Em 2004, quando disputou pelo PT uma cadeira de vereador na cidade
paulista de Gavião Peixoto, Paulo Veira dispunha de um patrimônio de 135
mil. Incluíam-se nessa cifra um automóvel Renault Scenic (R$ 35 mil) e
um apartamento no bairro paulistano do Butantã (R$ 70 mil).
Nessa época, Paulo trabalhava na Controladoria Geral da União. Recebia
R$ 6,9 mil mensais do contribuinte para perscrutar as contas da Cia.
Docas de São Paulo, vinculada à pasta dos Transportes, à procura de
malfeitos. De repente, o companheiro decidiu fazer a vida.
Ele se deu conta de que aquela vontade de servir à sociedade, aquele
ímpeto de proteger o bem público, tudo isso era impulsionado pela única
invenção humana capaz de virar a cabeça do homem –o dinheiro. Decorridos
oito anos, Paulo é um milionário. E frequenta o inquérito da Operação
Porto Seguro como “chefe” da quadrilha.
Os repórteres Thiago Herdy e Marcelle Ribeiro informam:
Paulo agora se locomove numa Range Rover de R$ 300 mil, resigstrada em
nome de uma faculdade que ele abriu em Cruzeiro (SP) . Ao apartamento de
R$ 70 mil adicionaram-se ao menos mais sete imóveis. Entre eles um
imóvel brasiliense adquirido por R$ 1,5 milhão em moeda sonante e um
apartamento na bairro de Perdizes, na capital paulista –coisa de R$ 515
mil.
A prosperidade levou Paulo a flertar com a ideia de abandonar o serviço
público. Escutado pela PF, soou assim num grampo em que dialogava com a
mãe: “Eu não pretendo ficar mais no serviço público não, viu? Pretendo
não, ganho muito pouco!” O pouco a que se referia era o contracheque de
R$ 23,8 mil que recebe desde 2010, quando Rosemary Noronha, a Rose,
convenceu Lula a nomeá-lo diretor de Hidrologia da Agência Nacional de
Águas.
Além do salário, pingava-lhe na conta um jeton de R$ 2,7 mil referente à
cadeira que ocupava no conselho da Cia. Docas de São Paulo. “Para o meu
padrão, para o meu patrimônio… eu já tenho um patrimônio bom que eu
posso me manter”, disse Paulo na conversa com a mãe.
A PF escutaria Paulo noutro grampo impregnado de ironia. Num diálogo com
o irmão Rubens Vieira, afastado da diretoria de Infraestrutura da
Agência Nacional de Aviação Civil, o companheiro espantou-se com a
descoberta de que o ex-impoluto senador Demóstenes Torres relacionava-se
com Carlinhos Cachoeira.
“Eu vou escrever minha tese de mestrado de Filosofia sobre esse caso do
Demóstenes. Tava pensando aqui, vou discutir essa questão do conceito de
ética, como é que a sociedade tá enfrentando isso no momento
contemporâneo. Esse caso dele é simbólico demais, parece que ele criou
uma dupla personalidade, né?”
Agora, Paulo dispõe de matéria prima muito mais rica. Pode incluir em
sua tese de mestrado a história de um servidor que, tendo sido
contratado para proteger o erário, resolveu dar azo ao lado salteador de
sua personalidade, vinculando-se a personagens como o pluri-encrencado
Valdemar Costa Neto. Se prestar atenção às sentenças do STF, perceberá
que a sociedade começou a enfrentar tudo isso com os rigores da lei.
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