domingo, 2 de dezembro de 2012

COMO SE TORNAR UM MILIONÁRIO !?

Em 2004, quando disputou pelo PT uma cadeira de vereador na cidade paulista de Gavião Peixoto, Paulo Veira dispunha de um patrimônio de 135 mil. Incluíam-se nessa cifra um automóvel Renault Scenic (R$ 35 mil) e um apartamento no bairro paulistano do Butantã (R$ 70 mil).
Nessa época, Paulo trabalhava na Controladoria Geral da União. Recebia R$ 6,9 mil mensais do contribuinte para perscrutar as contas da Cia. Docas de São Paulo, vinculada à pasta dos Transportes, à procura de malfeitos. De repente, o companheiro decidiu fazer a vida.
Ele se deu conta de que aquela vontade de servir à sociedade, aquele ímpeto de proteger o bem público, tudo isso era impulsionado pela única invenção humana capaz de virar a cabeça do homem –o dinheiro. Decorridos oito anos, Paulo é um milionário. E frequenta o inquérito da Operação Porto Seguro como “chefe” da quadrilha.
Os repórteres Thiago Herdy e Marcelle Ribeiro informam: Paulo agora se locomove numa Range Rover de R$ 300 mil, resigstrada em nome de uma faculdade que ele abriu em Cruzeiro (SP) . Ao apartamento de R$ 70 mil adicionaram-se ao menos mais sete imóveis. Entre eles um imóvel brasiliense adquirido por R$ 1,5 milhão em moeda sonante e um apartamento na bairro de Perdizes, na capital paulista –coisa de R$ 515 mil.
A prosperidade levou Paulo a flertar com a ideia de abandonar o serviço público. Escutado pela PF, soou assim num grampo em que dialogava com a mãe: “Eu não pretendo ficar mais no serviço público não, viu? Pretendo não, ganho muito pouco!” O pouco a que se referia era o contracheque de R$ 23,8 mil que recebe desde 2010, quando Rosemary Noronha, a Rose, convenceu Lula a nomeá-lo diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas.
Além do salário, pingava-lhe na conta um jeton de R$ 2,7 mil referente à cadeira que ocupava no conselho da Cia. Docas de São Paulo. “Para o meu padrão, para o meu patrimônio… eu já tenho um patrimônio bom que eu posso me manter”, disse Paulo na conversa com a mãe.
A PF escutaria Paulo noutro grampo impregnado de ironia. Num diálogo com o irmão Rubens Vieira, afastado da diretoria de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil, o companheiro espantou-se com a descoberta de que o ex-impoluto senador Demóstenes Torres relacionava-se com Carlinhos Cachoeira.
“Eu vou escrever minha tese de mestrado de Filosofia sobre esse caso do Demóstenes. Tava pensando aqui, vou discutir essa questão do conceito de ética, como é que a sociedade tá enfrentando isso no momento contemporâneo. Esse caso dele é simbólico demais, parece que ele criou uma dupla personalidade, né?”
Agora, Paulo dispõe de matéria prima muito mais rica. Pode incluir em sua tese de mestrado a história de um servidor que, tendo sido contratado para proteger o erário, resolveu dar azo ao lado salteador de sua personalidade, vinculando-se a personagens como o pluri-encrencado Valdemar Costa Neto. Se prestar atenção às sentenças do STF, perceberá que a sociedade começou a enfrentar tudo isso com os rigores da lei.
 

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