez, na audiência pública. A essas mortes ainda se somaram 109 por placas pleurais e 156 por pneumoconiose. Uma ressalva de Franco Netto: “Existe um processo extremamente importante de subnotificação”.
 
O representante do Ministério da Saúde lembrou que o Brasil é signatário de acordos multilaterais que reconhecem o banimento de todos os tipos de amianto como a forma mais eficiente de eliminar as doenças a eles relacionadas. Sua conclusão: “O Ministério da Saúde, valendo-se de suas responsabilidades legais em defesa e promoção da saúde da população brasileira, recomenda a eliminação de qualquer forma de uso do amianto crisotila no território nacional. Recomenda, também, a adequada gestão ambiental de seus resíduos e a identificação e acompanhamento rigoroso da população a ele exposta”.
 
Diante dos representantes da indústria, que ali estavam para defender o suposto “uso seguro” do amianto crisotila, o pesquisador Hermano Albuquerque de Castro ressaltou que a Fiocruz desenvolve pesquisas e investigações “seguindo o que diz respeito à saúde pública”. Para além dos mais falados danos à saúde dos trabalhadores, o pesquisador observou que “o amianto não é um problema ocupacional estrito” e tratou dos pouco comentados riscos para a população em geral. “Os riscos ultrapassam o muro da fábrica e ganham a sociedade, quando os produtos vão para o comércio”, afirmou, mostrando que a função da saúde pública é exatamente englobar esse escopo maior — saúde do trabalhador, saúde ambiental, saúde do consumidor.
 
Foto: Carolina Niemeyer
 

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