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sexta-feira, 22 de março de 2013

ELZA SOARES: “Eu me sinto maltratada. Me sinto um pouco renegada. Cadê os direitos humanos? Somos negros. Somos gays”

Não é todo dia que a história nos reserva acontecimentos deste porte. Elza Soares vinha fazendo um show emocionado no Sesc Pinheiros, na noite de quinta-feira (20 de março). Elevou a emoção em mais um grau ao cantar, rappeando, uma versão bem Elza para “Não É Sério” (2000), rock do Charlie Brown Jr., em homenagem a Chorão. Vinha ela de “o jovem no Brasil nunca é levado a sério”quando, de repente, a música virou do avesso e se transformou em algo que nem Chorão poderia supor se aqui ainda estivesse: um protesto contra o pastor evangélico e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), alçado por jogos de poder que não compreendemos à posição de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal.

“Eu me sinto maltratada. Me sinto um pouco renegada. Cadê os direitos humanos? Somos negros. Somos gays”, Elza começou, referindo-se diretamente às renitentes manifestações de cunho racista e homofóbico por parte de Feliciano, seja como pastor deputado, até mesmo no impensável cargo no qual ele deveria defender – e não atacar – direitos humanos os mais variados.

De imediato, a plateia se levantou e passou a ovacionar Elza. “Fora, racista!”, ela comandou. “Fora!”, correspondeu a plateia. “Fora!, fora!, fora!”, repetiu a cantora, rappeando, como se o rock branco de Chorão fosse o samba-rap preto de Elza Soares. Como tem acontecido em ruas de diversas brasileiras desde que Feliciano sentou no trono inadequado, os espectadores presentes deliraram em protesto contra sua permanência. E Elza esmerilhou o assunto: “Será que ele sabe que a voz que ganhou a voz do milênio pela BBC de Londres é de uma negra, chamada Elza Soares? Sou eu. Será que ele não sabe que quem trouxe a Copa do Mundo para este país foram Pelé e Garrincha, negros?”.

O que negra Elza protagonizava era um desses raros momentos em que arte e política se tornam uma coisa só, e enriquecem um ao outro, bem longe de chatear a diversão como muito gosta de afirmar e repetir um desgastado clichê da crítica cultural comercial. O público demonstrou se divertir à beça com o protesto, e vice-versa.

Barrigudanews

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